Ainda é cedo para avaliar os efeitos diretos da maior surpresa da sucessão presidencial; estrategistas terão de calcular o quanto o presidente do PTB impacta as candidaturas do PL e do PT
Por Jorge Serrão
A entrada do polêmico ex-deputado federal Roberto Jefferson na corrida presidencial é a surpresa estratégica mais importante da sucessão de 2022. O presidente do PTB tem pouca ou nenhuma chance de ser eleito. No entanto, tem tudo para produzir alguns efeitos políticos. Primeiro: pode conquistar os votos de quem não deseja Jair Bolsonaro nem Lula da Silva. Segundo: pode servir de peça ofensiva favorável a Bolsonaro, permitindo que o presidente, que busca a reeleição, não apanhe sozinho da oposição na guerra contra Lula. Além disso, o franco-atirador Bob Jeff fortalece a imagem do seu PTB, no planejamento para a eleger um número mais expressivo de deputados e senadores. O objetivo-maior é a escolha de Daniel Silveira (PTB-RJ) — peça que interessa especialmente a Bolsonaro — no Senado, para apimentar o confronto político contra alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Alexandre de Moraes, que preside o chamado Inquérito do Fim do Mundo contra o parlamentar e outros seguidores do presidente.
Roberto Jefferson também pode produzir outra confusão jornalística e política. Oficializada sua candidatura, com chances de pontuar nas pesquisas de intenção de voto, ele se credencia a participar dos debates em tevê, rádio e internet. Nesse caso, ele pode servir de desculpa (ops, fator) para que alguns candidatos desistam de comparecer ao evento. Bob Jeff é um risco para a presença de Lula. Até porque o candidato do PT será alvo previsível dele e do candidato do PDT, Ciro Gomes. Um confronto direto, no estilo verbal truculento de Jefferson e Ciro, não interessa ao petista — que pode arrumar uma boa desculpa para fugir da cena. O presidente Bolsonaro também não tem interesse tático nos debates de primeiro turno, uma vez que é o candidato a ser batido, embora Lula seja propagandeado como o “líder nas pesquisas”.
Até sexta-feira (5 de agosto), os partidos têm a data-limite para definir quem realmente será candidato ao Palácio do Planalto. Além de Jefferson, cuja candidatura-surpresa será confirmada pelo PTB, outro nome conhecido é tentado a ingressar na disputa presidencial. O paranaense Álvaro Dias já recebeu indicações no seu partido, o Podemos, para entrar no jogo, em vez de disputar uma arriscada reeleição ao Senado. Dias sabe que não será fácil a concorrência contra Sergio Moro (União Brasil-PR), um ex-aliado e amigo. Mais difícil ainda será enfrentar Paulo Eduardo Martins (PL-PR) — que tem o apoio do presidente Bolsonaro e, tudo indica, do governador Ratinho Júnior (PSD) —, atrás da própria reeleição. Calculando, cuidadosamente, os riscos e oportunidades, Álvaro Dias define o destino político no limite do prazo. Pode fechar uma aliança com o União Brasil para disputar o Planalto… A conferir.
Legendas, federações e coligações partidárias têm até 15 de agosto para solicitar o registro de candidatura dos escolhidos. Até lá, muita traição e surpresa. Mas a burocracia não termina. Todos os pedidos de registro aos cargos de presidente e vice-presidente devem ser julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral até 12 de setembro. Impugnações pela Justiça Eleitoral também podem causar surpresas desagradáveis. Até isso acontecer, a realização de comícios, distribuição de material gráfico, caminhadas ou propagandas na internet passam a ser permitidas a partir do dia 16 de agosto. Assim, até a “dedada” derradeira na urna eletrônica, no dia 2 de outubro, tudo pode acontecer. No caso da sucessão presidencial, o pleito pode apenas ser decidido no segundo turno, previsto para 30 de outubro. No terço final da campanha, tem o 7 de setembro…
Será necessário bastante cálculo estratégico para avaliar, realmente, se (e o quanto) a candidatura presidencial de Roberto Jefferson beneficia ou prejudica os favoritos Bolsonaro e Lula, na previsível polarização entre a “direita conservadora” e a “esquerda que se proclama progressista”. Bob Jeff tem discurso na mesma linha ideológica do presidente Bolsonaro. É inimigo fidagal e figadal do ex-presidente Lula. As adesões à candidatura presidencial do PTB vão medir os níveis reais de apoio aos nomes de Bolsonaro e Lula. Uma possibilidade — que ainda não representa uma tendência — é que Bob Jeff consiga capturar uma fatia de eleitorado — principalmente de classe média — que esteja insatisfeita com o presidente e o ex. Pelo menos as “pesquisas” divulgadas ao público não revelam a dimensão verdadeira dessa bronca. A aventura do PTB vai depender do tamanho do desgaste de imagem de Jefferson — que foi “vilão” condenado no Mensalão, mas que virou “herói” conservador depois da perseguição suprema imposta por Alexandre de Moraes. O desgaste gerado pela postura absolutista de membros do STF (a tal “juristocracia”) é uma arma comum de campanha de Bolsonaro e Jefferson. Haja emoção…
Jovem Pan
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