Shinzo Abe, que morreu após ser vítima de um atentado a tiros nesta sexta-feira (8), foi um líder nacionalista de terceira geração. De 2012 a 2020, ele procurou reaquecer a economia estagnada do Japão e restaurar parte do militarismo e do orgulho do país.
Durante seus dois mandatos, o primeiro-ministro conservador de 67 anos enfrentou forte oposição por sua pressão por um Exército mais poderoso e por sua tentativa de revisar uma cláusula pacifista da Constituição do país que havia sido imposta pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Ele deixou o cargo em 2020 após o ressurgimento de uma doença crônica, a colite ulcerativa.
Neto de um primeiro-ministro que foi acusado, mas nunca julgado, por crimes de guerra, Abe foi eleito pela primeira vez para liderar o país em 2006, defendendo uma postura militarista que deixasse os remorsos do passado imperialista do Japão para trás. Ele ficou apenas um ano no cargo.
Em 2012, voltou ao Gabinete com uma política mais pragmática. No início de seu mandato, concentrou esforços em tirar o Japão de uma estagnação econômica de décadas. O otimismo trazido pela “Abenomics”, como ficaram conhecidas as iniciativas para reformar a economia do Japão, lhe rendeu altos índices de aprovação e destaque internacional naqueles primeiros anos.
Em paralelo, Abe também continuou a ir atrás de suas ambições de erguer as Forças Armadas do Japão. Em 2015, grandes protestos públicos eclodiram e políticos da oposição criticaram Abe quando ele levou adiante um projeto de lei que autorizava as tropas do país a participarem de missões de combate no exterior para lutar ao lado de aliados. A alteração legislativa militar contrariava décadas nas quais o Japão manteve apenas uma força de reserva para autodefesa.
Abe, contudo, acabou não conseguindo realizar seu sonho de longa data de revisar uma cláusula da Constituição que renuncia à guerra e faz do Japão um país pacifista. A Constituição também foi fortemente contestada por seu avô materno, Nobusuke Kishi, que foi acusado de crimes de guerra pelos americanos, libertado sem julgamento e mais tarde serviu como primeiro-ministro de 1957 a 1960.
Primeiro primeiro-ministro do Japão a nascer depois da Segunda Guerra Mundial, Abe também irritou os países asiáticos vizinhos ao resistir aos pedidos para que o Japão se desculpasse por suas atrocidades naquele conflito. Em um discurso que marcou o 70º aniversário do fim da guerra, ele disse que as futuras gerações do país não deveriam estar “predestinadas a pedir desculpas”.
Abe foi eleito pela primeira vez para o Parlamento em 1993, para o lugar deixado pela morte de seu pai, um ex-ministro das Relações Exteriores e líder influente do Partido Liberal Democrata. Ele foi nomeado vice-secretário-chefe do partido em 2000 e viajou para a capital da Coreia do Norte, Pyongyang, com o então primeiro-ministro Junichiro Koizumi para negociar a libertação de cidadãos japoneses sequestrados.
Como primeiro-ministro, ele levou seu partido a mais duas vitórias nas eleições nacionais. Ainda assim, foi prejudicado por escândalos de tráfico de influência e enfrentou críticas pela falta de avanços em seus objetivos declarados de melhorar a qualidade de trabalho e de vida para as mulheres.
Em seus últimos meses como primeiro-ministro, Abe viu sua popularidade cair e seu governo enfrentar críticas pelo que muitos consideraram sua resposta precoce inadequada para conter a pandemia de coronavírus. Ele estabeleceu o recorde de primeiro-ministro mais longevo do país apenas quatro dias antes de renunciar.
O Sul
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