domingo, 10 de julho de 2022

Impulsionada pela alta no preço dos alimentos, inflação no Brasil acelera em junho e passa de 11% em 12 meses

 


A inflação chegou a 0,67% em junho, após a variação de 0,47% registrada no mês anterior. A alta foi influenciada principalmente pelo aumento de 0,80% no grupo de alimentação e bebidas, que tem grande peso no índice geral (21,26%). No ano, a inflação acumulada é de 5,49% e, nos últimos 12 meses, de 11,89%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta sexta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

“O resultado foi influenciado pelo aumento nos preços dos alimentos para consumo fora do domicílio (1,26%), com destaque para a refeição (0,95%) e o lanche (2,21%). Nos últimos meses, esses itens não acompanharam a alta de alimentos nos domicílios, como a cenoura e o tomate, e ficaram estáveis. Assim como outros serviços que tiveram a demanda reprimida na pandemia, há também uma retomada na busca pela refeição fora de casa. Isso é refletido nos preços”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

O pesquisador também destaca outro fator que influenciou o resultado do índice em junho: o aumento no plano de saúde (2,99%). “Em maio, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) autorizou o reajuste de até 15,50% nos planos individuais, com vigência a partir de maio e o ciclo se encerrando em abril de 2023. No IPCA, houve, em junho, a apropriação das frações mensais de maio e junho, o que impactou bastante esse resultado”, pontua. O plano de saúde foi o maior impacto individual no índice do mês (0,10 p.p.) e impulsionou a alta de 1,24% no grupo de saúde e cuidados pessoais.

Em alimentação e bebidas, outros itens que tiveram alta de preço foram o leite longa vida (10,72%) e o feijão-carioca (9,74%). Com isso, os alimentos para consumo no domicílio subiram 0,63%. Mas também houve queda em itens importantes desse grupo, como a cenoura, cujos preços já haviam caído em maio (-24,07%) e continuaram recuando em junho (-23,36%). Entre os outros itens essenciais na mesa do brasileiro que tiveram redução estão a cebola (-7,06%), a batata-inglesa (-3,47%) e o tomate (-2,70%).

“Há dois fatores que influenciam a queda desses alimentos. O primeiro é o componente sazonal: nos três primeiros meses do ano, ainda é verão e há chuva. Isso pode prejudicar a produção e, como consequência, há o aumento dos preços. A partir de abril e maio, o clima começa a ficar seco e isso melhora a produção, a oferta aumenta e os preços caem. Outro ponto é que esses alimentos tiveram um grande aumento de preços nos primeiros meses do ano e, com a base de comparação alta, é normal que eles recuem”, diz Kislanov, que também destaca a atuação do próprio consumidor na queda do valor dos alimentos, ao substituir um produto por outro. “Nesse caso, o varejista é forçado a diminuir os preços”, completa.

Em transportes, grupo de maior peso no índice geral, a alta foi de 0,57%, uma desaceleração frente ao mês anterior (1,34%). Em junho, o resultado foi impactado pela queda de 1,20% nos combustíveis. Os preços da gasolina, item de maior peso individual no IPCA, caíram 0,72%, enquanto os do etanol recuaram 6,41% e os do óleo diesel subiram 3,82%. Mas a maior variação (11,32%) e o maior impacto positivo (0,06 p.p) do grupo vieram das passagens aéreas, que acumulam alta de 122,40%, em 12 meses.

“Ainda houve reajustes nas tarifas de ônibus urbano e ônibus intermunicipais em alguns locais, como Salvador e Aracaju”, ressalta Kislanov. Com isso, o ônibus urbano teve alta de 0,72%.

Já em vestuário, que teve a maior variação entre os grupos pesquisados pelo IPCA (1,67%), os destaques foram as roupas masculinas (2,19%) e femininas (2,00%). Os preços das roupas infantis (1,49%) e dos calçados e acessórios (1,21%) também subiram em junho. “Esse grupo tem registrado alta mês após mês. Uma das explicações é o aumento de preços das matérias-primas, principalmente do algodão. Há também a influência indireta de outros fatores, como a alta dos combustíveis”, diz o pesquisador.

No caso do grupo habitação, a inflação de 0,41% é explicada pelos reajustes da taxa de água e esgoto (2,17%) em algumas regiões do país, como Belém, São Paulo, Campo Grande e Curitiba. Do lado negativo, a energia elétrica recuou 1,07%, após ter tido queda de 7,95% em maio. Desde abril, está em vigor a bandeira tarifária verde, em que não há cobrança adicional de luz.

O gerente da pesquisa faz um balanço da inflação no primeiro semestre de 2022. “No primeiro trimestre do ano, o destaque foi a alta dos produtos alimentícios, como a cenoura. Em março e abril, houve o aumento nos preços da gasolina e também dos produtos farmacêuticos. Nesse segundo trimestre, observamos a redução do patamar do índice geral, que estava acima de 1% e, em maio, foi para 0,47% e em junho, para 0,67%”, avalia Kislanov.

O Sul

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