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sábado, 30 de julho de 2022

"Aparência de crianças", diz PM que ajudou a resgatar jovens de 19 e 22 anos mantidos presos em casa

 Agente disse acreditar que vítimas, proibidas de sair por 17 anos, não tiveram desenvolvimento adequado devido à desnutrição

Mãe e dois filhos ficavam em local sem comida nem higiene; vizinho se comunicava por buraco no portão 

O capitão da PM que ajudou a resgatar uma mãe e dois filhos mantidos por 17 anos em cárcere privado descreveu como estarrecedor o cenário dentro da casa, em Guaratiba, zona oeste do Rio, onde as vítimas ficavam sem comida em um ambiente sem higiene.

Em entrevista à Record TV Rio, o policial Willian Oliveira disse ter achado inicialmente que os jovens de 19 e 22 anos aprisionados pelo próprio pai eram crianças devido à sua aparência, provavelmente por falta de desenvolvimento adequado.

"Naquele cenário, não tive dúvida de que eram crianças. No momento em que cheguei, o menino estava muito agitado. Ele tinha uma deficiência intelectual, a menina também. E ele estava no colo dela. Pensei que eram duas crianças. Quando a gente achou o registro e viu a idade, a gente não acreditou. O menino tinha 19, e a menina, 22. Acredito que, até pela subnutrição, não tiveram um desenvolvimento adequado e, realmente, a aparência era de crianças", disse.

O policial militar relatou ainda que sua primeira atitude foi oferecer água e comida à mulher, que apresentava uma postura receosa.

"Diante disso, ela olhou para mim com uma reação assustada e disse que ele não deixava as crianças comer. E aí eu falei para ela que aquela situação tinha acabado e que, se ela tivesse qualquer coisa para dar às crianças, poderia dar. Ela falou que o vizinho tinha dado pão, mas que não poderia dar para as crianças. Mesmo com o indivíduo preso, ele permanecia na mente dela, exercendo aquele trauma, aquela violência psicológica. Um cenário estarrecedor", afirmou.

Willian disse também que todos os agentes envolvidos no resgate ficaram impactados com a situação em que a família vivia, em especial devido ao tempo que foi mantida na casa, escura, úmida e muito suja.

O PM comentou também a satisfação de ver as vítimas, que estão internadas com desidratação e desnutrição grave, recebendo todos os cuidados clínicos necessários no hospital.

"Fantástico, a gente percebe ali pelo sorriso dela. O rapaz também estava de banho tomado, cabelo penteado. Isso é gratificante, transformador e faz com que a gente siga em frente na nossa profissão, que é tão árdua", afirmou.

Vizinhos contam que agressor colocava som alto e mantinha filhos amarrados

A vizinhança ficou chocada com a revelação do caso na quinta-feira (28). De acordo com alguns relatos, o agressor, que foi preso, era conhecido por manter o som alto dentro de casa o dia inteiro, supostamente para abafar qualquer pedido de socorro.

Há 20 anos morador da região, um homem que se identificou como Alberto disse que nunca imaginou o que acontecia dentro da casa: "O portão era aberto raramente. Nem sabia que ele tinha família. Para mim, ele morava só".

Outro vizinho, que se identificou como Sebastião, foi o responsável por ajudar a família. Ele disse que se comunicava com a mãe por um buraco no portão e que levou pão para os filhos, mas o agressor jogou o alimento fora.

De acordo com Sebastião, as vítimas ficavam amarradas e sem comida. Ele disse que tentava ajuda havia dois anos para resgatar a família e buscou uma clínica da família da região.

A direção da Clínica da Família Alkindar Soares Pereira Filho disse ter notificado a suspeita em 2020 ao Conselho Tutelar da região, que informou, na ocasião, ter levado a denúncia ao Ministério Público e à Vara da Infância.

A unidade afirmou que não tem poder de polícia para agir além do encaminhamento legal e que várias tentativas foram feitas pelos profissionais da unidade de acompanhar a família e levar assistência de saúde a esse domicílio, mas o morador não permitiu a entrada da equipe de saúde no imóvel.

Já o Conselho Tutelar de Guaratiba declarou que acompanhava o caso havia dois anos e que tinha registrado boletim de ocorrência na 43ª DP (Guaratiba), além de ter comunicado o fato à Vara da Infância e da Juventude. 

O MP-RJ (Ministério Público do Rio) disse não ter sido informado de que a violência não havia sido interrompida. A promotoria acrescentou que a atuação do Conselho Tutelar e da rede de proteção está sendo apurada. 

A Delegacia de Atendimento à Mulher de Campo Grande afirmou que o caso foi apresentado por policiais militares e que o autor foi autuado em flagrante pelos crimes de tortura, cárcere privado e maus-tratos. A investigação está em andamento.

R7 e Correio do Povo

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