Jinping disse a Biden para “não brincar com fogo” em relação a Taiwan
Na linguagem popular se poderia dizer que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, “levou um pito” de seu colega chinês Xi Jinping na conversa remota que mantiveram nesta quinta-feira. No ambiente das relações internacionais soou como uma séria advertência quando Jinping disse a Biden para “não brincar com fogo”. O fogo é Taiwan, a ilha que se considera independente, mas Pequim a vê como uma província rebelde. A faísca que poderia acender o pavio seria a ida a Taiwan da presidente do Congresso americano, a deputada democrata Nancy Pelosi.
A separação de Taiwan da China continental se deu em 1949, quando Mao Tsé-Tung, à frente de tropas comunistas, invadiu o país e derrubou o regime nacionalista capitalista liderado por Chiang Kai-shek. Este se refugiou em Taiwan, mantendo ali um regime capitalista, sob a proteção dos Estados Unidos. Taiwan sempre buscou se tornar um país independente, mas suas pretensões se esvaíram em janeiro de 1972, quando, em ações costuradas pelo então secretário de Estado americano Henry Kissinger, EUA e China se reaproximaram. O que se deu com a ida a Pequim do então presidente Richard Nixon encontrando-se com Mao Tsé-Tung. O fato foi marcante. O encontro entre eles há 60 anos restabeleceu as relações bilaterais entre a China e os Estados Unidos depois de mais de duas décadas de distanciamento. A visita oficial deu início à “semana que mudou o mundo” – frase ecoada no mundo político até os dias de hoje –, redefinindo a rota geopolítica e econômica mundial, em um contexto da Guerra Fria e com consequências no desenvolvimento chinês e global.
Apesar da euforia da ocasião, as diferenças entre comunismo e capitalismo não permitiram uma maior aproximação entre Pequim e Washington. Os Estados Unidos nunca deixaram de tutelar Taiwan, onde vigorava, e ainda vigora, o regime com o qual se identificaram. Em dezembro de 1954, EUA e Taiwan chegaram a assinar um tratado de defesa mútua. Mas este foi rompido em janeiro de 1980, depois do restabelecimento pleno de relações diplomáticas entre China e EUA no ano anterior. Os americanos, porém, nunca deixaram de apoiar as pretensões independentistas da ilha. Em muitas ocasiões acenaram até com apoio militar. Especialmente, em caso de invasão por Pequim.
Em maio, durante encontro com o premiê japonês, Fumio Kishida, Biden admitiu que os EUA defenderiam Taiwan em caso de invasão. Ato falho do presidente. Em seguida, assessores na Casa Branca tiveram que ir a campo para dizer que “a política dos EUA sobre Taiwan não mudou”. “Ele reiterou nossa política de ‘Uma só China’, e nosso compromisso com a paz e a estabilidade em todo o Estreito de Taiwan. Também reiterou nosso compromisso com a Lei de Relações de Taiwan, para fornecer a Taiwan os meios militares para se defender”. Ou seja, fornecer meios, mas não se envolver diretamente. Esta posição ambígua deu maior força a Pequim para rejeitar até a presença de uma alta autoridade americana em Taiwan, no caso Nancy Pelosi.
O futuro, logicamente, é incerto, no entanto as constantes manobras militares chinesas em torno da ilha dão a ideia de que um dia Jinping vai fazer o mesmo com Taiwan que o presidente russo, Vladimir Putin, está fazendo com a Ucrânia.
Correio do Povo
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