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quinta-feira, 30 de junho de 2022

Golpes por meio eletrônico no Brasil crescem mais de 74% em um ano: roubos pelo Pix impulsionam alta

 


Os crimes de estelionato dispararam no Brasil ao longo do último ano. Conforme dados reunidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram notificados 1.265.073 casos em 2021, alta de 36% na comparação com as 927.898 ocorrências do ano anterior.

Quando é feito o recorte de golpes contabilizados especificamente por meios eletrônicos, o aumento é ainda maior: de 74,5%. O número de ocorrências do tipo passou de 34.713 para 60.519. Em 2019, último ano pré-pandemia, haviam sido 14.677 casos.

Com a popularização do Pix, ferramenta de pagamento instantâneo do Banco Central, e a maior adesão dos clientes a soluções digitais, os roubos e furtos de celular também subiram. Foram de 825.923, em 2020, para 847.313 no último ano, permitindo com que quadrilhas especializadas multipliquem o prejuízo das vítimas com o aparelho em mãos.

Diretor-presidente do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima destacou que, quando se faz o recorte de 2018 a 2021, o aumento dos crimes de estelionato foi de quase 200%. “O crescimento é muito grande e reforça a ideia de que o Brasil vive um cenário de medo e insegurança extremos”, disse. Isso porque, explicou, o aumento da sensação de insegurança não está relacionado somente a crimes que envolvem morte – os homicídios inclusive tiveram queda em 2021. “É também medo de sair de casa e perder tudo”.

“A gente só tem uma queda – importante, mas pequena – do total de mortes, mas quando se faz o retrato completo da situação, os problemas não são pequenos. Tem crescimento de estelionato, de furtos e roubos etc”, complementou o sociólogo sobre os dados.

Lima relembrou que, até o fim de 2020, o celular roubado tinha um prejuízo inerente ao aparelho, um valor estático. Com o avanço da tecnologia e a implementação do Pix, o sociólogo explicou que o celular passou a ser um lugar onde “toda a vida das pessoas está nele”. Os criminosos, então, agora se aproveitam disso e multiplicam os prejuízos das vítimas com a invasão dos aparelhos.

A alta do estelionato, nesse cenário, estaria diretamente associada à nova dinâmica do Pix. “Continua tendo o valor inerente do celular, mas tem muito a ver com os golpes cibernéticos, do WhatsApp…”, disse o diretor-presidente do Fórum. “São golpes que foram se modernizando de acordo com as novas tecnologias, até porque elas avançaram, e as pessoas começaram a ser vítimas disso. Na essência, são golpes muito antigos repaginados pelo uso da tecnologia.”

E, apesar do avanço dos golpes virtuais, essa é uma modalidade ainda especialmente subnotificada, uma vez que não há padronização para registro das ocorrências. Ele citou que mesmo os roubos e furtos que são precedidos de desvios de dinheiro feitos por Pix, por exemplo, por vezes são tipificados como estelionato, o que cria imprecisão. “Vários Estados reconheceram a dificuldade de notificar.”

Outro ponto levantado pelo especialista é que as estruturas policiais dos Estados ainda não estão capacitadas para investigar o volume – e da variedade – de golpes. Ao mesmo tempo, ele reforçou que o sistema financeiro também não forneceu respostas suficientes para tornar as soluções suficientemente seguras para os usuários.

“Deveria haver um algoritmo mais aguçado para detectar movimentações estranhas e mais camadas de confirmação de movimentações”, defendeu o sociólogo, que também cobrou maior fiscalização de contas-laranja.

Enquanto essas frentes não avançam, Lima destacou que os golpes de estelionato têm se mostrado uma área fértil inclusive para o crime organizado, que tem feito movimentos de aproximação de quadrilhas especializadas em aplicar golpes ou mesmo desenvolvido braços para isso. Os altos lucros obtidos por quadrilhas que fazem roubos por meio do Pix atraíram a atenção do Primeiro Comando da Capital, conforme investigação da Polícia Civil de São Paulo.


O Sul

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