Combates se intensificaram nas regiões de Luhansk e Donetsk
As autoridades ucranianas expressaram, neste sábado, sua confiança em derrotar ainda este ano as tropas russas, que enfrentam uma dura resistência no leste do país. Além disso, a Rússia se vê desafiada pela decisão de Finlândia e Suécia de abandonar sua política tradicional de neutralidade e aderir à Otan, ignorando suas advertências.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a adesão da Finlândia, em particular, "seria um erro, já que não existe nenhuma ameaça para a segurança" deste país, que compartilha com a Rússia uma fronteira de 1.300 km.
Nas últimas semanas, a Rússia concentrou sua ofensiva no leste da Ucrânia, depois de se ver forçada a retirar suas tropas da região de Kiev e do norte do país. Os combates se intensificaram nas regiões de Luhansk e Donetsk, na bacia de mineração do Donbass (leste), parcialmente controlada desde 2014 por separatistas pró-Rússia.
O Estado-Maior ucraniano afirmou que impediu dez ataques contra as duas regiões nas últimas 24 horas. Segundo um responsável do Departamento de Defesa americano, que pediu o anonimato, as tropas russas não estão obtendo "conquistas significativas". "A artilharia ucraniana contra-ataca os esforços russos para ganhar território", acrescentou.
O chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, prevê, inclusive, uma derrota das tropas russas. A vitória ucraniana "não será fácil", mas haverá "um ponto de inflexão em agosto" e estará "concluída antes do fim do ano", disse Budanov à emissora britânica Sky News.
Conversa 'sem rodeios' de Niinistö e Putin
Putin ordenou a invasão da Ucrânia para derrubar o governo de Kiev, que ele define como "neonazista", e impedir uma eventual ampliação da Otan para o leste. No entanto, a operação militar desencadeou temores em outros países e levou Finlândia e Suécia, duas nações historicamente neutras, a propor sua adesão à aliança militar transatlântica liderada pelos Estados Unidos.
Os ministros das Relações Exteriores dos países da Otan discutem neste sábado o tema em Berlim, um dia antes de a Finlândia oficializar a sua candidatura. O presidente finlandês, Sauli Niinistö, informou suas intenções por telefone a Putin. "A conversa foi direta e sem rodeios e ocorreu sem problemas. Evitar as tensões foi considerado algo importante", afirmou Ninistö.
Na quinta-feira, a Rússia ameaçou responder com medidas "técnico-militares", sem detalhar quais, contra os dois países nórdicos. Já na sexta, a Rússia anunciou a suspensão do fornecimento de eletricidade à Finlândia, que supõe cerca de 10% do consumo do país nórdico, alegando falta de pagamento.
Situação difícil no front oriental
O Ministério da Defesa ucraniano contabilizou 30 bombardeios em 24 horas na região de Luhansk e assinalou que a situação era difícil "ao longo de toda a linha de frente" em Donetsk. As tropas russas tentam há três semanas cruzar o rio Donets que corre ao norte da vila de Bilogorivka, perto de Severodonetsk.
No vilarejo, quase deserto, vários edifícios continuam queimando e nas estradas é possível ver uma grande quantidade de material militar abandonado. Segundo os correspondentes da AFP, é possível ouvir disparos de artilharia nas imediações.
Desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro, milhares de pessoas morreram e cerca de 14 milhões (em um país de 37 milhões de habitantes) tiveram que abandonar suas casas. Destes, pouco mais de 6 milhões fugiram para o exterior, principalmente pela fronteira com a Polônia, um país-membro da Otan e da União Europeia (UE).
Contraofensiva na região de Kharkiv
As vitórias russas desde o início da invasão se limitam à cidade de Kherson, no sul, e à conquista quase total de Mariupol (sudeste), às margens do Mar de Azov. No nordeste, as tropas ucranianas garantem que estão recuperando terreno em torno de Kharkiv, a segunda maior cidade do país.
"A libertação progressiva da região de Kharkiv demonstra que não deixaremos ninguém nas mãos do inimigo", disse na sexta-feira o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Kiev afirma ter lançado uma "contraofensiva" na região de Izyum (a sudeste de Kharkiv), uma localidade da qual "o inimigo está se retirando".
"As nossas forças armadas estão fazendo o inimigo retroceder e as pessoas estão começando a voltar para seus lares", disse o governador da província, Oleg Synegubov. A situação é mais complexa em Mariupol, onde cerca de mil combatentes resistem nos túneis da siderúrgica Azovstal.
Dependência energética
A União Europeia (UE) anunciou ontem um novo pacote de assistência militar de 500 milhões de euros para Kiev, o que eleva o total entregue para 2 bilhões de euros. Contudo, os 27 países-membros do bloco não conseguem chegar a um acordo para cortar a importação de petróleo russo. A Hungria, em particular, pede mais garantias por causa de sua alta dependência de hidrocarbonetos russos.
A questão energética foi discutida também durante uma reunião de três dias dos ministros das Relações Exteriores do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido).
Em um comunicado, o G7 manifestou sua vontade de "acelerar os esforços" para "pôr fim à dependência de energia da Rússia". O G7 também assegurou que "não reconhecerá nunca" as fronteiras que a Rússia quer impor na Ucrânia e instou Belarus, país aliado de Moscou, a "deixar de facilitar a intervenção da Rússia".
AFP e Correio do Povo
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