Em agosto do ano passado, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, convidou as Forças Armadas para participar da Comissão de Transparência criada na Corte após o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição e segundo colocado nas pesquisas, fazer uma série de ataques infundados às urnas eletrônicas. Na ocasião, Bolsonaro chegou a elogiar a iniciativa dizendo que, “com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico”.
Inicialmente, Barroso havia convidado um almirante da Marinha especialista em tecnologia da informação para compor a comissão. Mas o Ministério da Defesa, ao qual as Forças estão subordinadas, indicou um nome de sua preferência: o do general de divisão Heber Garcia Portella. Chefe do Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) do Exército desde 22 de março de 2021, Portella foi responsável por enviar, no início do ano, uma série de questionamentos à área técnica do TSE sobre a segurança das urnas eletrônicas.
O episódio está na origem do recente embate entre o Ministério da Defesa e o ministro Barroso, que disse em um evento internacional que as Forças Armadas parecem estar sendo “orientadas” a atacar o processo eleitoral. Em resposta, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, classificou a fala como uma “ofensa grave” à instituição.
Antes de assumir o Comando de Defesa Cibernética e de passar a integrar a Comissão de Transparência do TSE, Portella esteve à frente do Comando Militar do Nordeste, sediado em Recife (PE). Também já exerceu o cargo de comandante do 28º Batalhão de Infantaria Leve em Campinas, no interior de São Paulo. No passado, foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras e da Academia de Guerra do Exército Chileno.
As perguntas sobre as urnas feitas ao TSE pelo representante das Forças Armadas inicialmente foram encaradas como corriqueiras. O que preocupou foi quando Bolsonaro, durante uma live, disse que o Exército havia identificado “dezenas de vulnerabilidades” nas urnas. Essa informação, além de ser imprecisa, estava restrita aos membros da Comissão de Transparência, e sua divulgação numa live foi considerada imprópria por pessoas ligadas ao grupo.
Desde então, apoiadores de Bolsonaro vêm disseminando em grupos do Telegram mensagens sobre as supostas fragilidades encontradas pelos militares nos sistemas do TSE, o que indica que essa será uma das trincheiras da guerra de narrativas sobre o processo eleitoral deste ano. Uma das mensagens que circulam nos grupos bolsonaristas diz que o TSE tentou usar os militares para legitimar as eleições, mas “acabou em um beco sem saída, pois, querendo ou não, tem que aceitar os questionamentos das FFAA (Forças Armadas)”.
O Sul
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