O mercado de gás natural no Brasil ganhou novo impulso com a recente aprovação do marco regulatório do setor e a venda de ativos da Petrobras. Os efeitos ainda são tímidos, mas o governo espera, em dez anos, dobrar a produção, que já foi recorde no ano passado: 134 milhões de m3 diários, alta de 5% frente a 2020.
Além disso, a perspectiva é de que a abertura do mercado atraia investimentos que podem alcançar centenas de bilhões de reais. Pesa também o apelo da segurança energética. Com a guerra na Ucrânia, os preços de combustíveis dispararam, e com o gás não foi diferente. O conflito, que compromete o abastecimento da Europa, reforça o investimento na produção, distribuição e armazenamento por aqui.
Se há um ano o mercado estava limitado à Petrobras, que era dona de toda a infraestrutura do setor, o cenário agora é de maior dinamismo. A vice-presidente de Novas Cadeias de Valor da Equinor, Claudia Brun, observa que já existem mais nove fornecedores de gás, que atendem a 15% da demanda de distribuidoras no país com preços distintos: “Pode ser visto como algo modesto, mas é uma sinalização importante para o mercado, pois confirma que o modelo funciona e que, com diversidade de agentes, teremos maior competição e liquidez para os negócios de gás no Brasil”.
Campos maduros à venda
O diretor do Departamento de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia (MME), Aldo Barroso Cores Júnior, vê uma resposta ao marco regulatório, aprovado em 2021, que dá segurança jurídica aos investimentos. Novas empresas, estrangeiras e nacionais, entraram no mercado ao comprar campos maduros de óleo e gás da Petrobras, que tem vendido ativos para focar no pré-sal.
“A Petrobras, ao desinvestir em campos de menor potencial, que representam volumes pequenos para ela, faz enorme diferença para outras empresas”, diz ele.
A brasileira Origem Energia adquiriu o Polo Alagoas da estatal no início de 2022 e planeja transformá-lo no principal hub energético do Nordeste em cinco anos. Além dos US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) gastos na aquisição, a empresa deve investir mais US$ 300 milhões em projetos de armazenamento e interiorização do gás natural.
” Temos muitos investimentos programados porque já multiplicamos por 2,5 vezes a produção frente ao que recebemos da Petrobras”, afirma o CEO da companhia, Luiz Felipe Coutinho.
Nos planos da empresa está a construção de um parque termelétrico robusto, com usinas movidas a gás. Para Coutinho, a localização entre os maiores mercados consumidores do Nordeste traz benefícios logísticos ao polo e permite escoar o gás para todo o país.
Essa ligação dos polos do Nordeste também está no radar da TAG (Transportadora Associada de Gás), rede de gasodutos que foi da Petrobras e, desde 2020, é comandada por Engie e CDPQ. Ovídio Quintana, diretor Comercial e Regulatório da TAG, conta que a empresa mantém tratativas junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP) para acelerar novas conexões de agentes à malha de transporte de gás, com foco no terminal de regaseificação em Sergipe:
“O projeto vai além, visando à conexão desse terminal, assim como futura ligação com a Bacia Sergipe-Alagoas, cujas reservas offshore (em alto-mar) têm grande potencial econômico no Nordeste.”
A TAG pretende investir cerca de R$ 2 bilhões entre 2022 e 2026, com foco na manutenção e na integridade da malha de gasodutos e novas oportunidades de expansão. Mas, para a empresa, é preciso avançar em outras etapas da regulação. Na cadeia de gás, além do marco nacional, há normas estaduais que precisam ser editadas. A avaliação é que isso otimizaria a coordenação do segmento e, com a integração com o setor elétrico, melhoraria o ambiente de negócios.
O Sul
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