Com risco de desabastecimento de diesel e os consequentes impactos na economia, o governo federal já estuda um um plano para racionamento emergencial do combustível. A ideia surgiu após reunião de conselheiros da Petrobras para debater o assunto. O Palácio do Planalto teria inclusive recebido comunicado interno da estatal indicando que o mercado global do produto pode ficar ainda mais pressionado nos próximos meses.
Entre os itens indicados pelo conselho, estão o aumento sazonal da demanda mundial no segundo semestre, a menor disponibilidade de exportações russas pelo prolongamento de sanções econômicas àquele país e eventuais déficits produtivos em refinarias nos Estados Unidos e Caribe, com a temporada de furacões de junho a novembro.
Caso o governo adote o racionamento de diesel, a estratégia seria separar serviços essenciais, como ambulâncias e transporte de grãos, que teriam prioridade no abastecimento. E o segundo semestre terá paradas técnicas para a manutenção das refinarias brasileiras e a temporada de furacões que pode interromper o funcionamento de refinarias dos Estados Unidos e Caribe.
Já os principais agentes desse mercado não conseguem enxergar um possível plano de racionamento, por exemplo, pois todas as atividades com diesel são essenciais. Basicamente, o mercado do combustível é dividido em três fatias: a maior vai para os caminhões, a segunda para ônibus e a menor para outros fins, como geradores de energia em hospitais.
“Se os produtores nacionais informarem imediatamente quanto vão conseguir entregar por polo de abastecimento até dezembro, eu não tenho dúvidas que as distribuidoras vão conseguir se programar”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araujo.
Ele prevê, ainda, uma disparada do preço no segundo semestre porque os exportadores devem dar preferência ao hemisfério norte, em rotas conhecidas e de maior rentabilidade: “Independentemente do preço que a Petrobras venha a praticar, as distribuidoras correrão atrás mas precisam de previsibilidade. Se deixar pra última hora não conseguirão, pois a demanda é maior que a oferta”.
Estoque para 38 dias
Na sexta-feira (27), o Ministério de Minas e Energia informou: “Se as importações desse combustível fossem cessadas hoje, os estoques, em conjunto com a produção nacional, seriam suficientes para suprir o país por 38 dias”, diz a nota da pasta.
O volume representa um aumento de 26,7% desde o último monitoramento oficial, que projetou 30 dias de auto-suficiência. Ainda de acordo com o órgão federal, o combustível apresenta um nível de dependência externa que gira em 30%.
Presidente da Petrobras, José Mauro Coelho enviou um ofício à Agência Nacional do Petróleo (ANP) alertando sobre o “elevado risco de desabastecimento de diesel no mercado brasileiro no segundo semestre de 2022”. A decisão de comunicar oficialmente o governo foi tomada em reunião do Conselho de Administração da estatal na última terça-feira (25), após um longo debate.
“Destaca-se que os fatos elencados pela Petrobras em sua carta, como a redução da oferta e dos estoques mundiais de óleo diesel, em função da conjuntura energética mundial, e o aumento da demanda pelo produto, no segundo semestre do ano, são fatos amplamente conhecidos e monitorados”, informa o MME.
O Comitê é coordenado pelo MME e tem a participação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), associações representativas e agentes do setor, incluindo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom), Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Acelen e a Petrobras.
“O Ministério de Minas e Energia segue atento aos movimentos do mercado doméstico e internacional, mantendo o monitoramento de forma intensa e constante para adotar medidas tempestivas em conjunto com os demais órgãos governamentais nas esferas das suas respectivas competências, conforme a evolução do cenário”, diz a nota.
Esse mesmo texto destaca: “Quando do início do conflito que eclodiu no leste europeu, com reflexos na conjuntura energética global, a pasta adotou medidas imediatas para intensificar o monitoramento dos fluxos logísticos e da oferta de petróleo, gás natural e seus derivados, nos mercados doméstico e internacional”.
Risco maior em setembro
Apesar da segurança imediata, integrantes do mercado de combustíveis ouvidos por veículos de imprensa projetam setembro como mês mais crítico na oferta de diesel no Brasil. Isso porque coincide com o pico de consumo, em uma combinação de fatores que exige maior movimentação de caminhões, com intenso transporte de carga.
As promoções da “Black Friday” aumentam, por exemplo. É também quando começa a distribuição dos itens a serem vendidos no Natal. Nessa mesma época, os caminhões a diesel transportam grãos como milho e soja e o final da safra de cana de açúcar.
O Sul
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