Depois do reajuste de 8,87% do preço do diesel pela Petrobras, o núcleo político do governo e aliados no Congresso renovaram a pressão para a concessão de um subsídio ao combustível antes da eleição. A medida se soma à discussão entre os ministérios uma proposta para mitigar o impacto dos reajustes das tarifas de energia autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Governistas querem evitar o desgaste em ano de eleição, num momento em que os adversários do presidente Jair Bolsonaro, entre eles o líder das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), focam as críticas ao governo na alta de preços e na perda de renda.
A partir desta terça (9), o preço médio do litro vai passar de R$ 4,51 para R$ 4,91. Com o novo reajuste, o diesel já acumula no ano alta de 47% nas refinarias da Petrobras. Segundo a petroleira, o diesel não sofria reajuste há 60 dias – desde 11 de março. Naquele momento, diz a Petrobras, a alta refletia “apenas parte da elevação observada nos preços de mercado”.
Segundo o Estadão, após o anúncio do lucro recorde da estatal no primeiro trimestre, a área política defende o subsídio com o argumento de que as receitas do governo com o pagamento de dividendos pela empresa vão aumentar. Criticada por Bolsonaro, a Petrobras já transferiu ao governo desde 2019 quase R$ 447 bilhões em impostos, royalties e participações.
Para conceder o subsídio, no entanto, o governo e o Congresso teriam que correr contra o tempo e fazer mudanças no teto de gastos, o que a equipe do Ministério da Economia não apoia. Outra opção é cortar despesas para abrir espaço na regra que atrela o crescimento dos gastos à inflação, mas não há espaço disponível. Pelo contrário, nas últimas semanas, o “buraco” no teto aumentou e com novas medidas aprovadas nas últimas semanas.
Um integrante da equipe econômica avaliou que o governo reduziu no ano passado a tributação do diesel e a medida não foi repassada para os preços, assim como a mudança da cobrança do ICMS, imposto estadual, sobre os combustíveis.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avisou pelo Twitter que vai se reunir com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para tratar sobre o tema. Na quinta-feira, ele recebe os secretários estaduais de Fazenda. Na equipe econômica, a queixa é que os Estados, mesmo depois de aprovado projeto que alterou a cobrança do ICMS, congelou os preços no pico de alta e não na média.
O reajuste do diesel ficou abaixo da defasagem do preço do diesel praticado em relação ao mercado internacional estimado pelos especialistas em torno de 20%. Na área econômica, há avaliações de que, em um contexto conturbado internacionalmente pela guerra e em ano de eleições, faz sentido para o acionista aceitar um lucro menor da Petrobras.
A visão é que para quem tem ações da empresa, o governo atual é melhor, e que a lógica de repasse integral e rápido dos aumentos de preços internacionais pode até ampliar o lucro no curto prazo, mas interessaria mais à oposição, pelo seu efeito na inflação. E a avaliação é que a oposição tenderia, se ganhasse a eleição, a ter uma política muito menos lucrativa para a empresa no longo prazo.
Ao fazer a live da quinta-feira, Bolsonaro já tinha conhecimento da defasagem do diesel e da necessidade de reajuste – considerado o primeiro teste do novo comando da empresa. Na transmissão, ele disse que o lucro da empresa 3.718% superior ao do mesmo período do ano passado, era um “estupro”.
Tarifa de energia
Do lado da tarifa de energia, a proposta em discussão é permitir uma antecipação de recursos para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que banca que banca os subsídios concedidos nas políticas setoriais. O aporte reduziria a necessidade de os consumidores arcarem com esses custos agora na conta de luz, sem passar pelo Orçamento.
Um integrante da equipe econômica informou que o governo pode optar em permitir o adiamento do recebimento da outorga no processo de privatização da Eletrobras em troca da antecipação dos recursos para a CDE. A modelagem da estatal prevê o pagamento de uma outorga ao Tesouro pela Eletrobras à vista, e de repasses à CDE, em 25 anos, sendo a primeira parcela deles de R$ 5 bilhões neste ano. Agora, o que se estuda é trocar um pelo outro. Ou seja, pagar tudo neste ano à CDE, o que garantiria um alívio maior na conta e, em contrapartida, escalonar a outorga que chegaria ao Tesouro de uma só vez.
O Sul
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