O ex-governador João Doria (PSDB) saiu da disputa presidencial, mas não da campanha. Ao menos em São Paulo, as posições políticas e o modo de governar do tucano seguem presentes no debate eleitoral, especialmente nas falas dos principais adversários do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que até aqui tem procurado esconder como chegou ao cargo.
Mas, se a desistência em concorrer ao Palácio do Planalto facilita a estratégia de Garcia de se descolar de Doria, também dá munição a Fernando Haddad (PT), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Márcio França (PSB) em suas tentativas de chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Apesar de disputarem contra Garcia, é na figura de Doria que os três centralizam suas críticas.
Parte da explicação está nas pesquisas, segundo o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. A última, divulgada nesta semana pelo Ipespe, com Doria ainda como candidato ao Planalto, mostrou que seu índice de rejeição chegava a 53%. No mês passado, outro levantamento, feito pelo Datafolha, apontou que o tucano deixou o governo com 23% de aprovação e 36% de reprovação.
“Essa rejeição se tornou um obstáculo à sua ação político-eleitoral”, disse Teixeira. “Em 2020, Bruno Covas também o evitou na campanha e agora Garcia elogia a senadora Simone Tebet.” Garcia afirmou, antes da desistência do ex-governador, que Simone pode representar a terceira via em outubro e se disse diferente do antecessor. “Fui vice do Doria. Um é diferente do outro.”
Líder das pesquisas de intenção de voto para o governo estadual, Haddad tem trabalhado para nacionalizar o debate, atribuindo a Doria e Bolsonaro os efeitos da crise no bolso do paulista. “O governo estadual e o governo federal passaram quatro anos brigando e quem pagou o pato foram os paulistas, com mais inflação, desemprego e pobreza”, escreveu o petista nas redes sociais.
Outra estratégia da campanha de Haddad é não deixar cair no esquecimento a expressão “Bolsodoria”, cunhada pelo próprio tucano. O petista cita dados econômicos para ressaltar que ambos eram aliados nas eleições de 2018.
“Com o mesmo valor que se comprava carne há cinco anos, hoje a gente só leva cenoura. O paulista está pagando o pedágio do Doria e a gasolina do Bolsonaro embutidos na comida”, repete Haddad em eventos públicos.
Lealdade
Derrotado pelo tucano em 2018, Márcio França usou as redes sociais para tripudiar sobre a desistência do adversário. “Tenho pena, porque não desejo mal a ninguém. Mas esse é o fim inevitável, com muita solidão e melancolia, de todos os traidores: a traição e o esquecimento”, disse o ex-governador, que defende a chapa Lula-Alckmin.
Assim como fez há quatro anos, França foca sua pré-campanha em alguns pilares que diz seguir na vida pública, como a lealdade e a capacidade de dialogar. Ambas características que afirma não enxergar em Doria desde que o tucano passou de aliado a adversário – até 2018, ambos eram do mesmo grupo em São Paulo. A parceria se desfez quando Doria renunciou ao cargo de prefeito para disputar com França o governo sem o aval de Geraldo Alckmin, hoje filiado ao PSB.
Representante do bolsonarismo em São Paulo, o ex-ministro Tarcísio de Freitas é mais discreto nas críticas pessoais, mas não deixa passar oportunidade de relacionar os problemas do Estado à gestão Doria, especialmente na área econômica. Ele repete as críticas de Bolsonaro relacionadas às políticas adotadas pelo tucano na pandemia, por exemplo, e chega a zombar de uma das vitrines tucanas, o Poupatempo.
“Reindustrializar o Estado a partir da inovação e da tecnologia, transformando a crise deixada pela pandemia em oportunidade. O resultado será emprego e desenvolvimento para um povo que não aguenta mais ver o governo celebrar inauguração de Poupatempo. São Paulo merece muito mais”, escreveu nas redes.
O Sul
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