por Ana Paula Branco
Parcela da geladeira sobe centavos, mas sequência de altas pesa no bolso SÃO PAULO
A sequência de aumentos da taxa básica de juros, que nesta quarta-feira subiu para 12,75% ao ano, aumenta o custo do crédito para o consumidor que busca compras a prazo, financiamento de carros e usa o rotativo do cartão de crédito.
Se considerada apenas a elevação de um ponto percentual na Selic, a diferença na parcela de uma geladeira comprada no crediário não chega a R$ 1 por mês, segundo cálculos da Anefac (Associação Nacional de Executivos).
Ou seja, a alta da Selic, de forma isolada, não teria grande impacto se não fosse a décima seguida. A taxa que, de agosto de 2020 a 17 de março de 2021 se manteve em de 2%, vem aumentando desde então a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) numa tentativa de frear a inflação.
De acordo com Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, essas altas consecutivas num ambiente em que a renda do brasileiro já está contida por causa da inflação e do desemprego vão impactar fortemente as novas operações de crédito.
Um empréstimo pessoal de R$ 5.000, financiado em 12 meses, teria parcela mensal de R$ 528,44 com a Selic anterior, a 11,75% ao ano. A mesma parcela com a nova taxa de juros sobe para R$ 530,91, segundo a Anefac. A diferença não chega a R$ 2,50.
Porém, se compararmos com janeiro do ano passado, quando essa prestação estaria em R$ 507,72 com a taxa de juros da época, a parcela aumentou R$ 23 por mês para o consumidor.
Para quem financiou um veículo de R$ 40 mil em 60 vezes até fevereiro do ano passado, uma parcela custava de R$ 974,42. Já quem for financiar um carro no mesmo valor agora, vai pagar prestações de R$ 1.159,09 com a nova Selic.
Uma geladeira de R$ 1.500, por exemplo, custaria 12 parcelas de R$ 166,01 com a Selic em 2%, segundo simulação da Anefac. Com a taxa anunciada nesta quarta, a prestação sobe para R$ 171,92.
"Uma diferença que parece pequena, mas que, no atual contexto econômico do país, reduz o poder de compra do consumidor e provoca o endividamento das famílias", afirma Oliveira.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO - PESSOA FÍSICA
Linha de crédito | Taxa mensal com a Selic anterior (11,75%) | Taxa mensal com a Selic atual (12,75%) | Variação |
---|---|---|---|
Juros do comércio | 5,20% | 5,28% | 1,54% |
Cartão de crédito | 13,58% | 13,66% | 0,59% |
Cheque especial | 7,84% | 7,92% | 1,02% |
Financiamento de veículos | 1,95% | 2,03% | 4,10% |
Empréstimo pessoal bancos | 3,86% | 3,94% | 2,07% |
Empréstimo pessoal financeiras | 7% | 7,08% | 1,14% |
Taxa média | 6,57% | 6,65 | 1,22% |
Linha de crédito | Taxa anual com a Selic anterior (11,75%) | Taxa anual com a Selic atual (12,75%) | Variação |
---|---|---|---|
Juros do comércio | 83,73% | 85,42% | 2,01% |
Cartão de crédito | 360,92% | 364,83% | 1,08% |
Cheque especial | 147,38% | 149,59% | 1,50% |
Financiamento de veículos | 26,08% | 27,27% | 4,57% |
Empréstimo pessoal bancos | 57,54% | 59% | 2,54% |
Empréstimo pessoal financeiras | 125,22% | 127,25% | 1,62% |
Taxa média | 114,64% | 116,58% | 1,69% |
Já as empresas vão sentir o impacto da nova Selic, principalmente, ao recorrer a bancos para o seu capital de giro. Se um empréstimo de R$ 50 mil com prazo de pagamento de 90 dias tinha juros de R$ 1.560,97 em janeiro do ano passado, agora, serão de R$ 2.593,60.
"Algumas cadeias vão embutir o custo no preço para o consumidor final. Mas outras não conseguem repassar para não perder cliente e terão que absorver parte desse impacto", avalia Oliveira.
TAXAS MÉDIAS DE JUROS PRATICADAS PELO MERCADO - PESSOA JURÍDICA
Linha de crédito | Taxa mensal com a Selic anterior (11,75%) | Taxa mensal com a Selic atual (12,75)% | Variação |
---|---|---|---|
Capital de Giro | 1,70% | 1,78% | 4,71% |
Desconto de Duplicatas | 1,78% | 1,86% | 4,49% |
Conta Garantida | 7,57% | 7,65% | 1,06% |
Taxa média | 3,68% | 3,76% | 2,71% |
Linha de crédito | Taxa anual com a Selic anterior (11,75%) | Taxa anual com a Selic atual (12,75)% | Variação |
---|---|---|---|
Capital de Giro | 22,42% | 23,58% | 5,18% |
Desconto de Duplicatas | 23,58% | 24,75% | 4,96% |
Conta Garantida | 140,05% | 142,20% | 1,54% |
Taxa média | 54,35% | 55,79% | 2,64% |
O ajuste na Selic é uma das ferramentas do Banco Central para tentar conter a inflação, que tem registrado alta constante, pressionada principalmente pelo aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis.
Especialistas, no entanto, já trabalham com novas altas na taxa básica de juros nos próximos meses, visto que a Guerra da Ucrânia afeta o mercado global e o preço do petróleo voltou a subir em abril, o que deve refletir na inflação do período.
Os EUA também anunciaram nesta quarta o aumento da sua taxa de juros. Por lá, a alta foi de 0,5 ponto percentual, a maior desde o ano 2000. O governo americano anunciou ainda um plano para reduzir suas enormes participações em títulos, medidas decisivas destinadas a conter a maior inflação em 40 anos.
"É um cenário diferente. A economia dos EUA está crescendo, o impacto da alta do juros não será negativo", diz Oliveira.
Fonte: Folha Online - 04/05/2022 e SOS Consumidor
Nenhum comentário:
Postar um comentário