Três estudos recentes, feitos no Brasil, Suécia e Reino Unido, mostram que mesmo as pessoas que tiveram covid-19 devem completar seu esquema vacinal para adquirir uma imunidade duradoura. Os dados coletados sugerem que a “imunidade híbrida”, ou seja, obtida pela vacinação e infecção, confere uma proteção altamente eficaz contra a doença sintomática por pelo menos seis a oito meses.
Se confirmadas, as descobertas contestam as alegações de que pessoas que tiveram a doença não se beneficiariam com a vacinação. “O próprio presidente Jair Bolsonaro disse que ‘já teve covid e, por isso, não era necessário tomar vacina’”, lembra Julio Croda, infectologista e epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por isso, ele e outros pesquisadores recorreram a bancos de dados brasileiros, de vacinação e infecção, para testar tais afirmações e levantaram que, entre fevereiro de 2020 e novembro de 2021, as pessoas que já haviam sido infectadas pelo SARS-CoV-2 e depois receberam uma dose da vacina evitaram um aumento de 45% de novos casos da doença.
Esquemas vacinais completos, com duas doses, impediram 65% das infecções esperadas e mais de 80% dos casos graves. “A grande mensagem é esta: você precisa ter um esquema completo de vacinação para a covid-19”, disse Croda.
Na Suécia, pesquisadores usaram registros coletados pela Agência de Saúde Pública da Suécia entre março de 2020 e outubro de 2021, para apontar que infectados com SARS-CoV-2 tiveram uma redução de 95% no risco de contrair a doença, em comparação com pessoas que não estavam imunes pela infecção. A proteção cresceu ao longo dos três meses após a doença e durou até pelo menos 20 meses.
Uma dose de vacina reduziu o risco de infecção em cerca de 50%, e uma segunda dose estabilizou a proteção adicional ao longo dos seis meses após a vacinação. Embora a imunização aumente a proteção, o epidemiologista da Universidade de Umea, Peter Nordstrom, acredita que a imunidade oferecida apenas pela doença é digna de consideração. “Talvez devêssemos ter passaportes de imunidade em vez de passaportes de vacinação. É considerado imune e menos propenso a transmitir a doença se foi totalmente vacinado ou teve uma infecção anterior documentada”, diz.
A epidemiologista Victoria Hall, da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, em Londres, liderou o terceiro estudo, rastreando infecções em milhares de profissionais de saúde de março de 2020 a setembro de 2021. Descobriu que infecções anteriores impediram mais de 80% de novos casos de covid, mas a proteção diminuiu cerca de 70% após um ano.
Os participantes da pesquisa, que receberam duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech ou Oxford/AstraZeneca, após uma infecção tiveram quase 100% de imunidade por pelo menos seis a oito meses após a segunda dose. “Após a vacinação ou infecção, a proteção diminui ao longo do tempo, mas permanece alta naqueles com imunidade híbrida”, escreveu Hall à revista Nature.
Miguel Hernan, epidemiologista do Harvard T.H. Chan School of Public Health em Boston, Massachusetts, diz que os estudos mostram o benefício quase universal da vacinação completa. Dan Barouch, virologista do Beth Israel Deaconess Medical Center, também de Boston, concorda, acrescentando que os achados estão de acordo com pesquisas anteriores.
“A vacinação após a infecção ou infecção após a vacinação resulta em respostas de anticorpos particularmente robustas”. Mas observa que os três estudos se baseiam em dados coletados antes do surgimento da variante ômicron. Para as pessoas que se encaixam nessa categoria, infectadas com a cepa, Dan Kelly, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, diz: “Apenas tenha muito cuidado”.
O Sul
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