segunda-feira, 11 de abril de 2022

TERCEIRA VIA: O DISCURSO E A PRÁTICA - Gilberto Simões Lopes Pires

 TERCEIRA VIA

Nesta que promete ser a mais acirrada de todas as eleições para presidente da República, os candidatos que formam o pelotão da TERCEIRA VIA seguem estacionados na faixa de acostamento sem saber que tipo de discurso é capaz de seduzir um número razoável de eleitores a ponto de obter votos necessários para, se for o caso, poder participar do sonhado SEGUNDO TURNO. 


A POLARIZAÇÃO BRASILEIRA

Pois, com firme propósito de esclarecer ao máximo os eleitores, notadamente os mais -indecisos-, me valho de trechos do ótimo artigo escrito pelo pensador Fernando Schüler, que está publicado na Veja do dia 9 de abril, com o título A POLARIZAÇÃO BRASILEIRA (https://veja.abril.com.br/coluna/fernando-schuler/a-polarizacao-brasileira/). 


LULA E BOLSONARO

Schüler inicia o seu texto falando sobre os candidatos -Lula e Bolsonaro- que gozam de maior preferência dos eleitores: o primeiro (Lula, de forma muito sincera, declara que é CONTRA A REGRA DO TETO; que VAI REGULAR OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO; que é CONTRA AS PRIVATIZAÇÕES; que VAI INTERVIR NA POLÍTICA DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS; e que VAI REVERTER A REFORMA TRABALHISTA. Já Bolsonaro diz que NÃO VAI REGULAR A MÍDIA NEM AS REDES SOCIAIS; que votou na REGRA DO TETO; NA REFORMA TRABALHISTA; E QUE APROVOU A REFORMA DA PREVIDÊNCIA no seu governo. Mais: fez andar à frente, ainda que aos tropeços, algumas privatizações e recentemente disse querer se ver “livre” da Petrobras, sugerindo que vai privatizá-la, caso reeleito.


PROGRAMA LIBERAL

Seguindo: - De novo, pode-se dizer que tudo é balela, que o tal programa liberal de Paulo Guedes não andou e que lá no fundo Bolsonaro é tão “corporativista” quanto a esquerda. De fato, Bolsonaro tem um histórico corporativista, mas muitas das iniciativas do governo contam uma história um pouco diferente. Alguém acha corporativista a autonomia do Banco Central? Ou a lei da liberdade econômica? Ou quem sabe o novo marco do saneamento básico, chamado pelos deputados petistas de “privatização da água”?


GRUPO POLÍTICO DE BOLSONARO

Ora, se observarmos com alguma frieza, o grupo político ao qual Bolsonaro se associa, com idas e vindas, VOTOU A FAVOR DE TODA A SÉRIE DE REFORMAS que o país fez, desde o processo de impeachment de Dilma. Teto de gastos, lei das estatais, reformas trabalhista e previdenciária, lei das terceirizações, Banco Central, novos marcos regulatórios, privatização da Eletrobras. A lista não é pequena. O grupo em torno de Lula votou contra tudo. Não estamos falando de retórica, mas de um padrão consistente de votações no Congresso, ao longo de quase seis anos. Por óbvio, há inconsistências por todos os lados. A falta de firmeza do governo em temas centrais, como as reformas administrativa e tributária, é exemplo disso. (...)


POSICIONAMENTO DA TERCEIRA VIA

O curioso nisso tudo é o POSICIONAMENTO DA TERCEIRA VIA. O Radar do Congresso mostra que os partidos da chamada terceira via são, de fato, governistas, no mundo real das votações em Brasília. Ao longo do mandato de Bolsonaro, o PSDB votou 83% das vezes com o governo. João Doria pode dizer que Bolsonaro é o capeta, mas, a cada dez votações no Congresso, seu partido fechou oito vezes com o governo. No PSD, o índice de governismo vai a 91%. No União Brasil, o novo partido de Sérgio Moro, vai a 90%. Do outro lado do jogo, de fato há uma oposição. O PT só acompanhou o governo em 24% das votações; o PSOL, em 18%. Lula e seus apoiadores foram coerentes não só durante o governo Bolsonaro, mas desde as primeiras votações no pós-impeachment.


A TERCEIRA VIA, numa palavra, carece de identidade. A retórica por vezes radical contra o governo, logo abaixo do teatro da política, se mostra um tanto vazia. Isso sob um aspecto vital da política, que efetivamente diz respeito à vida dos cidadãos: as leis e projetos votados no Congresso. Sob esse aspecto, só há efetivamente duas vias em disputa, nas eleições deste ano. Talvez isso explique um pouco de nossa polarização política, que é hoje ainda maior do que há quatro anos. Em abril de 2018, os dois líderes somavam 47%. Hoje, têm 69%. É difícil, ainda que não impossível, que a terceira via consiga se viabilizar. Seria ótimo que o país dispusesse de uma esquerda moderna, que não goste de ditaduras e leve a sério a responsabilidade fiscal; e uma vertente liberal, que não ache que 64 foi uma “revolução para salvar a democracia” e não misture política com religião.


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