A Petrobras divulgou uma nota à imprensa em que defende o reajuste de preços de combustíveis de acordo com o mercado internacional de petróleo. A estatal brasileira informou que esse movimento é necessário para evitar riscos de desabastecimento.
De acordo com a empresa, ajustes de preços são importantes para que o mercado brasileiro continue sendo suprido por distribuidores, importadores e produtores.
A Petrobras informou que os reajustes anunciados no dia 10 de março, que incluíram aumentos de 18% na gasolina e de 24,9% no óleo diesel, foram uma resposta à disparada dos preços internacionais, resultante da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro.
Segundo a nota, a Petrobras só fez o reajuste no dia 11 de março, ou seja, duas semanas depois. Ainda assim, a empresa diz que os aumentos só refletiam parte da elevação dos preços internacionais do petróleo, “que foram fortemente impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia”.
A empresa destacou ainda que “tem sensibilidade quanto aos impactos dos preços na sociedade e mantém monitoramento diário do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade, não podendo antecipar decisões sobre manutenção ou ajustes de preços”.
Alta desenfreada
O aumento no preço dos combustíveis ocorre em decorrência da implementação do reajuste de 18,8% no preço da gasolina comum cobrado nas refinarias anunciado pela Petrobras em 10 de março. A empresa reajustou ainda o preço do óleo diesel em 24,9% e do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), o gás de cozinha, em 16%.
Na gasolina, economistas estimam que o combustível vendido pela estatal representa cerca de 33% do preço, então a alta de quase 19% nas refinarias deve resultar em aumento de 6,2% na bomba. Em muitos postos de combustível em algumas regiões do país, a gasolina está sendo vendida acima dos R$ 7 por litro.
O reajuste da Petrobras ocorreu após 57 dias de preços congelados e em meio ao salto da cotação de petróleo no exterior.
“A gasolina é um derivado de petróleo, então seu preço está diretamente ligado ao da commodity. Se o preço do petróleo sobe, o da gasolina também sobe”, explica Pedro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Há pouco mais de uma semana, o preço do petróleo Brent saltou para acima de US$ 139 por barril. Desde então houve uma rápida reversão e na terça-feira (15), o barril chegou a US$ 98 – mas especialistas apontam que a volatilidade do mercado pode reverter a tendência nos próximos dias.
Segundo Pedro Rodrigues, a alta das últimas semanas foi impulsionada principalmente pelas instabilidades causadas pelo conflito entre Ucrânia e Rússia, mas também tem uma pequena influência da pandemia de Covid-19.
“A indústria do petróleo é muito volátil porque está sujeita a diversos fatores que envolvem riscos, problemas políticos e geopolíticos e às vezes problemas da própria indústria”, diz.
O especialista explica que a pandemia provocou uma situação de queda brutal da demanda por petróleo e acabou contribuindo para a cotação negativa do barril no ápice da crise. Mas, com a volta à normalidade, a oferta de petróleo não acompanhou a demanda, gerando uma tendência de alta de preços.
“Mas a cereja do bolo atualmente é um fator externo à indústria que é a guerra na Ucrânia”, diz.
A alta do petróleo por causa do conflito chega ao Brasil por dois motivos: a Petrobras importa petróleo e derivados e repassa reajustes por conta da política de Preço de Paridade de Importação, adotada em 2016.
O barril ficou mais caro como resultado da guerra e medidas como as sanções dos Estados Unidos e da União Europeia contra o petróleo e o gás exportados pela Rússia. As sanções tendem a reduzir a quantidade desses produtos no mercado internacional e a aumentar preços.
“Como estamos falando da Rússia, segundo maior exportador de petróleo do mundo, e da Ucrânia, um país que tem uma importância logística para que o petróleo e gás russo chegue na Europa, o conflito envolve ainda mais riscos para a indústria do petróleo”, diz Rodrigues.
O Brasil produz mais petróleo do que consome e se declara “autossuficiente”. Porém, devido ao tipo de petróleo extraído e a insuficiência na capacidade de refino, ainda precisa importar tanto petróleo cru quanto derivados como a gasolina. Isso faz com que a Petrobras sinta imediatamente o efeito de qualquer mudança no valor que paga pelo petróleo no exterior.
O Sul
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