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quarta-feira, 30 de março de 2022

Ocidente mantém cautela com promessa russa de desescalada da ofensiva na Ucrânia

 Anúncio da Rússia foi feito após uma reunião dos negociadores em Istambul



A Rússia se comprometeu nesta terça-feira com uma desescalada em torno das cidades de Kiev e Chernihiv na Ucrânia, que viu sinais "positivos" na última reunião de negociação, mas as potências ocidentais pediram para não baixar a guarda até verificar que Moscou está cumprindo com sua palavra. O anúncio russo foi feito após uma reunião dos negociadores em Istambul, com o objetivo de buscar uma saída para um conflito que começou com a invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro e que já deixou milhares de mortos e milhões de deslocados.

Acompanhe o avanço das tropas russas na Ucrânia a cada dia

O vice-ministro da Defesa da Rússia, Alexander Fomin, afirmou em Moscou que "as negociações sobre um acordo de neutralidade e o status não nuclear da Ucrânia entram em uma dimensão prática" e que a Rússia decidiu reduzir de maneira "radical" sua atividade militar em torno de Kiev, a capital do país, e Chernihiv, no norte.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que viu sinais "positivos" nas negociações de Istambul, mas garantiu que seu país não reduziria seus "esforços de defesa" diante da invasão russa.

Ceticismo ocidental

Os anúncios russos foram recebidos com ceticismo e receio pelas potências ocidentais, que após a invasão impuseram um arsenal de sanções econômicas à Rússia. Em uma conversa telefônica, os chefes de Estado e de governo do Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha e Itália pediram a seus aliados para não baixar a guarda.

Boris Johnson (Reino Unido), Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha) e Mario Draghi (Itália) "afirmaram sua determinação de continuar elevando os custos para a Rússia por seus ataques brutais na Ucrânia, assim como de continuar oferecendo à Ucrânia assistência em matéria de segurança para se defender", diz um comunicado conjunto desses países.

"Veremos se [os russos] vão cumprir", declarou Biden aos jornalistas. O Pentágono indicou que alguns contingentes russos "parecem estar se distanciando de Kiev", sem que isso possa ser chamado de "um retrocesso ou uma retirada".

"Acreditamos que o que eles [os russos] provavelmente têm em mente é um reposicionamento para priorizar outros lugares", disse o porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA. As bolsas se mostraram menos céticas e operaram com ganhos importantes.

Doze mortos em Mykolaiv

Os combates já obrigaram mais de 10 milhões de pessoas (cerca de um quarto da população) a abandonar seus lares e, segundo Zelensky, deixaram ao menos 20.000 mortos. Muitas regiões continuam sendo palco de bombardeios e combates. Os combates continuam em muitas regiões. O governo anunciou que sete pessoas morreram por um bombardeio russo contra um edifício do governo regional em Mykolaiv, uma cidade portuária do sul.

A Ucrânia afirma ter recuperado território nos últimos dias, incluída a cidade de Irpin, nos arredores de Kiev. Também retomaram as evacuações de áreas do sul assediadas pelas forças russas.

Desde o início do conflito, Putin exige a "desmilitarização e desnazificação da Ucrânia", assim como a imposição de um status de neutralidade para o país e o reconhecimento de que o Donbass, a região separatista pró-Rússia no leste da Ucrânia, e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, já não fazem parte da Ucrânia.

Em resposta às sanções ocidentais, a Rússia afirmou sua determinação de exigir o pagamento em rublos do gás distribuído para a União Europeia (UE). Moscou também anunciou que expulsaria dez diplomatas de Estônia, Letônia e Lituânia, em represália à expulsão de diplomatas russos. Mas a escalada de expulsões continuou nesta terça-feira: a Bélgica anunciou que decidiu expulsar 21 diplomatas russos suspeitos de espionagem, a Holanda 17, a Irlanda quatro e a República Tcheca um.

Putin condiciona evacuação de Mariupol

As forças ucranianas contra-atacam no norte e lutam para manter o controle da cidade portuária de Mariupol, no sul. As forças russas cercaram essa cidade e a bombardeiam de maneira constante e indiscriminada, deixando cerca de 160.000 pessoas presas com pouca comida, água e remédios.

O presidente russo, Vladimir Putin, subordinou a "solução" da situação humanitária em Mariupol o desarmamento dos grupos "nacionalistas" ucranianos, durante uma conversa telefônica com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, informou o Kremlin.

A França, que na semana passada anunciou sua intenção de organizar junto com a Turquia e a Grécia uma operação humanitária para evacuar os civis, estimou nesta terça-feira que as condições para a sua realização "não estão presentes no momento". Zelensky disse que o assédio russo de Mariupol constituía um "crime contra a humanidade, que está ocorrendo ao vivo diante dos olhos do mundo".

ONU visita instalações nucleares

As potências ocidentais afirmam ter provas de crimes de guerra cometidos na Ucrânia, investigados pelo Tribunal Penal Internacional. A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse na segunda-feira que havia provas de que as forças russas usaram bombas de fragmentação proibidas em Odessa e Kherson, no sul.

Biden expressou sua "indignação moral" pelo desenvolvimento da guerra e, no último fim de semana, chegou a sugerir que Putin "não pode continuar no poder", mas depois negou que busque uma mudança de governo.

O conflito também gerou temores sobre a segurança nuclear depois que a Rússia tomou várias instalações, entre elas a antiga usina de Chernobyl, onde aconteceu o pior desastre nuclear do mundo, em 1986. O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o argentino Rafael Grossi, visitou a Ucrânia nesta terça-feira para falar da "segurança e proteção" das instalações nucleares do país.

AFP e Correio do Povo

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