A Ucrânia estabeleceu uma legião “internacional” e o presidente Volodymyr Zelenskiy pediu publicamente aos estrangeiros que “lutem lado a lado com os ucranianos contra os criminosos de guerra russos” para mostrar apoio ao seu país. Na semana passada, Zelenskiy disse que mais de 16 mil estrangeiros se apresentaram como voluntários, sem especificar quantos chegaram.
Alguns combatentes estrangeiros que chegam à Ucrânia dizem que são atraídos pela causa: querem interromper o que consideram um ataque não provocado, em um confronto que ocorre uma vez a cada geração entre as forças da democracia e da ditadura. Para outros, muitos deles veteranos do Iraque e do Afeganistão, a guerra na Ucrânia também oferece uma chance de usar habilidades de combate que sentiam que seus próprios governos não apreciavam mais.
Ao lado de veteranos de guerra endurecidos pela batalha, chegam pessoas com pouca ou nenhuma experiência de combate, oferecendo valor limitado em uma zona de guerra sob constante e aterrorizante bombardeio dos militares russos. Um homem que se identificou como veterano militar britânico referiu-se a esses recrutas como “apanhadores de balas”.
Roman Shepelyak, um alto funcionário ucraniano envolvido no processamento de voluntários estrangeiros recém-chegados em Lviv, disse que o sistema para receber, treinar e enviar combatentes estrangeiros ainda é incipiente e que o processo ficará mais suave nos próximos dias. O Ministério da Defesa da Ucrânia se recusou a comentar.
A Rússia lançou sua invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, chamando-a de “operação militar especial” para desmilitarizar a Ucrânia e capturar “nacionalistas perigosos”. As Forças Armadas da Ucrânia estão em grande desvantagem numérica em relação às da Rússia, mas montaram uma resistência significativa.
Entre aqueles que chegaram para lutar pela Ucrânia estão dezenas de ex-soldados do Regimento de Paraquedistas de Elite do Exército britânico, de acordo com um ex-soldado do regimento. Centenas mais devem chegar em breve, disse. O número total não foi confirmado.
Muitas vezes chamado de Paras, o regimento serviu nos últimos anos no Afeganistão e no Iraque. “Eles são todos altamente treinados e estiveram em serviço ativo em várias ocasiões. A crise na Ucrânia lhes dará propósito, camaradagem e uma chance de fazer o que são bons, que é lutar”, disse um ex-soldado do regimento.
“Tem arma, vai viajar”
Para alguns, viajar para a Ucrânia, mesmo de países distantes, foi a parte mais fácil. Aqueles que não trouxeram consigo coletes, capacetes e outros equipamentos tentavam obtê-los na Ucrânia, de acordo com vários combatentes.
Alguns veteranos compartilhavam informações sobre equipamentos e logística por meio de grupos de Facebook ou WhatsApp com nomes como “Have Gun Will Travel” (Tem arma, vai viajar), montados apenas para convidados. Esses grupos contêm apelos por equipamentos, como coletes à prova de balas e óculos de visão noturna, ou por veteranos estrangeiros que sejam atiradores de elite ou que possam treinar soldados ucranianos no uso das armas sofisticadas sendo enviadas pelos países ocidentais.
Com uma vasta mobilização de ucranianos em andamento, o país tem muitos combatentes voluntários. Mas faltam especialistas que saibam usar mísseis antitanque Javelin e NLAW, que soldados profissionais treinam durante meses para usar adequadamente.
Mesmo aqueles com experiência de combate podem enfrentar dificuldades nas zonas de guerra da Ucrânia, alertou um ex-soldado britânico, que pediu para ser identificado por seu apelido, Kruger. Ele disse que serviu no Afeganistão e treinou outros soldados.
“Se você está aqui como turista de guerra, este não é o lugar para você. As realidades da guerra, se você for para o front, serão bastante avassaladoras”, disse.
Muitos dos que chegam a Lviv acabam nos escritórios semifortificados da administração regional de Lviv, onde sua papelada é verificada por Shepelyak. Ele chefia o departamento regional de assistência técnica e cooperação internacional. Ele reconheceu que o sistema para processar aqueles que se ofereciam para lutar ainda dava os primeiros passos.
Na sexta-feira (11), seis estrangeiros apareceram no escritório de Shepelyak, incluindo um veterano militar polonês chamado Michal, e um holandês gigante e fortemente tatuado chamado Bert. Ambos os homens se recusaram a dar seus nomes completos. Mais estrangeiros chegavam a cada dia, disse Shepelyak. “Se eles têm tanto desejo de servir a um país estrangeiro, isso importa. Eles são importantes.”
Shepelyak disse que examinou sua documentação, mas não sua experiência de combate, que seria avaliada em uma base militar fora de Lviv, para onde foram enviados em seguida. Ele acrescentou que os recrutados no Exército ucraniano seriam pagos de forma equivalente a outros soldados.
Outros combatentes estrangeiros disseram que contornavam os processos formais e iam direto para a frente oriental, na esperança de obter armas e ordens dos militares ucranianos na chegada.
O Sul
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