Resistência dos ucranianos na guerra evidencia a vontade de integrar a Europa
Jurandir Soares
A guerra que a Rússia desenvolve na Ucrânia segue com tropeços, tanto na área militar quanto na diplomática. Na parte militar alguns aspectos chamam atenção. O primeiro deles é a enorme resistência por parte dos ucranianos, que a Rússia parecia não contar. Afinal, os ucranianos estão defendendo o seu solo, sua pátria e sua ideologia, ao passo que as forças russas parecem nem saber bem o que têm que fazer. E nessa falta de noção vão destruindo não só instalações militares, mas também civis, como aconteceu com uma maternidade e hospital infantil, uma escola, um teatro, onde havia o alerta de que ali estavam crianças. Isto sem contar os prédios residenciais, fazendo com que muitos ucranianos, quando retornarem às suas cidades após o fim da guerra, não encontrem mais sua residência. Muitos, porém, nem conseguem fugir. São mortos pelo caminho.
Outra questão preocupante é o avanço das atividades bélicas russas em direção à Polônia, que é membro da Otan. Os russos atacaram esta semana não só a cidade de Lviv, que fica a 60 km da fronteira e é por onde escapam os ucranianos em direção à Polônia, como atacaram uma base militar daquela cidade, que está a apenas 25 quilômetros da fronteira. Um avião russo que sobrevoe o espaço aéreo polonês é passível de ser abatido. E, com isto, fazer explodir o conflito entre a Otan e a Rússia, com consequências imprevisíveis, pois Vladimir Putin tem acenado com o uso de armas nucleares ou químicas. E, de quem faz uma guerra cruel como esta, tudo se pode esperar.
No campo diplomático, Putin diz que a Ucrânia dificulta as negociações de paz. Isto porque, no entender dele, a Ucrânia tem que se ajoelhar e dizer que aceita todas as suas pré condições. Enquanto isso, ele manda prender e condenar a 15 anos de prisão quem no seu país condena a guerra. Esses são chamados de “traidores” por quem diz ter o objetivo de “purificar a Rússia”. Só que esta “purificação” ele quer estender à Ucrânia. Quer manter o país sob o tacão de Moscou, como era até 1991 com a então União Soviética. Por terem vivido essa realidade é que os ucranianos querem se libertar e passar a integrar a Europa, como já fez a maior parte dos países da antiga URSS. E é por isto que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que “Putin quer estabelecer um novo muro entre a liberdade e a escravidão”.
E vale salientar, mais uma vez, que Putin tem razão quando busca impedir que a Ucrânia faça parte da Otan, porque isto significaria ter mísseis do inimigo junto à sua fronteira. Porém, não tem o direito de declarar independência de áreas territoriais ucranianas e, muito menos, querer impedir que a Ucrânia se torne membro da União Europeia. Afinal, se a primeira é uma organização militar, a segunda é uma aliança que promove o livre trânsito de pessoas e de mercadorias, além de preservar os preceitos da democracia, do livre negócio e da liberdade de expressão. Preceitos que Putin não costuma tolerar.
Resta a esperança dos caminhos diplomáticos, os quais têm sido percorridos fundamentalmente pelo francês Emmanuel Macron e pelo alemão Olaf Sholz. E quem entrou agora na parada é a Turquia. Com os atributos de ser membro da Otan e de ter um bom relacionamento tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia. Que seja bem-sucedida na tarefa de acabar com esta guerra cruel.
E só mais um detalhe, enquanto o mundo se choca com a guerra da Ucrânia, esquece a guerra da Síria, que completou 11 anos neste dia 15 de março e já matou mais de 350 mil pessoas. Infelizmente, um conflito que se tornou “rotina” e nem frequenta mais os noticiários. Embora a crueldade, a morte e a destruição sejam maiores lá.
Correio do Povo
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