Jurandir Soares
Estes últimos dias têm sido marcados pela atrocidade desta guerra que a Rússia de Vladimir Putin deflagrou contra a Ucrânia e que ele comete a audácia de chamar da “manobra especial”. Tão especial que atingiu uma maternidade e hospital infantil, além de matar civis em fuga. Sem contar o pavor dos que estão sobrevivendo em cidades onde falta desde energia até alimentos e medicamentos. Povo que está sendo obrigado a praticar saques para sobreviver. Mas, o que era para ser uma ação de no máximo 48 horas para tomar Kiev se arrasta por mais de duas semanas. Putin não contava com a resistência do povo ucraniano. E esta se dá de maneira tão intensa porque este povo luta para defender seu território, sua pátria. Enquanto que os soldados russos nem sabem o que estão fazendo em terras ucranianas. Ação significativa da resistência ucraniana foi a emboscada à uma frota de tanques russos na periferia de Kiev, na quinta-feira. A frota sofreu um inesperado bombardeio e o que sobrou teve que se dispersar.
Até agora três rodadas de negociação foram realizadas e o máximo que se conseguiu foi a concessão de corredores de fuga em algumas das cidades ucranianas. Corredores precários porque, em alguns deles, a população escapando acabou sendo bombardeada. Putin colocou na mesa suas exigências para o fim da guerra. São elas: cessar a resistência, neutralidade da Ucrânia, compromisso de não aderir à Otan nem à União Europeia, e reconhecimento da Crimeia como território russo e da região do Donbass como independente. Uma questão fundamental envolve o presidente Volodymyr Zelensky, que está bravamente liderando a resistência. De início, Putin queria a sua cabeça. Chegou a convocar os militares ucranianos para o depor e depois negociarem com ele, Putin. Nesta quinta-feira já houve uma amenização. A porta voz da Chancelaria Maria Zakharova, disse que a Rússia não vai exigir uma rendição nem a queda de Zelensky. Em isto sendo respeitado, convenhamos que os outros pontos podem ser administrados. Ao abdicar da entrada na Otan, a Ucrânia pode manter uma neutralidade, como já acontece com a Finlândia. E resolve a principal preocupação da Rússia. O reconhecimento da Crimeia como terra russa seria apenas referendar o que já é realidade. A Rússia retomou, tá certo que na força, algo que já era dela. Quanto à região do Donbass, onde estão as províncias separatistas de Donestk e Lugansk, também não tem sentido segurar, pois a absoluta maioria da população ali é russa ou de origem russa e quer a separação. Seria para a Ucrânia como livrar-se de um problema que parece insolúvel.
Agora, o que a Ucrânia não pode abrir mão é de seu direito de aderir à União Europeia. Que é algo muito diferente do que fazer parte da Otan, que é uma organização militar. A União Europeia é uma associação de países para uma convivência conjunta, onde pessoas e mercadorias podem circular livremente, sem fronteiras. E a população ucraniana há muito que vem demonstrando essa vontade. De seguir outros ex-membros da ex- União Soviética que, tão pronto se livraram do jugo de Moscou, com a queda do comunismo, trataram logo de aderir ao bloco onde funciona a democracia, a livre iniciativa, o livre trânsito e a liberdade de expressão. Mas é justamente por saber dessas diferenças que Putin vai insistir em manter sua posição de não aceitar essa adesão. Enquanto isto, infelizmente, o povo ucraniano segue engrossando as fileiras de imigração nos países vizinhos e, o que é muito pior, levando as bombas de Putin pela cabeça e vendo seu patrimônio ser destruído.
Correio do Povo
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