segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

“Vilões da inflação”, combustíveis bateram recorde de vendas em 2021

 


A alta assombrosa dos preços não reduziu o consumo médio dos principais combustíveis em 2021. O diesel, em especial, registrou forte crescimento nos últimos anos, por conta da ânsia por retomada econômica depois do impacto da pandemia do coronavírus.

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que o ano passado registrou o maior volume de vendas de combustíveis desde o início da série histórica, em 2000.

No comparativo anual e em números absolutos, foram 118,2 milhões de metros cúbicos comercializados de gasolina, etanol e diesel, dos distribuidores aos revendedores. Um metro cúbico equivale a 1 mil litros.

Por produto, foram 16,7 milhões de metros cúbicos de etanol, 39,3 milhões de gasolina e 62,1 milhões de diesel. Trata-se de uma alta de 5% contra 2020, ano que teve circulação afetada pela chegada da pandemia.

Isso significa que o etanol teve redução de 13% da procura, mas a gasolina e o diesel mais que compensaram a perda. Foram altas de 9,5% e 8%, respectivamente.

Os números do ano passado estão muito próximos do patamar pré-pandemia, quando 118 milhões de metros cúbicos foram comercializados. Em 2019, o etanol teve desempenho melhor, com 22,5 milhões de metros cúbicos vendidos, mas o diesel teve “apenas” 57,2 milhões.

Essa mudança de perfil tem duas explicações. O etanol subiu de preço, fazendo com que veículos particulares privilegiassem a gasolina. Sabe-se que, a partir de certo valor, o etanol perde para a gasolina em eficiência e torna-se menos rentável.

O diesel, por sua vez, teve aumento de demanda por conta da intensificação dos fretes. Entre os motivos, a pandemia deu impulso ao e-commerce, que exige mais do serviço de entregas. Além disso, o desajuste de cadeias produtivas concentra os momentos de escoar mercadorias e complica a logística de transporte.

“O diesel já caiu menos porque, mesmo em lockdown, se precisa de abastecimento de produtos. E, quando há retomada da economia, mesmo que pequena, o combustível sai na frente”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro De Infraestrutura (CBIE).

O economista afirma ainda que a retomada do consumo dos combustíveis explica parte da elevação rápida de preços dos três insumos em todo o mundo. O preço do barril de petróleo, matéria-prima de todos eles, teve média de US$ 44 em 2020 e chegou a US$ 70 no ano seguinte.

Preços em alta

De acordo com os últimos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os combustíveis continuam sendo os principais vilões da inflação quando se excluem os produtos alimentícios.

Na janela de 12 meses, o etanol registra alta de 54,95%, o óleo diesel, de 45,72%, e a gasolina, 42,71%.

Ao longo do ano passado, os combustíveis sofreram seguidos choques com o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional e também com o real desvalorizado frente ao dólar.

“Uma moeda mais forte faria frente ao aumento dos preços do petróleo, mas vivemos uma crise de instabilidade fiscal em que o governo não apresenta propostas de ajuste”, diz André Braz, economista e coordenador dos índices de preços da Fundação Getulio Vargas.

Com problemas internos e conflitos geopolíticos centrados na divisa entre Ucrânia e Rússia no radar, Braz entende que a situação dos combustíveis não deve ganhar alívio no curto prazo.

Sempre que grandes potências do mundo petrolífero se envolvem em questões diplomáticas, as commodities — em especial, o petróleo — ficam mais voláteis no mercado internacional. Uma nova complicação na oferta pode acionar mais um gatilho para que os preços de combustíveis subam em todo o mundo.

Soma-se a isso o ano eleitoral no Brasil, que costuma adicionar elementos de instabilidade na economia. Como a agenda fiscal fica de lado, o mercado se retrai e cria dificuldades para investimento e entrada de dólares no País.

“A campanha deve ser feita com medidas populistas, que gastam mais do que arrecadam. Isso aumenta a incerteza e renova o impacto no câmbio”, afirma o economista do Ibre/FGV. “Uma solução simples seria um plano para frear a escalada da dívida pública. Mas o que vemos é o contrário.”

O Sul

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