O impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação, especialmente por causa dos preços dos combustíveis. Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes.
Sempre que há um conflito entre nações poderosas, há risco de aumento da inflação, com pressão nos preços e redução da oferta de produtos. Pode ocorrer também um baque no crescimento por conta do aumento dos riscos, que tende a diminuir os investimentos, derrubar os ganhos das empresas e impactar as ações.
Efeitos no Brasil
Para o Brasil, a situação se traduz em mais pressão sobre a inflação em momento de índices já nas alturas. Especialistas lembram que a barreira de proteção do País, no momento, é a queda do dólar.
Com a valorização recente do real, itens importantes como alimentos e combustíveis estão relativamente controlados enquanto a tensão se desenrola na fronteira ucraniana.
Mas há dois problemas: a alta dos juros freia ainda mais a perspectiva de crescimento econômico e uma aversão a risco mais intensa tende a trazer impacto mais sério a economias emergentes.
Combustíveis e inflação
A tensão na fronteira ucraniana renova preocupações com os preços das commodities, em especial o petróleo. Para o Brasil, a valorização do barril do tipo Brent desde o início da pandemia foi um dos responsáveis pela inflação pelo efeito nos preços da gasolina e do diesel.
O principal impacto para o Brasil é justamente via petróleo e preço dos combustíveis e isso, por si só, não afeta tanto a recuperação brasileira. Ao longo do ano passado, os combustíveis sofreram seguidos choques com o aumento dos preços do petróleo no mercado internacional e também com o real desvalorizado frente ao dólar.
O preço do barril de petróleo teve média de US$ 44 em 2020 e chegou a US$ 70 no ano seguinte. O agravamento do conflito na Rússia deu novo impulso aos preços do insumo, que esbarram agora nos US$ 100.
Diferente dos anos anteriores, contudo, 2022 vem sendo marcado pela entrada de dólares no País, fortalecendo o câmbio aos poucos. Com o petróleo subindo de um lado, mas o dólar caindo do outro, forma-se uma gangorra que mantém os preços com certa estabilidade.
Bolsa e dólar
Em geral, conflitos geopolíticos provocam reação imediata dos mercados internacionais. A particularidade da tensão entre Rússia e Ucrânia é que as atividades têm sido anunciadas passo a passo desde o fim de 2021, espalhando o impacto nas bolsas.
Outra contribuição relevante é o aumento de juros dos Estados Unidos, que tem agora mais um evento inflacionário para influenciar a análise do Federal Reserve.
Mas, surpreendentemente, a bolsa brasileira reage positivamente e bolsas estrangeiras têm quedas comedidas. Em suma, a reação é que o mercado já vinha se preparando para um evento mais determinante, como o reconhecimento das províncias separatistas na Rússia.
Além disso, a bolsa brasileira tem uma participação enorme de empresas exportadoras de commodities, como Vale, Petrobras, Suzano e tantas outras. Um aumento da demanda traria bons resultados e valorizaria os preços dos papéis. Resultado foi a entrada de mais de US$ 50 bilhões na bolsa neste ano e alta de 1,04% nesta terça-feira.
Exportações
A Rússia não é um dos grandes parceiros comerciais do Brasil. Não há, portanto, um impacto direto nas exportações brasileiras. É fundamental, contudo, estar atento às reações da China em meio ao aumento das tensões geopolíticas na região.
A China, sim, é o maior parceiro comercial do Brasil e tradicionalmente tem um alinhamento com o governo russo.
Na relação direta com a Rússia, o Brasil depende principalmente da produção de fertilizantes (60%) e outros itens ligados à agricultura.
No ano passado, quatro dos cinco produtos que o Brasil mais comprou dos russos serviam para preparação do solo. Um desabastecimento desses adubos e fertilizantes poderia aumentar os custos dos alimentos no país.
O Sul
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