Residentes de Moscou e de outras cidades russas estão correndo para caixas eletrônicos e agências bancárias em busca de dinheiro, tanto em rublos quanto em dólares, em meio ao temor de um colapso da moeda do país e da incapacidade de utilizar sistemas internacionais de pagamentos.
Filas de pessoas que buscam retirar moedas estrangeiras começaram a se formar logo na manhã de quinta-feira (24), após a decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de iniciar uma invasão em larga escala da Ucrânia, derrubando o rublo a seus mínimos históricos. Um repórter do Financial Times pôde testemunhar que algumas agências de bancos internacionais ficaram sem dólares americanos ao meio-dia de quinta.
A busca por dinheiro continuou no fim de semana, enquanto os países da União Europeia discutiam medidas para reduzir a capacidade do banco central da Rússia de usar suas reservas em moeda estrangeira e cortar credores do país do sistema de pagamentos global Swift. Preocupados em não conseguir realizar pagamentos com cartões Visa e Mastercard, cidadãos comuns foram procurar dinheiro em qualquer moeda.
Neste domingo (27), o banco central do país buscou acalmar os mercados e os depositantes, prometendo fornecer liquidez em rublo continuamente aos bancos, sem limite para o valor em empréstimos que as instituições queiram realizar. A autoridade monetária também afirmou que “expandiria significativamente” sua chamada “lista Lombard”, que inclui os títulos aceitos como garantia para ajudar os bancos a cobrir suas necessidades de refinanciamento.
“O sistema bancário russo é estável, possui reservas de capital e liquidez suficientes para funcionar sem interrupções em qualquer situação. Todos os fundos de clientes estão seguros e disponíveis a qualquer momento”, disse o banco central da Rússia em comunicado.
O sistema de mensagens de pagamentos doméstico da Rússia, desenvolvido para o caso de bancos do país serem cortados do Swift, continuaria a funcionar “em qualquer cenário”, acrescentou.
No fim do último sábado (26), algumas pessoas se sentaram nos bancos em frente a caixas eletrônicos vazios esperando a chegada de novos lotes de dinheiro. Muitos outros formaram filas nas primeiras horas de domingo, depois que os Estados Unidos e seus aliados europeus anunciaram sanções ao banco central russo e aos maiores credores do país.
“Retirei dinheiro no início de tudo isso e vou procurar um caixa eletrônico novamente agora, porque quero ter o equivalente a um mês de dinheiro vivo em caso de falhas técnicas com os cartões. Já tive problemas para pagar um táxi com o Google Pay ontem”, disse Ekaterina, moradora de Moscou.
“Acredito que meu banco não está sob sanções e duvido que meu dinheiro vá desaparecer completamente, mas há o risco de não conseguir comprar comida”, ela afirma. “Simplesmente não sabemos o que esperar do governo. Não posso prever, então quero dinheiro vivo por perto.”
Banqueiros estão preocupados com o efeito que tais saques terão no sistema bancário.
Um executivo de um banco ocidental em Moscou afirma que as retiradas de dinheiro estão prejudicando a Rússia, pois a liquidez das instituições bancárias está caindo.
Sanções ao banco central do país limitam sua capacidade de intervenções cambiais, antes utilizadas para estabilizar o rublo e não deixá-lo flutuar livremente e entrar em colapso.
O executivo afirma, sob anonimato, que o banco central da Rússia tentará auxiliar a moeda nacional, mas não sabe por quanto tempo isso será possível. Além disso, ele diz que não residentes estão vendendo ativos russos e se livrando de rublos, o que prejudica o país.
Moeda russa sofre 30% de desvalorização após sanções
A Bolsa de Valores de Moscou adiou a abertura de suas operações nesta segunda-feira (28) para as 15h, no horário local, depois do rublo, a moeda russa, sofrer uma desvalorização de 30% diante do dólar, decorrente da guerra na Ucrânia e das sanções adotadas pelos países do G7 e pela União Europeia contra o governo de Vladimir Putin.
O rublo registrou uma queda histórica nas transações internacionais, cotado a 119,50 em relação ao dólar. O Banco Central russo aumentou sua taxa de juros para 20% – uma correção de 10,5 pontos – para enfrentar essa desvalorização da moeda e as duras sanções econômicas impostas pelos ocidentais.
O Sul
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