segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Entenda o que está em jogo na viagem de Bolsonaro à Rússia e Hungria

 


A visita do presidente da República Jair Bolsonaro (PL) aos presidentes russo e húngaro – Vladimir Putin e Viktor Orbán respectivamente – tem sido interpretada como arriscada na atual conjuntura do Leste Europeu.

O chefe do Executivo federal viajará com comitiva para Moscou, capital russa, nesta segunda-feira (14). Devem desembarcar no país no dia seguinte e vão participar de encontro com Putin e empresários no dia 16. No dia 17, a comitiva presidencial vai se dirigir a Budapeste, capital húngara, onde deve ficar até o dia 19 de fevereiro.

Negociada em novembro do ano passado pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, a viagem de Bolsonaro à Rússia pode ter consequências negativas para a diplomacia brasileira, tendo em vista um conflito bélico iminente entre russos e ucranianos.

O encontro com Orbán não é menos problemático para as relações exteriores brasileiras. Líder conservador de extrema-direita, o presidente húngaro vai disputar pela quarta vez consecutiva as eleições do país, marcadas para o início de abril.

Pela primeira vez, o cenário se mostra mais difícil, com uma oposição mais unida contra ele, o que aumenta as chances de derrota. Se Orbán for derrotado, novamente o presidente brasileiro se verá com menos um país aliado no continente europeu.

Embora o Ministério das Relações Exteriores não tenha respondido aos questionamentos da reportagem sobre quais são os objetivos da missão, especialistas em relações exteriores consultados pelo jornal O Tempo avaliam que Bolsonaro vai focar nas relações comerciais e acordos bilaterais com esses países, sem mencionar assuntos mais polêmicos.

A iniciativa também revela a busca do presidente de mostrar para sua base de apoio, em ano eleitoral, que não está isolado no cenário internacional.

“A Hungria está nesse pacote porque a base de apoio ao presidente é conservadora, e o Orbán é um dos principais proponentes do conservadorismo internacional, tendo em vista o debate sobre aborto, união homoafetiva, entre outros”, nota Leonardo Paz Neves, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional (NPII) da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e professor de Relações Internacionais da Faculdade Ibmec.

“A visita à Rússia e à Hungria se encaixa na filosofia política do presidente, para ter repercussão no público de apoiadores dele. Bolsonaro disse publicamente que iria visitar esses países porque vê Putin e Orbán como conservadores”, complementa o diplomata Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres (Inglaterra) e em Washington (Estados Unidos).

Por outro lado, a iniciativa do mandatário brasileiro de manter a visita a Putin e Orbán não tende a aumentar as chances de melhorar sua imagem para dirigentes do Ocidente.

“Bolsonaro tem sido considerado um ator político relativamente tóxico no ambiente internacional. Boa parte dos líderes mundiais não quer aparecer ao lado dele, não o convida para visitas, por isso se considera que ele está isolado”, observa Neves.

Desde que Putin mobilizou milhares de tropas para a fronteira com a Ucrânia, criou-se um cenário de tensão com os países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderados pelos Estados Unidos. Isso porque o líder russo tem acusado a organização de tentar ampliar sua influência no Leste Europeu. Por temer que a Ucrânia integre a organização, Putin decidiu intimidar o país vizinho.

Para o diplomata Paulo Roberto Almeida, que foi embaixador do Brasil em Paris (França) e Washington, a viagem de Bolsonaro à Rússia não será interpretada somente como um encontro para acordos bilaterais, diante do atual contexto de conflito na região.

“É uma viagem inoportuna e indesejável, não apenas porque os Estados Unidos se manifestaram contrariamente à manutenção dessa viagem do Bolsonaro. A diplomacia brasileira sempre foi adepta do absoluto respeito ao direito internacional, por isso essa viagem é condenável”, ressaltou o diplomata.

Exercícios militares

A Rússia deu início na quinta-feira a uma série de exercícios militares que serão realizados, em conjunto com a vizinha Belarus, durante dez dias em meio à tensão com a Ucrânia.

Chamado de Union Resolve 2022, os exercícios vão ser concentrados na “supressão e na reação a agressões externas” e devem envolver cerca de 30 mil soldados russos. Para o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, endossando o coro do que foi dito quando os treinamentos foram anunciados, a ação entre os dois países “nos deixa pensar que esse é um gesto de grande violência e isso nos preocupou”.

Em entrevista às agências de notícia do país, o ministro das Relações Externas, Sergei Lavrov, afirmou que os ultimatos e as ameaças dos ocidentais contra seu país “não levam a nada” e que “ataques ideológicos não vão nos levar a lugar nenhum”. As informações são do jornal O Tempo e do portal de notícias Terra.

O Sul

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