sábado, 19 de fevereiro de 2022

Agente de jogadores de futebol é investigado por suspeita de ligação com o PCC, diz polícia

 Danilo Lima de Oliveira, conhecido na facção como Tripa, teria ameaçado esquartejar suspeito de mandar matar o megatraficante Anselmo Becheli

O agente de jogadores de futebol Danilo Lima de Oliveira é conhecido pela Polícia Civil de São Paulo por um apelido nada amistoso: Tripa. De acordo com o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), Oliveira tem relação com membros da cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e é um dos suspeitos de ter sequestrado, torturado psicologicamente e ameaçado matar, em 18 de janeiro deste ano, o corretor de imóveis Antonio Vinícius Lopes Gritzbach, 36 anos.

No meio do futebol, Oliveira foi relacionado, nos últimos anos, como sócio da empresa UJ Football Talent. Em agosto de 2020, por exemplo, parte da imprensa divulgou que ele participou da renovação contratual do lateral-direito Daniel Lima com o Fluminense. Apesar das aparições públicas e das entrevistas feitas em conjunto com Oliveira, a empresa UJ Football Talent e seu dono, Ulisses Jorge, negam a sociedade com Oliveira.

No site da UJ Football Talent, até a Justiça decretar nesta semana a prisão temporária (por 30 dias) de Oliveira, existia uma foto, juntamente com uma notícia, que ressaltavam a participação da empresa, de Ulisses Jorge e de Oliveira na negociação que envolveu o jogador Emerson Royal, que havia saído do Betis para o Barcelona, times da Espanha. Hoje, Royal joga no Tottenham, da Inglaterra, e dispusta uma vaga na lateral-direita da seleção brasileira.

Por meio de nota, a UJ Football Talent afirmou que, desde a sua fundação, funciona como uma empresa individual, conhecida como Eireli, sendo conduzida de maneira unipessoal, ou seja, sem o envolvimento de múltiplos sócios.

"Danilo Lima não é e nunca foi sócio da agência e nem poderia, dada a modalidade societária dela. Ele apenas participou do processo de indicação de um único atleta entre os 102 que compõem a carteira da UJ, sem nenhuma ligação além dessa. Portanto, questionamentos ligados ao caso em específico [ligação dele com o PCC] cabem, única e exclusivamente, à defesa de Oliveira e não à UJ", afirmou a agência de atletas.

No entanto, a sociedade entre UJ Football Talent e Oliveira foi apontada à reportagem por policiais civis responsáveis por descobrir o que está por trás da morte de Anselmo.

A assessoria de imprensa afirmou que, no passado, a informação realmente foi divulgada e que não viram problema, à época, em usar o termo "sócio", mas que, agora, o contexto é outro. A assessoria reafirma que Danilo participou apenas de uma negociação.

“Importante ressaltar ainda que não só é leviana a associação da UJ a Oliveira, sem base na realidade dos fatos, como também é completamente inaceitável a utilização dos nomes de atletas agenciados em conexão indevida com episódios alheios a eles e também à agência”, informou, na nota, a UJ Football Talent.

Corretor de imóveis acusa

O corretor de imóveis Gritzbach, responsável pelas acusações contra Oliveira, foi preso pela polícia, em 8 de fevereiro, sob suspeita de ter mandado matar, em 27 de dezembro de 2021, o megatraficante internacional Anselmo Becheli Santa Fausta.

Segundo investigação do DHPP, Anselmo passou a Gritzbach US$ 100 milhões para que ele, juntamente com Pablo Henrique Borges, investisse o valor em criptomoedas. O dinheiro, no entanto, sumiu. E a polícia suspeita que essa foi a razão pela qual Gritzbach e Borges mandaram matar Anselmo. Borges é um empresário do ramo de criptomoedas e também está preso. Ele foi localizado em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro.

A polícia afirma que Oliveira era muito próximo de Anselmo. Em depoimento ao DHPP, Gritzbach afirmou que Oliveira e outros integrantes do PCC o ameaçaram de morte em uma casa no Tatuapé. Os criminosos, segundo o corretor de imóveis, queriam saber onde estava o dinheiro de Anselmo e perguntavam por que ele planejava fugir do Brasil — ele respondeu que viajaria de férias para Miami, retornando a São Paulo em 2 de fevereiro.

O corretor afirmou que ficou, ao todo, nove horas em poder dos integrantes do PCC. Gritzbach narrou à polícia que Oliveira era o mais violento entre eles. Em determinado momento, afirmou que ele chegou a calçar luvas cirúrgicas pretas e dizer que estava se preparando para esquartejá-lo ali mesmo.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Oliveira. O advogado de Gritzbach, Ivelson Salotto, afirmou estar convicto de que seu cliente não tem nenhum envolvimento com a morte de Anselmo. "Não faz parte de qualquer organização criminosa e conquistou o seu patrimônio através do trabalho honesto", afirmou.

Os suspeitos da morte de Anselmo

De acordo com investigação do DHPP, Pablo Borges é amigo do corretor de imóveis Gritzbach. Os dois seriam os mandantes do crime praticado contra Anselmo. Borges já é conhecido pela polícia. Em 2018, ele foi preso por desviar mais de R$ 400 milhões em golpes bancários. Na casa do empresário, no Morumbi, bairro nobre de São Paulo, a polícia apreendeu o passaporte da mulher dele.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, defensor de Borges, afirmou que a prisão é “teratológica”, já que o cliente não foi ouvido e não tem nada que o ligue ao crime, exceto o fato de ter sido segurança de David há algum tempo, que é o homem apontado de ter contratado o executor.

David Moreira da Silva é um agente penitenciário que, segundo a Polícia Civil, é investigado como contratado por Gritzbach para executar Anselmo. Para matar Anselmo, David teria contratado Noé Alves Shaun, já responsabilizado pelo crime. A reportagem não localizou a defesa de David.

Noé matou Anselmo, mas não sabia que ele era influente dentro do crime organizado de São Paulo, de acordo com a polícia. Noé acreditava que Anselmo era apenas um empresário que estaria tentando extorquir dinheiro de Gritzbach. Após o homicídio, a chefia do PCC descobriu que o executor de Anselmo era Noé e não o perdoou. Noé foi morto 20 dias após o homicídio de Anselmo. Ele foi esquartejado e sua cabeça foi deixada em uma praça, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, perto de onde Anselmo foi assassinado.

De acordo com a polícia, Noé, o asssassino de Anselmo, esperou cerca de duas horas até que ele saísse do apartamento onde morava, no Jardim Anália Franco, bairro rico da zona leste de São Paulo. Noé estava em um Fiat Palio cinza quando atirou contra Anselmo.

Robinson Granger de Moura, conhecido como Moly, também foi alvo da operação por suspeita de ter ajudado Anselmo a lavar dinheiro. Ele é dono de uma hamburgueria no Tatuapé. Também não foi encontrado pela polícia e é considerado foragido. A defesa dele não foi encontrada até a publicação desta reportagem.

O último alvo da operação da polícia foi Rafael Maeda Pires, o Japonês, que estava na sessão de tortura psicológica de Gritzbach. Ele é investigado sob suspeita de realizar serviços financeiros para Anselmo. Ainda de acordo com a polícia, Pires desempenhava a mesma função de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, que foi assassinado no fim de fevereiro de 2018, após ter matado, no Ceará, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Sousa, o Paca. Simone e Sousa eram dois dos chefes do PCC. A defesa de Pires não foi encontrada.

Filha de chefe de esquema de lavagem do PCC foi sócia de Gritzbach

O corretor Gritzbach ascendeu financeiramente nos últimos anos. A primeira hipótese para isso está relacionada ao fato de ele ter vendido apartamentos de alto padrão a megatraficantes ligados ao PCC. Um de seus clientes foi Anselmo Becheli Santa Fausta, o Magrelo. No entanto, alguns detalhes para explicar sua evolução patrimonial não estão claros.

Gritzbach tinha uma sociedade com a filha de um empresário apontado pela Polícia Federal, em 2020, como chefe de um esquema de lavagem de dinheiro do PCC: José Carlos Gonçalves, conhecido como Alemão.

Gonçalves era dono do helicóptero que foi usado nas mortes de Rogério de Simone e Fabiano de Sousa. Gonçalves lavou dinheiro para a facção criminosa por mais de dez anos, segundo a operação da PF denominada "Rei do Crime".

Yasmin Vitorino Gonçalves, filha de Gonçalves, foi sócia de Gritzbach durante um curto período, em 2020, na empresa SP Empreendimentos e Investimentos, que oferecia serviços de holding de instituições não financeiras em um edifício sediado no Anália Franco, na zona leste da capital. A empresa está desativada. Yasmin foi alvo da operação Rei do Crime juntamente com o pai.

A operação da PF teve como uma de suas bases de sustentação uma delação premiada feita pelo piloto Felipe Ramos Morais, que levou Simone e Sousa à morte. Ele afirmou à polícia que o helicóptero era de Gonçalves e que, posteriormente, o lavador de dinheiro do PCC vendeu a aeronave para Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro — que matou Simone e Sousa. Semanas depois das mortes no Ceará, Silva foi metralhado na porta de um hotel no Tatuapé.

O advogado Paulo Taunay Perez, defensor de Gonçalves e de Yasmin, afirmou que seus clientes estão soltos. Ele disse que a sociedade entre Yasmin e o corretor Gritzbach durou apenas 40 dias e terminou devido a um desentendimento comercial. Perez nega que o helicóptero usado nas mortes de Simone e Sousa fosse de Gonçalves.


R7 e Correio do Povo

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