Diante da pressão pela análise do projeto que legaliza o jogo, integrantes da bancada evangélica na Câmara dos Deputados trocaram uma série de acusações na manhã de quinta-feira. Segundo informações do jornal O Globo, parlamentares ligados ao pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, levantaram suspeitas de que o líder da bancada, Cezinha de Madureira (PSD-SP), fechou um acordo secreto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para acelerar a votação do texto.
A acusação é a de que houve um acerto, sem consulta ao restante do grupo, em troca da análise da PEC que isentou os templos religiosos do pagamento IPTU, aprovada na quinta-feira.
Ao jornal O Globo, Cezinha negou ter fechado qualquer acordo e disse que trabalharia para obstruir o plenário. Ele afirmou que a bancada é contra a legalização dos jogos, e que não há flexibilização.
Na Câmara, a maior parte do grupo diz publicamente que a legalização dos jogos é um projeto imoral e que corrói os valores da família. Entre telefonemas, mensagens de WhatsApp e conversas nos corredores na Câmara, o assunto na bancada era um só: a suspeita de um entendimento debaixo dos panos, sem transparência.
Oponentes internos de Cezinha dizem que não faz sentido o próprio Lira anunciar que votaria a PEC que dá isenção às igrejas sem um acordo com o líder da bancada. Dizem também que esse texto foi uma sugestão de David Soares, filho do pastor RR Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus.
Para se defender, Cezinha passou a enviar pelo Whatsapp fotos de uma reunião, há cerca de duas semanas, em que estiveram presentes Arthur Lira e o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), ligado a Malafaia.
Na ocasião, Lira falou sobre os projetos que pretendia pautar até o fim do ano, como a legalização dos jogos. O ponto de Cezinha é que Lira vem tentando emplacar a pauta, mas a bancada evangélica sempre se posicionou de forma contrária.
Durante a sessão, Lira também disse que uma coisa não estava relacionada a outra.
“Eu tenho certeza que a bancada evangélica vai votar contra o PL dos jogos por definição, portanto, como uma coisa vincula a outra? Não temos acordo de mérito, temos acordo de procedimento”, disse Lira.
Cezinha reconhece que a bancada também sugeriu a votação da PEC que dá isenção às igrejas. Mas alega que não há um “toma lá, dá cá”.
A Câmara dos Deputados discutiu na quinta-feira (16), na sessão do Plenário, o Projeto de Lei 442/91, que legaliza os jogos no Brasil, inclusive os cassinos. Segundo Arthur Lira, a votação da matéria ocorrerá no próximo ano.
“O projeto será votado em fevereiro, com o tempo necessário para que seja maturado, discutido, para notarmos a quem interessa regularizar jogos, a quem não interessa regularizar jogos; quais são os seus efeitos, quais são as suas causas; o que é bom e o que é ruim”, disse Lira.
No mesmo dia, a Câmara dos Deputados aprovou o regime de urgência do projeto que legaliza os jogos de cassino e bingos no Brasil e, em seguida, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 200/216, que isenta templos alugados do pagamento de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Integrantes da bancada evangélica criticaram o projeto dos jogos e elogiaram a isenção.
Integrante da bancada evangélica, o deputado Eli Borges (Solidariedade-TO) afirmou que os jogos de azar levam a vício e destroem famílias. “Esta doença faz com que a pessoa jogue reiteradamente, trazendo problemas de endividamento para a família, separação familiar e comprometimento de salário por toda a vida”, declarou.
Ele disse que locais com cassinos liberados enfrentam o custo social da medida: criminalidade em alta e tráfico de drogas.
O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) também condenou a proposta, que associou à legalização das drogas e da prostituição. “Os efeitos colaterais da legalização dos jogos de azar se tornarão maiores do que quaisquer aparentes benefícios que poderiam ser liberados com a legalização dos cassinos. Jogos de azar desagregam as famílias e são a mãe do despertar dos piores vícios do homem”, disse.
A bancada evangélica tentou bloquear a votação do requerimento de urgência do projeto. No entanto, foi feito acordo com partidos da oposição para aprovar a urgência e viabilizar o início da discussão da proposta.
O líder do PCdoB, deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE), afirmou que o acordo passou pelo adiamento da discussão de projeto sobre defensivos agrícolas. “Este só será votado no ano que vem. Portanto, o acordo que aqui se estabeleceu atende-nos”, afirmou. As informações são do jornal O Globo e da Agência Câmara de Notícias.
O Sul
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