domingo, 26 de dezembro de 2021

Expectativa melhora, mas confiança do consumidor brasileiro continua em baixa

 


A melhora das expectativas levou a uma alta de 0,6 ponto percentual na confiança do consumidor em dezembro. Com o resultado, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) termina o ano com 75,5 pontos, 2,6 pontos abaixo do fim do ano passado e mais de 12 pontos menor que os 87,8 pontos de fevereiro de 2020, imediatamente antes da pandemia.

O resultado de dezembro foi fruto da piora na avaliação da situação corrente ao mesmo tempo em que houve melhora das expectativas. O Índice de Situação Atual (ISA) recuou 1,3 ponto, para 65,6 pontos. O Índice de Expectativas (IE) subiu 2 pontos, para 83,4 pontos.

A coordenadora de Sondagens do FGV Ibre, Viviane Seda Bittencourt, ressalta que o patamar da confiança ainda é “bem ruim”. Para ela, a melhora de dezembro, calcada basicamente nas expectativas, não adere ao cenário observado. “O cenário que vemos
não é o melhor para [daqui a] seis meses. O desemprego segue elevado, a inflação alta e com perspectiva de aceleração no primeiro trimestre e as famílias endividadas. É um cenário que é preocupante porque não se resolve facilmente”, diz.

Ela frisa que a melhora das expectativas é alicerçada nas camadas de renda mais alta. Viviane diz que “faz sentido” esse movimento partir das rendas mais elevadas, uma vez que é para esse segmento que há alguma melhora do mercado de trabalho.“Normalmente [a renda mais alta] tem a escolaridade mais alta associada e tem reserva financeira, o que não acontece nas faixas [de renda] mais baixas.”

Viviane compara o desempenho da confiança nos dois anos afetados pela pandemia. Em 2020, a queda no ICC permeava “de forma igualitária” todas as faixas de renda. “O auxílio emergencial proporcionou que famílias de baixa renda tivessem segurança nesse período”, lembra.

Em 2021 houve a interrupção e diminuição do auxílio e a instituição do Auxílio Brasil foi feita em novas bases, com um número menor de beneficiários. “Em 2021 houve um descolamento muito grande [por faixa de renda]. O emprego voltou para quem é mais qualificado e a desigualdade aumentou fortemente”, frisa.

2022

Para 2022 a economista vê dificuldade para que o ICC volte a aumentar de forma consistente. Ela lembra que, pela pesquisa, a baixa renda não está disposta a consumir e as faixas de renda mais altas seguem cautelosas. “O consumo não deve ser uma
válvula de propulsão da atividade econômica, que deverá vir de outras formas”, diz.

Viviane ressalta que a inflação que afeta a confiança dos consumidores foi fruto de um choque de oferta e levou a uma política monetária mais restritiva. Para ela, o governo terá que achar a dosagem ideal entre incentivos necessários à economia neste
momento e a restrição monetária, importante para que não haja também uma inflação de demanda.

“A política monetária já está mais restritiva, mas é gradual. Espero que seja gradual mesmo para que haja também um incentivo para a economia crescer”, afirma Viviane, acrescentando que o ideal seria que a recuperação econômica viesse do setor de serviços, que é o que mais contrata.

Outra incerteza no horizonte de 2022 é o calendário eleitoral. Para ela, a eleição pode favorecer ou piorar a confiança. “Já passamos por dois anos bem instáveis politicamente e vimos o impacto que isso causa nas expectativas. Aumenta a incerteza
e pode ser um risco adicional”, destaca.

O Sul

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