Valorização do cereal, mesmo durante o período da colheita, eleva a pressão sobre moinhos, que estimam um aumento superior a 20%
Em plena colheita no Rio Grande do Sul, os preços do trigo continuam em alta e elevam a pressão sobre os moinhos e indústrias de panificação, que preveem repasses a preços de farinhas, pães, biscoitos e massas para dezembro e janeiro. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o cereal subiu em média 25% neste ano no país. A valorização acompanha o aumento das cotações do produto no mercado internacional, marcado por uma oferta reduzida e forte demanda global.
No Rio Grande do Sul, 97% da área plantada com trigo neste ano já foi colhida, de acordo com a Emater, e a previsão é de uma safra recorde de pelo menos 3,5 milhões de toneladas. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado (Sinditrigo-RS), Rogério Tondo, o setor opera com margens apertadas e a disparada dos preços do trigo numa época em que tradicionalmente caem pegou os moinhos com estoques baixos, para no máximo 30 dias de suprimento. “Os moinhos não se preparam para um longo período, para poder entrar na colheita e comprar trigos mais baratos. Ficaram esperando que com a nova safra o preço baixaria”, diz Tondo, que estima um aumento superior a 20% no preço da farinha de trigo vendida ao varejo a partir deste mês.
Neste ano, houve quebra de safra em países produtores da América do Norte, e a Rússia, maior exportador mundial de trigo, vem limitando os embarques como forma de controlar a inflação interna. Além disso, observa Tondo, o temor de desabastecimento diante da evolução da pandemia de Covid-19 está levando países a aumentar seus estoques de segurança, pressionando os preços. Outro fator que reforça a necessidade de reajuste para a farinha de trigo é a queda dos preços do farelo de trigo, usado pela indústria de carnes como substituto do milho na formulação de rações animais. “O farelo é um redutor de custos. Se o trigo sobe e o farelo sobe, (este) acaba amortecendo o repasse na farinha”, explica o empresário.
O vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do RS (Sindipan-RS), Arildo Bennech Oliveira, projeta que as empresas do setor apliquem aumentos de 10% a 20% aos produtos. “É um ano terrível em termos de custos. Não há redução de vendas, o que se tem é redução de resultados”, diz. Segundo Oliveira, a correção é necessária para acompanhar também custos de outros insumos, como óleo de soja, margarina e o fluido R404a, usado em refrigeração comercial.
Correio do Povo
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