Moeda americana caiu 0,59%, a R$ 5,56, e o Ibovespa subiu 0,1%, a 110.786,43 pontos, com garantias sobre de teto de gasto
O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira em queda firme, devolvendo parte dos ganhos expressivos da terça-feira, quando chegou a tocar na casa de R$ 5,61 na máxima intradia. Segundo operadores, o clima externo de apetite ao risco, com avanço das divisas emergentes, abriu espaço para ajustes de posições e realização de lucros, enquanto se espera uma definição do formato final do Auxílio Brasil.
Além do ambiente positivo no exterior, operadores também citaram como fatores que contribuíram para recuo dólar nesta quarta as intervenções do Banco Central pela manhã, via swaps cambiais, e a perspectiva de que haja uma aceleração do aperto monetário no encontro do Copom neste mês (como precificado no mercado de juros futuros), justamente para se contrapor aos efeitos deletérios da deterioração fiscal sobre as expectativas de inflação.
O dólar até ensaiou uma queda mais acentuada à tarde e registrou mínima de R$ 5,5213 (-1,30%) em meio a declarações do ministro da Cidadania, João Roma, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto sobre o Auxílio Brasil. Ele disse que haverá um reajuste linear permanente de 20% em todos os benefícios sociais até dezembro e reiterou o compromisso de pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil de forma temporária, até o fim de 2022. "Não estamos aventando que o pagamento desses benefícios se dê por créditos extraordinários", disse o ministro, acrescentando que o governo tem compromisso com "a responsabilidade fiscal".
O alívio foi, contudo, pontual. Logo, a moeda norte-americana reduziu o ritmo de perdas e se afastando das mínimas. No fim do pregão, o dólar à vista era negociado a R$ 5,5608, em queda de 0,59%. Mesmo com a queda desta quarta, a moeda ainda acumula ganhos de 1,95% na semana e registra avanço de 2,10% em outubro.
O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, avalia que ainda faltam definições sobre a estrutura de financiamento do programa social e que o governo parece querer ganhar tempo para acalmar os ânimos. "Parecem dizer que vão respeitar a regra fiscal ao estabelecer que a as despesas com precatórios e as emendas parlamentares ficam dentro do teto e o gasto com o Auxílio Brasil pode ficar de fora, porque é transitório", diz Velho, ressaltando que há sinais de que o valor extrateto pode ficar em R$ 30 bilhões, limite aceito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Em evento agora no fim da tarde, Guedes afirmou que contava como a PEC dos Precatórios e a reforma do Imposto de Renda para financiar o novo programa. "Mas como o projeto do IR não avança no Senado, o governo "tem que tomar uma atitude". "Em vez dos R$ 300 sustentáveis que o IR permitiria, fizemos número maior referência ao valor de R$ 400 do Auxílio Brasil). Não temos fonte para que programa seja permanente, então uma parte é transitória", disse Guedes, ressaltando que o "compromisso fiscal continua".
A despeito do alívio nesta quarta na taxa de câmbio, Velho não vislumbra possibilidade de uma melhora significativa dos ativos domésticos, com o dólar recuando para a casa de R$ 5,40, dado que o governo dá sinais reiterados de que vai praticar uma política fiscal mais expansionista. "O governo Bolsonaro e o presidente da Câmara (Arthur Lira) estão juntos e vão buscar a reeleição. Isso está claro com várias medidas que estão tomando, como o vale gás, a mudança no ICMS e a pressão para mudar a bandeira tarifária", diz Velho.
A economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli atribui a queda do dólar nesta quarta a dois motivos principais: o avanço dos juros futuros, que precificam aumento do ritmo de alta da Selic, e a bateria de leilões de swap cambial realizada pelo Banco Central. "A autoridade monetária deixou claro que vai utilizar os instrumentos que tem uma variação atípica do dólar", diz Quartaroli. "A volatilidade, contudo, deve continuar, já que as incertezas sobre o Auxílio Brasil e, consequentemente, com o teto dos gastos continuam no radar dos mercados", afirma.
Pela manhã, o Banco Central realizou três leilões de swaps cambiais, no valor total de US$ 1,950 bilhão, dos quais US$ 1,2 bilhão (US$ 500 milhões extras e US$ 700 milhões para demanda de overhedge) representam injeção de recursos novos no sistema. Embora não sejam capazes de ditar o rumo da taxa de câmbio, as intervenções do BC, dizem operadores, ajuda a modular as oscilações mais abruptas por conta de demandas pontuais.
Juros
Mantidas as incertezas sobre o desenho do Auxílio Brasil, os juros tiveram um dia de volatilidade e fecharam em alta. A demora em se oficializar o programa tem trazido angústia aos investidores, em meio à queda de braço entre a área política e econômica. O mercado já se conformava com a ideia de que as despesas com o programa que ficarão fora do teto de gastos seriam de R$ 30 bilhões, mas o risco de o valor ser maior cresceu da terça-feira para esta quarta-feira, dada a pressão da ala política. Peça fundamental nessa engenharia, a situação da PEC dos Precatórios também continua emperrada, cancelada a reunião da comissão especial da Câmara que analisa o texto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 9,852%, no ajuste anterior, para 9,90%, e a do DI para janeiro de 2025, de 10,896% para 10,90%. A do DI para janeiro de 2027 fechou em 11,27%, de 11,194%.
"Com a inflação rodando alta, o BC atrás da curva, a perspectiva ruim para o fiscal e com uma eleição pela frente, o mercado tem mesmo de botar prêmio", disse o operador de renda fixa da Terra Investimentos Paulo Nepomuceno.
O cancelamento do anúncio do Auxílio Brasil, na terça, deixou o mercado na esperança de que o governo pudesse, após as pesadas críticas, repensar o desenho que previa ao menos R$ 30 bilhões em despesas fora do teto, referentes a uma das parcelas de R$ 100 do auxílio emergencial. Desde a terça à noite, porém, circularam informações de que a ala política defendia R$ 200 no extrateto, o que logo foi associado à suspensão do anúncio.
O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, disse, no entanto, que o adiamento deveu-se ao desenho exato do programa e a uma tentativa de melhorar a comunicação da medida, mas "não sobre o montante". Segundo ele, os R$ 30 bilhões seriam a "solução final".
Pouco antes do ministro da Cidadania, João Roma, no meio da tarde, começar sua fala sobre "estratégias e rumos" do Auxílio Brasil, o mercado chegou a se animar, com as taxas zerando a alta e ensaiando queda. Mas o movimento durou pouco, na medida em que as declarações, no entender dos agentes, foram inconclusivas. "O mercado melhorou um pouco antes do Roma na esperança que viesse algo, mas foi frustrante", disse um trader.
Roma disse que o governo está atualizando informações sobre programas de transferência de renda e que o Auxílio Brasil será lançado em novembro e que nenhuma das famílias receberá menos que R$ 400. Mas não revelou aquilo que mais o mercado quer saber: quais serão exatamente as fontes de receitas. Disse apenas que tudo será feito com responsabilidade fiscal. "Não estamos aventando que o pagamento desses benefícios se dê por créditos extraordinários", afirmou, sem explicar como isso será possível. O ministro da Economia, Paulo Guedes, no fim da tarde, também garantiu que tudo será feito dentro da estrutura fiscal.
Para o Banco Fator, do economista-chefe José Francisco Lima Gonçalves, o sinal para a aceleração da alta é o viés no balanço de riscos do Copom: o regime fiscal. "Não há alternativa a elevar a Selic em 125 pontos, para 7,50% e sugerir mais 125 pontos em dezembro, antecipando o ciclo que se esperava para 2022 e fechando o ano a 8,75%", destaca o economista, em relatório.
Bolsa
O Ibovespa manteve recuperação parcial nesta quarta-feira, vindo de perda acima de 3% no dia anterior, refletindo em ambos os casos os persistentes temores sobre a situação fiscal doméstica, às vésperas de definição do auxílio social para 2022, ano em que o governo Bolsonaro jogará as últimas cartas em busca da reeleição. Com o blue chip Dow Jones em nova máxima histórica intradia, a referência da B3 buscou reduzir o atraso na semana em relação a Wall Street, ainda que de forma tímida, com o dólar em baixa na sessão, mas a R$ 5,56, após ter chegado a R$ 5,61 na máxima de terça.
Ao final, o Ibovespa mostrava leve alta de 0,10%, aos 110.786,43 pontos, entre mínima de 110.175,64 e máxima de 112.023,13, à tarde, saindo de abertura aos 110.677,48 pontos.
O giro ficou em R$ 34,6 bilhões nesta quarta-feira e, na semana, as perdas estão em 3,37% - comparadas a ganho de até 1,51% em Nova York (Nasdaq), em meio à positiva temporada de resultados trimestrais. Após ter virado para o negativo na terça no mês, o Ibovespa parecia que retornaria para o positivo, mas a falta de fôlego no fim da sessão manteve as perdas em outubro a 0,17% - no ano, cede 6,92%.
Pouco depois de o dólar ir à mínima do dia, em baixa de 1,30%, a R$ 5,5213, o Ibovespa levou um pouco adiante a máxima do dia, retomando os 112 mil pontos, em alta acima de 1% na sessão, vindo de queda de 3,28% no fechamento de terça. A oscilação, contudo, se mostrou pontual, com o dólar rapidamente voltando aos R$ 5,54, antes de fechar a R$ 5,56, e o Ibovespa se acomodando abaixo dos 112 mil, enquanto o ministro da Cidadania falava sobre o Auxílio Brasil, que deve ser finalizado em outubro para que seja executado a partir de novembro.
Perto do fechamento da sessão, durante fala do ministro Guedes, que reiterou que "quem tem voto é a política", a recuperação do Ibovespa encolheu ainda mais, saindo de 111 mil para os 110 mil pontos, colocando o índice não muito distante do zero a zero no fechamento e mantendo o índice no negativo no mês.
Antes disso, "a referência de Roma a que o aumento de gastos na passagem do Bolsa Família para o Auxílio Brasil seria de 20%, portanto dentro do teto, chegou a animar o mercado, com efeito para o câmbio e a Bolsa. Mas essa animação durou pouco: há muito barulho, muita surpresa na forma como o governo tem feito as coisas, então acaba prevalecendo cautela até que se conheça o resultado da reunião de Guedes com Lira", diz Danilo Batara, sócio-fundador e head da mesa de operações da Delta Flow Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual.
"Não tem ainda uma contrapartida (para esses gastos), lembrando que a PEC dos Precatórios foi adiada (possivelmente) para amanhã (na comissão especial da Câmara, que votaria hoje o parecer do relator, Hugo Motta), o que ajuda a entender a devolução rápida vista no Ibovespa", acrescenta Batara, observando um elemento positivo que emergiu na tarde de terça, com o adiamento de última hora da cerimônia de lançamento do Auxílio Brasil, que havia sido programada para as 17h no Palácio do Planalto.
"A equipe econômica não vai assinar da forma como estava sendo sinalizado, o que, se viesse a ocorrer, seria uma indicação ruim para o futuro com relação a gastos e à situação fiscal", diz Batara.
Assim, o mercado segue atento à queda de braço entre as alas política e econômica do governo sobre o volume de recursos que eventualmente venha a ficar fora do teto para financiar o auxílio mensal de R$ 400 a ser concedido até o fim de 2022: a princípio, a equipe econômica queria limitar a R$ 30 bilhões o volume "extrateto", mas a ala política defendeu desembolso maior.
Na terça, em live do JPMorgan à qual o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) teve acesso, o secretário especial do Tesouro e do Orçamento, Bruno Funchal, havia dito que os R$ 30 bilhões fora do teto já seriam uma "solução final". Agora, a equipe econômica estaria trabalhando para limitar o montante fora da regra fiscal e evitar aumento do número de beneficiários, disse também o secretário.
Nesta quarta, Guedes cancelou todos os compromissos que teria em São Paulo para ficar em Brasília, apenas com despachos internos na sede do ministério, segundo a assessoria de imprensa. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que planeja pagar R$ 400 aos beneficiários do Auxílio Brasil até dezembro de 2022, como revelou o Broadcast na segunda-feira à noite.
Entre os componentes da carteira teórica do Ibovespa, a recuperação das ações de Petrobras (ON +1,70%, PN +1,43%) contribuiu para equilibrar nova correção em Vale ON (-3,28%). "A Petrobras reiterou que não está deixando de cumprir contratos, ante reclamações de algumas distribuidoras. Segundo essas empresas, a Petrobras estaria impondo cotas de fornecimento de gasolina e diesel para o mês que vem, o que é refutado pela Petrobras", aponta Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.
Por outro lado, o ajuste negativo em Vale, assim como o observado no setor de siderurgia nesta quarta-feira (Usiminas PNA -3,98%), mesmo com estabilidade para o preço do minério de ferro na China, refletiu forte queda, chegando ao limite diário de variação, nos contratos futuros de carvão metalúrgico e coque, com indicação, por produtores chineses, de que haverá aumento da oferta de carvão neste inverno e na próxima primavera do hemisfério norte, independente dos custos, explica a analista da Toro.
Agência Estado e Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário