sábado, 30 de outubro de 2021

Dólar avança 0,37% no dia e encerra outubro com valorização de 3,67%

 Moeda norte-americana termina mês cotada a R$ 5,64


Com muita volatilidade e trocas de sinais ao longo do dia, o dólar à vista acabou encerrando a sessão desta sexta-feira, em alta, alinhando ao sinal predominante da moeda norte-americana no exterior. O real, contudo, apresentou perdas bem mais amenas que seus pares, como o rand sul-africano e o peso mexicano - movimento atribuído por operadores a fluxos pontuais de recursos e ajustes na rolagem de contratos futuros.

Pela manhã e início da tarde, quando se deu a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro, o dólar chegou a correr até a máxima de R$ 5,6629 (+0,67%), refletindo preocupações fiscais, apreensão com a paralisação dos caminhoneiros no dia 1º de novembro e desconforto provocado pela declaração do presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira de que a Petrobras não devia dar "lucro muito alto".

Já a mínima, de R$ 5,5981 (-0,48%), veio ao longo da tarde, na esteira da fala novo secretário do Tesouro, Paulo Valle, de que pode atuar no mercado em conjunto com o Banco Central. Experiente funcionário de carreira do Tesouro, Valle - em apresentação de detalhes da PEC dos Precatórios - sinalizou que, além retirar oferta de títulos prefixados, o órgão pode intervir com a recompra de títulos.

Mas o alívio na taxa de câmbio foi momentâneo. Com a aceleração da queda do Ibovespa e o ambiente externo ruim para divisas emergentes, o dólar acabou recuperando fôlego e voltou não apenas a ser negociado acima de R$ 5,60 como tocou na casa de R$ 5,65. No fim do pregão, era cotado a R$ 5,6461, em alta de 0,37%. Com o avanço desta sexta-feira, a moeda fechou a semana com variação de 0,33% e acumulou valorização de 3,67% em outubro, após ter subido 5,30% em setembro.

O detalhamento da PEC pelos novos integrantes da equipe econômica não chegou a ter influência relevante na formação da taxa de câmbio, segundo profissionais ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Os temores giram em torno de possíveis alterações no texto, com inclusão de novos furos no teto para acomodar despesas, e da própria chance de aprovação da proposta, que, após eventual chancela da Câmara, ainda tem de ir ao Senado, casa refratária a Bolsonaro.

Segundo os cálculos do Ministério da Economia, o impacto total da PEC dos Precatórios é de R$ 91,6 bilhões para 2022 - acima do estimado anteriormente (R$ 83,6 bilhões). O limite do pagamento de precatórios traria espaço de R$ 44,2 bilhões, ao passo que a mudança dos parâmetros de inflação para correção do teto liberaria R$ 47 bilhões. Além dos efeitos em 2022, a alteração do teto abriria espaço de R$ 15 bilhões ainda neste ano, que seriam para despesas com vacinação contra covid-10 ou relacionadas "a ações emergenciais e temporária de caráter socioeconômico".

O novo secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, rechaçou qualquer plano para pôr o Auxílio Brasil de R$ 400 que não seja a aprovação da PEC. Já Valle disse as expectativas devem voltar a ficar ancoradas quando for definida a versão final da proposta. "Essa volatilidade do mercado é devida a incertezas criadas pelo processo de votação da PEC", afirmou.

O diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, não vê espaço para um alívio na taxa de câmbio no curto prazo e prevê nova onda de "estresse" na semana que vem com as negociações para votação da PEC dos Precatórios e a divulgação da ata do Copom, além das repercussões da paralisação dos caminhoneiros. "Hoje, o mercado foi um pouco atípico pela formação da Ptax. Mas a pressão continua forte. Não sei se vai haver quórum para votação da PEC e o texto pode ser modificado. Mas mesmo que seja aprovada na Câmara, a PEC não deve passar no Senado", avalia Gomes da Silva, ressaltando que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é postulante ao Palácio do Planalto. "Esse nível entre R$ 5,55 e R$ 5,70 é o novo <i>range</i> de flutuação do dólar. Mas não vejo recuo na semana que vem".

Na avaliação de Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, o desempenho do real foi surpreendente nesta sexta e pode ser atribuído a fluxos pontuais de entrada e a movimentos de rolagem de posições no mercado futuro. "Foi um dia atípico, com nossa moeda bem melhor que o peso mexicano neste dia. Mas o ambiente aqui dentro continua muito complicado", diz Iha. "Estamos dependentes da aprovação da PEC. Mesmo assim, o mercado deve seguir nervoso. A partir do momento que se fura o teto, podem surgir novas demandas por gastos."

No exterior, o índice DXY - que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes - operou em forte alta, a maior parte do tempo acima dos 94,100 pontos, na esteira de dados positivos da economia dos EUA, que reforçam o cenário de retirada de estímulos por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central daquele país). A moeda americana também subiu em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, com destaque para o peso mexicano (+1,03%), o rand sul-africano (0,91%) e o rublo (+0,85%).

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam o dia em queda, firmada ao longo do dia depois de elevada pressão na primeira hora de negócios. O movimento de correção de excessos que pautava a curva ganhou força no fim da sessão com declarações de Paulo Valle. No balanço do mês, a avaliação de que a política monetária terá de ser agressiva para recolocar a inflação na meta foi crescendo nas últimas semanas e, com isso, a curva fechou outubro com a inclinação praticamente zerada, tomando-se o miolo contra a ponta longa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 8,364%, de 8,417% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 12,416% para 12,13%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 12,20%, de 12,516% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027 cedeu de 12,474% para 12,20%. O diferencial entre as taxas de janeiro de 2023 e janeiro de 2027 ficou nesta sexta em apenas 7 pontos-base, ante 150 pontos no fechamento de setembro.

O analista de Investimentos Renan Sujii afirma ter havido volatilidade intraday muito grande e que a amplitude do movimento nesta sexta de um DI como o de janeiro de 2023, cujo spread foi de quase 100 pontos entre a máxima e a mínima, dá a dimensão sobre como o mercado está perdido diante das incertezas fiscais e seus impactos sobre a Selic. "O mercado de juros está muito saturado, tendo de, a todo momento, ficar reprecificando mudanças no regime fiscal. Quando se tem muita coisa ruim embutida nos preços, qualquer fato positivo, por menor que seja, abre espaço para um ajuste", afirmou.

Após terem subido mais de 40 pontos no começo do dia, refletindo ainda algumas zeragens de posições e reação negativa à fala crítica do presidente Jair Bolsonaro aos lucros da Petrobras na quinta à noite, o mercado passou a corrigir prêmios, com mínimas sendo atingidas na última hora da sessão regular. A aceleração da queda ocorreu após Paulo Valle afirmar que o órgão pode vir a atuar de maneira conjunta com o Banco Central em caso de necessidade, quando questionado sobre a inclinação da curva de juros após confirmação de mudanças na regra do teto de gastos, e em meio a um ciclo de alta da Selic.

Funcionário de carreira do Tesouro, onde comandou por muito anos a área da dívida pública, Valle tem grande credibilidade junto ao mercado financeiro. "Ele sempre fez um bom trabalho e agora chegou chegando", diz um gestor.

Bolsa

O brilho dos resultados trimestrais da Petrobras, divulgados na noite de quinta-feira, foi ofuscado nesta sexta-feira pelos temores de que a companhia venha a ser convocada pelo governo a dar uma contribuição, ainda que artificial, para o controle da inflação, no momento em que o câmbio segue pressionado pela desconfiança sobre a condução da política fiscal, os preços do petróleo se mantêm em recuperação, superado o pior momento da pandemia, e o aumento de 1,5 ponto porcentual na Selic, na quarta-feira, parece ter sido insuficiente para convencer o mercado.

Assim, após ter se decolado do pessimismo de quinta-feira com a expectativa positiva para o balanço, as ações de Petrobras (ON -6,49%, PN -5,90%) acentuaram as perdas ao longo da tarde, inclinando o Ibovespa mais para baixo na sessão (-2,09% no fechamento), na semana (-2,63%) e no mês (-6,74%), vindo de queda de 6,57% em setembro e prolongando a série negativa iniciada em julho, a mais extensa desde os quatro recuos seguidos entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014: a queda acumulada então foi de 13,20%, chegando agora, no intervalo julho-outubro, a 18,37%, ressalvada a grande diferença de pontuação entre aquela época e a atual.

Nesta sexta-feira, o giro financeiro foi a R$ 37,3 bilhões e, na semana, as perdas do Ibovespa alongam a trajetória declinante retomada pelo tombo de 7,28% do intervalo anterior, que havia sido o pior desde março de 2020. Aos 103.500,71 pontos no encerramento desta sexta-feira, entre mínima de 103.429,77 e máxima de 105.954,35 pontos, saindo de abertura aos 105.706,66 pontos, o Ibovespa chega assim ao menor nível de fechamento desde 12 de novembro, então aos 102.507,01 pontos. Em 2021, a perda acumulada atinge agora 13,04%

No balanço julho-setembro, Petrobras trouxe "resultado muito forte, margens robustas, desalavancagem e distribuição de dividendos de quase 10% em um trimestre", observa Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos. "Por outro lado, a declaração do presidente (Bolsonaro), no sentido de interferir na política de preços da empresa, assustou o mercado, elevando a percepção de risco", acrescenta. "Com preço do petróleo em patamares elevados, e dólar nesses níveis, o mercado fica receoso quanto a medidas em viés populista, tendo em vista a queda de popularidade do presidente e a aproximação do período eleitoral. O mercado está precificando o aumento de possibilidade de alguma intervenção na empresa, o que resulta nesse movimento de venda, de saída do papel."

"Jair Bolsonaro afirmou que busca uma maneira de 'mudar a lei' para conter os reajustes dos combustíveis. O presidente também reclamou dos ganhos da estatal, pouco antes da empresa divulgar (ontem) receita recorde de R$ 121,59 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 72% na comparação anual. Anunciou pagamento adicional de R$ 31,8 bilhões em dividendos e quer usar 60% do fluxo de caixa (livre) para dividendos em 2022", observa em nota a equipe de análise da Terra Investimentos, destacando também as referências de Bolsonaro ao "papel social" da empresa, que "não pode apresentar lucro tão alto".

O desempenho do Ibovespa na sessão foi condicionado também pelo de outra gigante das commodities, Vale (ON -2,84%), que trouxe resultados trimestrais abaixo do esperado, impactados pela correção do minério de ferro, cujo preço vem sendo afetado por ingerências do governo chinês sobre a produção local de aço. O setor de siderurgia como um todo esteve entre os maiores perdedores do dia, com Usiminas PNA em baixa de 7,54% e CSN ON, de 5,24%, no encerramento desta sexta-feira.

Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Alpargatas (-10,56%), Banco Inter (PN -9,14%, Unit -10,15%) e Locaweb (-8,50%). No lado oposto, as produtoras e exportadoras de proteína animal, beneficiadas pelo dólar forte: Minerva (+7,15%), Marfrig (+5,33%) e JBS (+4,19%). Entre os grandes bancos, as perdas nesta sexta-feira chegaram a 2,88% (Bradesco PN).


Agência Estado e Correio do Povo

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