terça-feira, 26 de outubro de 2021

Criado pelo Senar, programa ATeG chega a quase 4 mil produtores rurais no RS

 Programa de Assistência Técnica e Gerencial busca a melhoria de produção e de desempenho econômico


Despertar nos produtores rurais a visão de que sua labuta, que começa cedo, não tem hora para terminar e dá o sustento para sua família é um negócio e que, por isso, carece de uma gestão. Esse é um dos objetivos do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), iniciativa do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Há dois anos os atendimentos mensais, gratuitos e individualizados, com duração de 4 horas, buscam a melhoria produtiva e de desempenho econômico de cerca de 3,8 mil propriedades no RS.

De acordo com o mais recente Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 15 milhões de pessoas atuando em um pouco mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários no país. Destes, 12,6% possuem ensino médio completo e 5,58% tem curso superior, o que comprova a necessidade da ampliação do acesso deste público ao conhecimento. Segundo o coordenador da ATeG, Alexandre Prado, a ideia é levar conhecimentos sobre gestão e técnicas de manejo rentáveis ao produtor que ainda têm dificuldades em fazer a gestãoda sua empresa rural. “Começamos trabalhando para quatro cadeias. São elas, agricultura, bovinocultura de leite, bovinocultura de corte e ovinocultura. Posteriormente iniciamos os atendimentos na fruticultura, e recentemente incluímos agroindústria, apicultura, aquicultura”. Na sequência, outras áreas estão previstas, como representantes da avicultura, olericultura e suinocultura.

Supervisores e técnicos de campo com expertise nas mais diversas áreas se dividem em quase 150 grupos de produtores pelo Estado, cada um com cerca de 30 criadores de uma mesma cadeia para beneficiar o atendimento. Dividida em cinco passos, a ATeG começa pelo diagnóstico, quando o técnico conhece a realidade do produtor. Passa pelo planejamento estratégico e, também, pela adequação tecnológica, com soluções propostas dentro da realidade de cada produtor. Na sequência, vem a evolução e capacitação, etapa em que se avalia o que mais o Senar pode auxiliar. Para finalizar, é feita a avaliação sistemática, a partir de indicadores e análise.

Técnica de campo na região Sul do Estado, a médica veterinária Raquel Schiavon trabalha com produtores da bovinocultura de leite. Com experiência na área desde a faculdade, prestar assistência técnica em propriedades também foi uma oportunidade para aprendizado, segundo ela. “Não temos distinção de tamanho, temos desde criadores com oito até 50 vacas em lactação. Auxiliamos nas técnicas que eles precisam desenvolver no seu dia a dia”, relata. “A ideia da ATeG é mostrar que eles precisam ter um olhar gerencial, como empresários rurais. Trabalhar com a questão econômica e zootécnica. Os indicadores ajudam a entender como funciona o sistema de produção, distribuir os custos e melhorar na atividade”, explica a técnica.

Raquel costuma repetir aos produtores de leite uma máxima, quase como um mantra: “a economia não se faz não gastando. Se faz investindo dinheiro de forma correta onde vai dar mais retorno à propriedade”. Por se tratar de uma atividade dinâmica, é clara a evolução dos resultados, acompanhados lado a lado, técnico e criador, diz a veterinária. “É muito gratificante. A gente consegue observar que o produtor aplicou uma recomendação que foi passada e teve êxito. É um programa que está agregando valor à propriedade. É um divisor de águas”, conta. A profissional atende 24 produtores nos municípios de Pelotas, Capão do Leão, Cerrito, Arroio do Padre e Turuçu, propondo que eles percebam suas atividades como um negócio.

O casal Maristela Spohr e Ivandro Kroetz, de Pelotas, soube como colocar o que aprenderam na prática. “Melhorou bastante a nossa atividade, incluindo a limpeza durante a ordenha e como gerenciar a pastagem”, conta a pecuarista, que pretende absorver o máximo que for possível até julho de 2022, quando encerra o atendimento. A média de produção atual é de 32 litros/dia por vaca. No momento, são 35 animais em ordenha na propriedade.“Aprendemos bastante com a técnica Raquel. Indicamos esse serviço para outros produtores. Toda a vida!”, afirmou Maristela.

Para o agricultor Itamar Teles de Souza, a experiência também foi positiva. Anteriormente, o trabalho nos 25 hectares que abrangem suas plantações de milho, soja e trigo não eram controlados, segundo ele, “na ponta da caneta”. “Agora, nós vemos quanto gastou, lucrou, sobrou e faltou, fizemos as contas. Mudou para melhor 100% em relação ao que fazíamos”, garante. Souza lamenta não ter passado por um atendimento similar quando começou a trabalhar no ramo. “Seria bom que todas as propriedades tivessem acesso ao programa para saber onde vai bem e onde está o prejuízo”, indicou.

O coordenador da ATeG, Alexandre Prado, lembra que o programa alcança todos os municípios gaúchos. Basta procurar o sindicato rural da sua cidade para se inscrever. Mais informações no site

ATeG e o projeto Duas Safras

Recentemente, cerca de 80 profissionais da ATeG e Programa de Formação Profissional do Senar-RS participaram de uma capacitação que abordou diferentes aspectos relacionados aos sistemas de produção, com destaque para a pecuária. Realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a iniciativa faz parte do Projeto Duas Safras, uma parceria que também engloba a Farsul, FecoAgro e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) que busca o desenvolvimento da agropecuária gaúcha.

Entre os objetivos, está o trabalho de capacitação continuada de técnicos que atuam junto aos produtores rurais do estado. Para Fernando Cardoso, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, o projeto Duas Safras visa incentivar, dentre algumas alternativas, o plantio de culturas de inverno não apenas para a venda de grãos, mas para a alimentação animal. “É um importante passo para organizar os sistemas de produção agropecuários, garantindo sustentabilidade para o setor, maior competitividade e rentabilidade para a atividade.

Já Eduardo Condorelli, superintendente do Senar-RS, destacou que a parceria com a unidade da Embrapa é uma oportunidade para que os técnicos possam contribuir de forma mais eficaz no desenvolvimento da pecuária gaúcha. “A partir dessa visão sistêmica é possível vislumbrar de forma mais clara o papel da pecuária para o setor primário e para toda a economia do estado”, ressaltou.


Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário