quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Banco Central aumenta taxa de juros para 7,75% ao ano, maior patamar desde 2017

 


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (27) elevar a taxa básica de juros da economia de 6,25% para 7,75% ao ano. Foi a sexta alta consecutiva, e a mais ampla desse ciclo.

Com o anúncio, a taxa Selic atinge o maior patamar em quatro anos — em outubro de 2017, a taxa foi reduzida de 8,25% para 7,5%.

O novo índice supera a estimativa que já tinha sido divulgada pelo mercado financeiro, coletada em pesquisa realizada pelo BC na semana passada. A previsão foi revisada para cima após o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitir a possibilidade de flexibilizar o teto de gastos.

Até a semana anterior, a maior parte dos especialistas ouvidos pelo BC apostava em aumento de 1,5 ponto percentual – o que levaria a Selic para 7,5%.

Com a divulgação da prévia da inflação de outubro, que indicou aceleração da alta de preços, economistas já tinham revisado a projeção para os 7,75% confirmados pelo Copom.

Ritmo acelerado

Nos dois últimos encontros do Copom, em agosto e setembro, a elevação dos juros foi de um ponto percentual. Para este mês, havia uma indicação do BC de que esse ritmo de alta seria mantido.

Porém, o mercado passou a prever uma elevação maior após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter admitido na semana passada “furar” o teto de gastos (mecanismo que limita o aumento da maior parte das despesas à inflação do ano anterior).

Guedes tem dito que as mudanças no teto de gastos têm por objetivo ampliar a proteção social, por meio do Auxílio Brasil, programa social sucessor do Bolsa Família.

Mas analistas têm indicado que seria possível incrementar o programa sem estourar o limite para despesas, utilizando, por exemplo, recursos destinados às emendas parlamentares.

De acordo com relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, as notícias sobre a alta dos gastos aumentaram as dúvidas sobre o futuro do teto de gastos no Brasil.

“Sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central de manter a inflação na meta se torna mais difícil”, avaliou.

Na última semana, o mercado passou a prever juros mais altos também no futuro.

Para o fim de 2021, a expectativa dos analistas passou de 8,25% para 8,75% ao ano e, para o fechamento de 2022, os economistas do mercado financeiro subiram a expectativa para a taxa Selic de 8,75% para 9,5% ao ano.

Como a taxa Selic é definida

O principal instrumento do Banco Central para conter a propagação da alta de preços é a taxa básica de juros, que é definida com base no sistema de metas de inflação.

Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic, e a reduz quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas.

Para 2021, a meta central de inflação é de 3,75%. Pelo sistema vigente no País, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%.

Neste momento, o BC já está olhando para a meta de inflação de 2022 para definir os juros. No próximo ano, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%.

Inflação

Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do País, ficou em 1,16%. Esta foi a maior taxa para um mês de agosto desde o início do plano real, em 1994. Em 12 meses, a inflação atingiu o patamar de dois dígitos: 10,25%, a mais alta desde fevereiro de 2016.

De acordo com levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV), mais da metade da inflação, neste ano, é resultado da disparada dos combustíveis, energia e carne. Esses estão entre os itens que mais têm pesado no bolso do brasileiro e na inflação.

O mercado financeiro estima que a inflação medida pelo IPCA somará 8,96% neste ano, mais do que o dobro da meta central (7,5%) e acima do teto de 5,25% do sistema de metas. Para 2022, a previsão de inflação do mercado está em 4,40%, acima da meta central mas ainda dentro do intervalo de tolerância.

Estagflação

Com o aumento do chamado “risco fiscal” – as incertezas sobre as contas públicas no futuro – e o reflexo disso na economia (alta do dólar, da inflação e, consequentemente, das taxas de juros bancárias), analistas vislumbram a possibilidade de estagflação na economia brasileira no próximo ano.

Esse fenômeno se caracteriza por estagnação na economia, ou seja, sem crescimento do nível de atividade, ou até mesmo retração, associada ao aumento do desemprego e da inflação.

“Aumentou a possibilidade de ter estagflação ano que vem, mas não é ainda uma certeza”, avaliou Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco Alfa.

Segundo ele, a confirmação desse cenário vai depender do quanto o BC terá de elevar os juros e do desempenho da economia no quatro trimestre deste ano (que gera um efeito estatístico para 2022). Leal estimou uma alta de 4,5% para a inflação no próximo ano.

Em relatório, o Itaú estimou que o Copom terá de elevar os juros para até 11,25% ao ano nos primeiros meses de 2022, o que levará a atividade econômica para um “recuo moderado” — um tombo de 0,5% para o PIB em 2022.

“Um real mais fraco [dólar a R$ 5,50 no fim de 2021 e 2022] aumentará as pressões inflacionárias, mas o controle de danos do BCB deve limitar um contágio maior, com a inflação recuando para 4,3% em 2022, de 9% em 2021”, acrescentou, no documento.

Consequências da alta dos juros

De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, tem vários reflexos na economia. Veja abaixo os principais:

  • A elevação da taxa de juros, o aumento do juro básico da economia, já está resultando em taxas bancárias mais elevadas e a tendência é de que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. Em setembro, a taxa média dos bancos foi a maior desde abril de 2020. Além do juro básico, o aumento do IOF anunciado pelo governo também impacta o custo final dos empréstimos.
  • O aumento da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos, impactando, assim, o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Economistas estão baixando há semanas a previsão de crescimento da atividade econômica em 2022.
  • O aumento da taxa básica da economia gera uma despesa adicional com juros da dívida pública. Gabriel Leal de Barros, da RPS Capital, calculou que o ciclo de alta da Selic de 2% ao ano, em março de 2021, para 7,5% ao ano, se confirmada, geraria uma despesa adicional de quase de R$ 180 bilhões com juros da dívida (se mantida em 12 meses).
  • Aplicações financeiras em renda fixa, como a caderneta de poupança, tendem a render um pouco mais. Com o juro básico em 7,5% ao ano mais taxa referencial (TR), por exemplo, a poupança passará a render 5,25% ao ano, contra 4,375% ao ano, mais TR (com taxa Selic em 6,25% ao ano). Mesmo assim, o rendimento da poupança segue perdendo da inflação.

O Sul

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