Páginas

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Taxa básica de juros deve continuar subindo a um ritmo de 1 ponto percentual

 


A taxa básica de juros deve continuar subindo a um ritmo de 1 ponto porcentual. Mas, para levar a inflação à meta em 2022 (de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo), o atual ciclo de alta da Selic pode ser ainda maior do que o esperado pelo mercado financeiro, segundo indicações que constam da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada na semana passada.

A Selic está atualmente em 6,25% ao ano, e as projeções são de mais duas altas de 1 ponto porcentual até o fim do ano, chegando a 8,25%. Na ata, porém, o BC diz que a estratégia mais apropriada para assegurar a convergência da inflação para as metas tanto de 2022 quanto de 2023 (3,25%) é a manutenção do ritmo atual de ajuste associado ao “aumento da magnitude do ciclo de ajuste da política monetária para patamar significativamente contracionista”. Ou seja, com impacto direto sobre a evolução da atividade econômica do País.

Após a divulgação do documento, as projeções do mercado financeiro para a Selic no fim de 2022 começaram a subir. Passaram de 8,5% ao ano, na média, para 9%, mas alguns analistas não descartam patamar ainda maior. O aumento dos juros, com impacto direto no PIB em pleno ano eleitoral, será uma prova de fogo para a autonomia do BC e também para as pretensões do presidente Jair Bolsonaro de tentar se reeleger.

O Banco Original, que previa juros de 8,25%, agora passou a projetar um patamar de 9%. “As duas menções a um patamar ‘significativamente contracionista’ da Selic foram as passagens mais ‘hawkish’ (jargão usado para designar uma postura mais favorável ao aumento de juros) da ata (do Copom), e são o fator racional por trás da nossa revisão”, disse Lisandra Barbero, economista do banco.

Novus Capital e Garde Asset também passaram a projetar juros de 9% em 2022. “Estamos na tempestade perfeita de inflação, e, se não acalmar, pode ser que essa projeção de Selic suba mais”, diz Daniel Weeks, economista-chefe da Garde. “Para colocar a inflação no centro da meta em 2022 (de 3,5%), a Selic precisaria ser bem mais alta. Mas, em algum momento do começo do ano que vem, o BC começa a olhar para 2023 e não entrega todo esse ‘whatever it takes’ (“o que for preciso”, em uma tradução livre).”

Segundo o economista e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, para garantir a convergência da inflação ao centro da meta de 2022, a taxa Selic deveria subir para até 9,5%, um ponto acima do cenário base com o qual o BC trabalha. Além disso, ele avalia que não dá nem para descartar uma aceleração do ritmo de alta de juros em outubro e dezembro, caso o BC se convença que a inflação é muito mais persistente.

Lado fiscal

Já o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, disse que a ata reforçou as preocupações do BC com os riscos fiscais. “É interessante ver a preocupação do BC ainda com a piora gradual que se espera para o fiscal, abrindo a possibilidade concreta de que o cenário básico talvez não seja suficiente, com espaço para uma Selic acima de 8,5% no fim do ciclo”, afirmou Vale.

Por ora, a MB espera dois aumentos de 1 ponto da Selic, em outubro e dezembro, e taxa de 8,25% no fim de 2021. O fim do ciclo ocorreria na primeira reunião de 2022, com um ajuste de 0,75 ponto, e a taxa de juros permaneceria em 9,0% até o fim do ano que vem. Nesse cenário, Vale prevê IPCA de 8,70% neste ano e de 4,70% em 2022.

“É o cenário de inflação que preocupa, e, como o BC está sozinho, sem ajuda da política fiscal, com o excesso de gastos previsto para o ano que vem pode precisar subir mais os juros”, disse o economista.

O Itaú Unibanco manteve sua expectativa de que a Selic terminará o ciclo em 9,0%. No entanto, o banco pondera que há risco de elevação neste cenário. Na avaliação do Itaú, o documento sugere que o Copom ainda está focado em garantir a convergência para a meta inflacionária em 2022, “mesmo que ao custo de um aperto monetário mais forte”.

“Por enquanto, esperamos que o Copom mantenha o ritmo de 1,0 ponto porcentual até o final do ano, mas esse ritmo pode ser mantido no primeiro trimestre do ano que vem. Projetamos que a taxa Selic terminará o ciclo em 9,0%, mas há viés para uma taxa de juros mais alta”, afirma relatório assinado pelo economista-chefe Mario Mesquita, outro ex-diretor do Banco Central.

O Sul

Nenhum comentário:

Postar um comentário