Diante da crise econômica que assola o Brasil, com a projeção a inflação batendo na casa do 7,11%, é um desafio encontrar um cidadão que ainda se encontre com a saúde financeira em dia. Neste mês, o percentual de famílias endividadas no país atingiu a marca de 72,9%, conforme divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (I-SFB) foi ainda mais além, no último mês, e apontou que 69,5% dos brasileiros gastam mais do que ganham. Mas afinal, com a realidade salarial do país, é possível se organizar?
Para o especialista em finanças e planejador financeiro, Marlon Glaciano, sim, a organização financeira está ao alcance de todos. “Não é o valor do salário que faz uma pessoa ter inteligência financeira, mas sim a forma como o dinheiro é utilizado. Com organização financeira tudo é possível e o ponto de partida para se organizar é entender como está a sua rota financeira pessoal. Esta rota se traduz em quais são os meus compromissos financeiros em relação à minha capacidade financeira”, ressaltou.
O Educador Financeiro da Impacto Consultoria, Felipe Silveira, reforça o discurso e afirma que esse desempenho está ligado, inclusive, ao potencial de conquistar uma renda maior:
“A grande verdade é que nunca uma pessoa estará preparada para administrar uma grande renda se não conseguir viver controlada dentro da renda que já possui. Ter um controle de entradas e saídas é importante mesmo com uma pequena renda, criar categorias e potinhos para destinar a divisão do dinheiro para cada lugar é fundamental. Mantendo assim a vida dentro do orçamento desenhado nos primeiros dias do mês e sabendo o quanto se pode gastar com cada coisa”, explicou.
Cenário no país
Apesar da pandemia ter escancarado as dificuldades financeiras dos brasileiros, o problema não é de hoje, conforme analisam os especialistas. “Nossa educação tradicional ensinou as pessoas a realizarem apenas o serviço e pouco foi ensinado como administrar para a utilização da remuneração recebida. Diariamente acompanho e atendo profissionais de ponta com dificuldades em planejamento financeiro, o que nos leva a entender que é um problema que vai além da renda. A saúde financeira ainda é de nível precário, nos últimos anos, a informação tem sido pulverizada de forma gigantesca, todavia, os resultados ainda não são tão visíveis. Levaremos ainda alguns anos para que os índices e melhorias sejam significativas”, ponderou Silveira.
“Infelizmente hoje a maioria dos brasileiros, mais da metade da população, está endividada e devendo algum dinheiro, e eu acho que isso se deve muito ao nosso cenário, nosso salário mínimo não corresponde a realidade. Cada vez os preços estão mais altos, então, realmente é complicado ter uma saúde financeira nesse cenário. Mas, ao mesmo tempo percebo que os brasileiros estão cada vez mais percebendo como esse equilíbrio também está ligado a qualidade de vida, acredito que em um futuro próximo essa realidade seja diferente”, analisou a educadora financeira da Ativa Investimentos, Bia Moraes.
Como se organizar
Ainda de acordo com o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, 64,7% dos cidadão não têm segurança eu relação ao seu futuro financeiro. Para os especialistas, ainda que a renda seja baixa, é possível se organizar para não meter os pés pelas mãos e, assim, garantir um futuro um pouco mais estável.
“Toda insegurança é gerada pelo olhar atual de seu estado financeiro, onde não se tem planejamento não se possui visão clara e futuro. Mesmo com uma renda pequena é preciso se pensar em planejamento e forma de aumento de renda, afinal não se tem muito o que cortar, possivelmente já não se tenha luxo dentro do orçamento. Então é necessário pensar uma maneira de aumentar as receitas. Maneiras simples de venda de um produto, realização de doce, utilizar algum conhecimento e cobrar para ensinar outras pessoas, fazendo alguma atividade que gere receita além da renda principal”, orientou o educador financeiro da Impacto Consultoria, Felipe Silveira.
Em sequência, o planejador financeiro Marlon Glaciano orienta que é necessário separar uma parcela da renda para investir, mesmo que ela seja mínima: “Tenha em mente que o ideal é armazenar ao menos 20% da receita mensal para investir. Criando assim o tão famoso pé de meia. Se ainda não existe essa possibilidade, comece com o que pode mesmo que seja 1% e aproveite para rever suas despesas e suas prioridades. Como dica, pague a si mesmo em primeiro lugar criando o hábito de poupar”.
“Principalmente pessoas de renda baixa precisam ter noção de que a saúde financeira é um tipo de saúde importante porque é isso que vai tirar elas da preocupação das dívidas, estar se organizando, estabelecendo prioridades, conseguindo poupar, aumentar sua renda e o seu estilo de vida. É essencial que elas entendam qual é a prioridade de gastos, para que seja possível poupar e investir, mesmo que em conhecimento, para evoluir ainda mais”, concluiu Bia Moraes.
O Sul
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