O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fez um discurso mais alinhado ao governo, argumentando que os números atuais não mostram deterioração do cenário fiscal brasileiro. Ele também voltou a defender a tese de que a alta de preços no País é temporária.
“Cadê a grande deterioração fiscal? Números não mostram isso”, questionou durante seminário promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e que contou com a participação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
A fala é bem mais amena que a do dia 13 de agosto, quando Campos Neto disse afirmou ser “impossível para qualquer Banco Central do mundo fazer um trabalho de segurar as expectativas de inflação com o fiscal descontrolado”. Na terça-feira passada, ele já havia baixado o tom ao dizer que via “um pano de fundo melhor do fiscal”.
Agora, ele cita a evolução das projeções no Boletim Focus (uma consulta semanal feita pelo BC a uma centena de economistas) e diz que as estimativas para a dívida bruta estão melhorando desde novembro do ano passado e que, neste momento, as projeções são bastante parecidas com o cenário anterior à pandemia de coronavírus.
Para 2021, a projeção é de 81,5% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 81% da estimativa do governo antes da pandemia. Em relação ao resultado primário (diferença entre tudo o que o governo arrecada e o que gasta), a projeção antes da pandemia era de déficit de 1%, em 2021, e zero em 2022; agora, é de 1,7% e 0,3%, 0,4%, segundo Campos Neto.
Ele também refutou o argumento de que a melhora fiscal é explicada apenas pela inflação. “A inflação teve seu efeito, mas há vários efeitos que são importantes”, disse, citando o maior consumo de bens (que geram maior arrecadação tributária) na pandemia e de serviços formais online ante informais.
Disse, ainda, que existe “ruído” em associar processo eleitoral a medidas do governo, referindo-se a críticas de que o fundo que viria a ser criado na proposta de emenda constitucional (PEC) dos precatórios (dívidas judiciais que a União é obrigada a quitar) seria usado para ampliar o Bolsa Família com o objetivo de garantir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, tudo será feito dentro do regime de responsabilidade fiscal.
“Parte da comunicação do governo poderia ter sido de forma mais suave. Entendendo que existe ruído de associar processo eleitoral a medidas. Mas o País fez medidas estruturais na pandemia quando ninguém tinha feito, e dentro do regime de responsabilidade fiscal”, completou, destacando que o compromisso do Congresso com o fiscal é importante.
Inflação
Campos Neto voltou a mencionar que há enorme alta de inflação no mundo inteiro, mas que tende a ser temporária. Segundo ele, a pandemia alterou o padrão de consumo, com substituição de serviços por bens, mas, com a reabertura das economias, isso deve se normalizar, com o arrefecimento da inflação de bens.
Quando a lei da autonomia do BC entrou em vigor, há seis meses, os economistas do mercado financeiro esperavam uma inflação comportada, de 3,82% neste ano. Agora, esperam que o índice oficial de preços termine o ano em 7,11% em 2021, muito acima do teto da meta para este ano (de 5,25%) e quase o dobro do centro do alvo (de 3,75%).
O dirigente reconheceu que o Brasil tem inflação alta, mas estaria próximo de países pares, como Rússia e Índia. “O Brasil tem coisas particulares, mas tem processo de alta de inflação generalizada”, afirmou.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – inflação oficial do País – registrou alta de 0,96% em julho, chegando a 8,99% no acumulado dos últimos 12 meses, maior porcentual desde maio de 2016, quando estava em 9,32%. Em 2021, o IPCA acumula alta de 4,76%.
O Sul
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