“Tá parecendo que tudo está com preço de aeroporto”. Foi com essa frase que um usuário do Twitter levantou, na última semana, um debate que vem atordoando muitos brasileiros atualmente: o aumento dos valores pagos em produtos e serviços. Mas, você sabe por qual motivo itens como botijão de gás, luz, gasolina e até os alimentos estão “pesando no bolso do trabalhador”?
Segundo o economista Fernando Amorim, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a alta no preço de itens essenciais no nosso dia a dia foi provocada por uma combinação de fatores, sendo os principais: a desvalorização cambial, a alta global do preço das commodities (produtos elaborados em larga escala e que funcionam como matéria-prima, como arroz, soja e milho, por exemplo) e a crise hídrica.
Ainda de acordo com Amorim, cada família é atingida de uma maneira pelo aumento dos preços, porém os mais pobres são os que mais sofrem. “As pessoas mais pobres não têm como se defender do processo inflacionário, pois gastam quase tudo que ganham com itens básicos”, explica.
O mês de agosto registrou alta de preços de 0,89%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O valor foi considerado a maior variação para um mês de agosto desde 2002. Já o IPCA acumulado dos últimos 12 meses subiu para 9,30%, diz o levantamento. Veja abaixo por qual motivo cada item teve aumento.
Gasolina e gás
O preço dos combustíveis, como o Diesel e a Gasolina, e do botijão de gás estão mais caros basicamente por dois motivos: o aumento do preço do petróleo e a cotação do dólar. Em 2019, no governo de Michel Temer (MDB), a Petrobras passou a reajustar os preços dos combustíveis e do gás de acordo com a demanda do mercado, o que inflacionou o valor do reajuste. Anteriormente, esse preço era revisado de três em três em meses, considerando uma média de cotações dos últimos 12 meses. “Essa é a razão dos noves aumentos da gasolina que já foram feitos em 2021”, analisa o economista e professor do Ibemec Rio, Gilberto Braga.
Neste mês, o preço médio da gasolina no país chegou a R$5,99, batendo R$ 7 em alguns estados, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Já o preço médio do botijão de gás de 13 kg é de R$ 93. Entretanto, há locais em que esse valor já ultrapassa os R$ 100, diz a ANP.
Alimentos
A alta dos alimentos também é impulsionada pela alta do dólar, já que algumas commodities, como arroz e feijão, são cotadas de acordo com a moeda americana. Isso faz com que os produtores nacionais prefiram exportar do que vender para o mercado interno, reduzindo a oferta doméstica. “Além disso, houve um aumento da demanda, já que a procura das pessoas por alimentos cresceu, devido a mudanças na jornada de trabalho, com mais gente em casa”, contextualiza Braga.
A seca no país, que afeta a produção de alimentos, é outro fator apontado por especialistas como encarecedor dos itens alimentícios.
Luz elétrica
A crise hídrica que o País vem enfrentando, considerada por ambientalistas a maior em 91 anos, é apontada como a principal causa no aumento da conta de luz. A falta de chuvas fez com que as usinas hidrelétricas fornecessem menos energia e, com isso, o governo precisou acionar as usinas termelétricas, que são mais poluentes e caras. “Por conta disso, está sendo cobrada a bandeira tarifária vermelha, que é mais custosa”, aponta Braga.
Futuro próximo
Se o atual momento preocupa, o futuro próximo também parece não oferecer as melhores perspectivas. O relatório Focus, divulgado na última segunda-feira (23) pelo Banco Central (BC), projetou que a inflação atingirá 7,11% este ano. A nova estimativa está muito acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de que o índice ficasse entre 2,25% e 5,25%.
Para Gilberto Braga, um dos motivos para a situação econômica na qual o Brasil se encontra foi ocasionada pela pandemia e a forma como o governo lidou com a situação. “Esse desarranjo quando combinado com a demora do Brasil em optar pela imunização, tornou o planejamento árduo e imprevisível. As notícias desencontradas se tem ou não vacina deixou o ambiente produtivo muito instável”, disse.
Outro ponto observado por Braga, é a antecipação da pauta eleitoral, levantada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “O adiantamento desse debate prejudica, já que esse contexto não favorece a queda de preços e travam os investimentos. O ideal é que nós tivéssemos um cenário confortável para vislumbrar quais seriam os próximos passos”, avalia.
“O preço da energia elétrica vai continuar a subir, o combustível também. Ao meu ver, a solução é o governo mudar a política de preços da Petrobras e gerir a crise hídrica”, aposta Amorim. As informações são do jornal O Dia.
O Sul
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