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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Entenda como esquema de pirâmide promete ganhos com bitcoin

 por Clayton Castelani

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Rendimento fixo muito acima do mercado é impossível, mesmo com criptomoeda, dizem especialistas

Investir em um ativo inovador e que garante retorno fixo a taxas muito superiores a quaisquer aplicações tradicionais e que, além disso, é acessível por meio de transações simplificadas e intermediadas por pessoas de confiança, como parentes e amigos.

Essa é a receita de um golpe centenário e que continua atraindo vítimas: a pirâmide financeira.

 

Na última quarta-feira (25), a Polícia Federal deflagrou uma operação para, segundo as investigações, desmontar um esquema milionário de pirâmide financeira que atraía investidores com a promessa de aplicações em criptomoedas. 

Realizada em conjunto com a Receita Federal e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público Federal, a operação Kryptos prendeu o suspeito de organizar o suposto esquema, o empresário Glaidson Acácio dos Santos, responsável pela GAS Consultoria Bitcoin, com sede na Região dos Lagos (RJ). 

A defesa de Santos nega a existência do esquema de pirâmide e garante que o retorno oferecido aos clientes é resultado da gestão eficiente realizada pela GAS no mercado de criptomoedas.

De acordo com o relato de uma cliente, que foi convencida a contratar a GAS por uma pessoa próxima à sua família, o retorno prometido é de 10% do valor total investido por mês, durante um período de 24 meses. Ao final desse prazo, a empresa afirma que devolverá o valor aplicado.

No caso relatado à reportagem, um investimento realizado pela família há pouco mais de seis meses foi de R$ 100 mil e, até o momento, os pagamentos estão em dia: R$ 10 mil por mês.

Para a Polícia Federal, porém, os ganhos prometidos são insustentáveis, posição que é reafirmada por especialistas.

O retorno mensal de 10% em um período em que a taxa básica de juros (Selic) está em 5,25% ao ano é o principal sinal de que a aplicação é inviável, diz Mayra Lima, especialista em investimentos da corretora Guide.

O argumento da suposta aplicação em criptomoedas é eficiente para convencer leigos, segundo Lima.

“Estamos falando de um ativo que ainda não tem regulamentação no país, então, parece que é uma terra de ninguém”, diz a especialista.

“Existem fundos que investem em bitcoin, mas quando a gente fala em renda variável, como é o caso da aplicação em criptomoedas, não é possível garantir retorno fixo porque não sabemos se elas irão continuar se valorizando”, explica.

Se o retorno fixo de aplicações assim é impossível, como explicar que vítimas de esquemas do gênero recebam pagamentos em dia?

Esse enigma é explicado pelo esquema Ponzi, como ficou conhecido o sistema de pirâmide financeira operado nos Estados Unidos pelo imigrante italiano Charles Ponzi, na década de 1920.

O calote em pirâmides ocorre em algum momento ao menos para ao menos uma parte dos investidores –provavelmente aqueles que ingressarem por último–, afirma o especialista em investimentos Marcelo Cambria, professor e coordenador de pós-graduação da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

“No sistema da pirâmide financeira, a principal receita é a remuneração pela indicação de novos membros. As vítimas são atraídas pela oportunidade de aportar recurso, ganhar lucros muito acima daqueles que são possíveis dentro das condições habituais do mercado”, diz Cambria.

"Isso impressiona muito quem cai no golpe. É uma estrutura financeira que parece investimento, mas na prática não funciona desta forma já que não haverá recursos para todos em um eventual saque generalizado de todos os integrantes. É um produto que promete e não entrega, porque ele é baseado em crescimento permanente da base: quem entra financia os participantes mais antigos mas, como não gera rendimento, a estrutura não se sustenta", afirma.

PARA NÃO CAIR EM GOLPES

A especialista em investimentos da corretora Guide, Mayra Lima, dá sete dicas para não cair em golpes financeiros

  1. Não acredite em milagres. Desconfie de quem promete muito dinheiro sem esforço. Investir é um trabalho de longo prazo
  2. Verifique quanto a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, está rendendo ao mês. Se o prometido estiver muito acima, alguma coisa deve estar errada
  3. Antes de investir em determinada empresa, busque referências. Sites como Reclame Aqui podem ajudar, por reunirem avaliações de diferentes consumidores. Também é importante buscar informações junto aos órgãos reguladores, como Banco Central e CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
  4. Evite o "efeito manada". O fato de todos os seus amigos ou familiares estarem comprando determinado ativo não significa que ele também serve para você ou que seja confiável
  5. Ao investir, entenda minimamente sobre o produto e como ele se encaixa dentro da sua estratégia. Ainda que o investimento seja consistente, não significa necessariamente que ele se encaixa em seu perfil
  6. Cuidado com sinais de pirâmide. Além de promessas de ganhos irreais, pirâmides também se caracterizam por exigirem indicação de novas pessoas para garantir o lucro dos participantes
  7. Procure orientação especializada e verifique se o profissional é certificado por instituições como a CVM, Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros)

Fonte: Folha Online - 29/08/2021 e SOS Consumidor

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