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sábado, 28 de agosto de 2021

Dólar fecha abaixo de R$ 5,20 após a fala de Powell

 Moeda norte-americana encerrou a sessão cotada a R$ 5,19


O discurso ameno do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, afastou os temores de mudança na política monetária acomodatícia nos Estados Unidos e abriu espaço para uma rodada de recuperação dos ativos de risco em todo o mundo nesta sexta-feira, 27. Em sintonia com o movimento global da moeda norte-americana, que caiu em bloco frente a divisas emergentes, o dólar perdeu força no mercado doméstico de câmbio, em meio à redução de posições defensivas que haviam sido montadas na quinta-feira justamente para uma eventual surpresa desagradável na fala de Powell.

Já em queda desde a manhã, o dólar acentuou as perdas ao longo da tarde e chegou a furar o limite de R$ 5,19, ao descer até a mínima de R$ 5,1880. Com máxima de R$ 5,2612, a moeda norte-americana fechou o dia com recuo de 1,17%, a R$ 5,1955 - menor valor desde 4 de agosto (R$ 5,1858). Com isso, o dólar termina a semana com recuo de 3,52% e passa a perder 0,28% no acumulado do mês.

Segundo operadores, além do apetite maior por emergentes, jogaram a favor do real ao longo desta semana a melhora da percepção do risco fiscal, em meio a busca de uma solução para o imbróglio dos precatórios, e a reiterada disposição do Banco Central de elevar a taxa Selic ao nível que for necessário para ancorar as expectativas de inflação.

Em evento promovido nesta sexta na Federação Brasileira de Bancos, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que não haverá rompimento do teto "para auxílio e precatórios" e que confia em uma solução para o pagamento das dívidas judiciais costurada em parceria com o Judiciário. Presente no mesmo evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos, afirmou que existe muito ruído em relação à questão fiscal e voltou a dizer que vai usar todos "os instrumentos" para controlar a inflação.

Além da ofensiva de comunicação de autoridades em favor do teto de gastos terem contribuído para redução de "gordura" na taxa de câmbio, analistas ressaltam que os dados do fluxo cambial divulgados ao longo da semana foram positivos. O aumento do diferencial entre os juros interno e externo dá certa sustentação à moeda brasileira, ao atrair capitais de curto prazo para operações de arbitragem, embora ainda não sancione a aposta em uma rodada mais forte de apreciação do real.

O mercado ainda aguarda a solução definitiva para a compatibilização do pagamento de Precatórios com o reajuste do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) dentro do teto de gastos, além de monitorar os embates entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal. A temperatura política pode esquentar com as preparações para as manifestações de 7 de setembro.

O operador da Fair Corretora Hideaki Iha atribui a queda do dólar ao longo da semana mais ao ambiente externo positivo e ao fluxo cambial positivo que a fatores domésticos. "Internamente, não estão nada resolvido, está tudo em 'stand-by'. A pressão por gastos por parte do Centrão e do presidente, que quer tentar recuperar a popularidade para tentar a reeleição, vai continuar", afirma.

Iha vê a taxa de câmbio rodando entre R$ 5,20 e R$ 5,40 e ressalta que a volatilidade pode aumentar na semana que vem, por conta da disputa pela formação da taxa Ptax de agosto. "Além disso, essa discussão da redução de estímulos nos Estados Unidos pode voltar a incomodar se saírem dados de trabalho fortes do mercado de trabalho", acrescenta.

Em sua fala no simpósio de Jackson Hole, Powell disse que a redução do volume de compra mensal de ativos pode começar neste ano, a depender da continuidade da melhora dos indicadores econômicos, em especial os relacionados ao emprego - processo que pode ser abalado pelos eventuais impactos da variante delta sobre a economia. Além disso, Powell afirmou que, mesmo com o fim das compras mensais, o Fed vai manter sua carteira elevada de ativos no longo prazo (leia-se: não vai enxugar a liquidez) e que o 'tapering' não é um prenúncio de aumento da taxa de juros.

Com a mensagem amena de Powell, o mercado deu pouca relevância ao tom um pouco mais duro de discursos de outros dirigentes regionais do Fed, como James Bullard (de St. Louis) e Loretta Mester (Cleveland). O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, disse que se os progressos no mercado de trabalho prosseguirem, vai apoiar o início do 'tapering' neste ano.

Em relatório, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, avaliou a fala de Powell como 'dovish', dada a reiteração da necessidade de "estimular o emprego até seu máximo, o que ainda permanece longe a despeito da inflação elevadíssima". Para Sanchez, os próximos relatórios de emprego nos Estados Unidos (payroll) deverão colocar "a autoridade em 'corner' muito em breve, forçando-a a tomar medidas relativamente mais enérgicas de política monetária".

Juros

A leitura dovish do discurso do presidente do Federal Reserve no Simpósio de Jackson Hole, continuou garantindo a queda dos juros futuros durante a tarde desta sexta-feira, quando renovaram mínimas em sequência principalmente nos vencimentos longos, mais sensíveis ao vetor externo. Na prática, no entendimento dos agentes, a liquidez no mercado internacional deve seguir favorável para economias emergentes com taxas em ascensão como o Brasil.

Evento mais esperado na semana, Powell não decepcionou em sua participação no tradicional evento do Fed. Embora tenha endossado a ideia de que o "tapering" começa no fim deste ano "se a economia continuar evoluindo", sinalizou também que o processo será gradual e dissociado de aumento de juros, para o qual os requisitos são mais rigorosos. Citou também forças desinflacionárias globais para justificar que as leituras elevadas de inflação são temporárias.

Com estes sinais dovish, só as taxas além de 2030 seguem nos dois dígitos e a curva fechou a semana com perda de inclinação em torno de 30 pontos-base. A percepção dos agentes, no entanto, é de que haveria espaço para uma devolução até maior não fossem as incertezas fiscais e o cenário pessimista para inflação em meio à crise energética, com o mercado à espera da definição ainda na sexta-feira da bandeira tarifária que vai vigorar em setembro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 8,44%, de 8,48% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 recuou de 9,425% para 9,35%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,71%, de 9,804%. O diferencial entre os contratos janeiro de 2023 e janeiro de 2027 fechou em 127 pontos, de 160 pontos na última sexta-feira.

Bolsa

O homem da semana, Jerome Powell, trouxe a mensagem que soou como música para reavivar o apetite por risco nesta sexta-feira: há caminho pela frente para o Federal Reserve atingir a meta referente ao emprego, o aumento da inflação dos Estados Unidos ainda é transitório e a variante Delta do coronavírus continua a inspirar cautela quanto ao ritmo de recuperação econômica global. Assim, com os rendimentos dos Treasuries cedendo e o S&P 500 mais o Nasdaq em novos recordes, o Ibovespa surfou o bom humor suscitado pelo discurso do presidente do Federal Reserve no simpósio anual de Jackson Hole, para elevar os ganhos da semana a 2,22%, vindo de perda de 2,59% e de 1,32% nas duas anteriores.

Nesta sexta, o índice de referência da B3 fechou na máxima do dia, em alta de 1,65%, a 120.677,60 pontos, com mínima a 118.720,95 e abertura a 118.725,14.

Foi o segundo melhor nível de fechamento da semana, em que recuperou e conseguiu manter o nível de 120 mil pontos em três encerramentos, algo que ainda não tinha sido visto nesta segunda quinzena. No mês, faltando duas sessões para o fim de agosto, ainda acumula perda de 0,92% - no ano, volta a terreno positivo (+1,40%) com o ganho desta sexta-feira, em que o giro financeiro, bem leve, ficou em R$ 23,8 bilhões.

Com noticiário doméstico relativamente acomodado nesta sexta-feira, o Ibovespa conseguiu se alinhar ao apetite de fora, deixando um pouco de lado a crise hidrológica, o avanço da inflação interna e as habituais preocupações políticas e fiscais.

Para a consultoria Capital Economics, a queda dos rendimentos dos Treasuries observada na sexta, na esteira do discurso de Powell, não deve se sustentar. Em relatório a clientes, a consultoria observa que o presidente do Fed indicou que a instituição está preparada para retirar estímulos ainda este ano, o que também não deve ser interpretado como surpresa.

"A barra colocada, ainda que dentro do arcabouço de política monetária, ficou acima do esperado", observa em nota Étore Sanchez, da Ativa. "Ainda que esperássemos gradualismo na fala do presidente (do Fed), e que haveria apenas uma sinalização sobre a redução do ritmo de expansão do 'Balance sheet', a autoridade reiterou inúmeras vezes a necessidade de se estimular o emprego até seu máximo, o que ainda permanece longe a despeito da inflação elevadíssima."

Mesmo que a recuperação baseada nas palavras de Powell venha a mostrar fôlego curto frente aos fatos, os ganhos se distribuíram nesta sexta-feira pelos setores de maior peso e liquidez, como commodities (Vale ON +2,50%, Petrobras PN +3,64%), bancos (Itaú PN +1,72%, Bradesco ON +1,27%) e siderurgia (Usiminas PNA +6,81%, CSN ON +2,43%). Na ponta do Ibovespa, destaque para PetroRio (+7,42%), à frente de Banco Inter (+7,06%) e Cyrela (+6,87%). No lado oposto, Americanas ON (-2,71%), Yduqs (-1,97%) e CVC (-1,31%).

"Jackson Hole teve desfecho favorável, com tom mais 'dovish' de Powell em relação à retirada de incentivos da economia. A leitura do mercado foi bem positiva, mundo afora, e o Ibovespa acabou surfando toda essa melhora de humor internacional. E ao longo da semana, aqui, vários agentes da política reforçaram discurso contra rompimento do teto (de gastos), de que é algo que não se discute e que não haverá. Ainda que persistam ruídos, rusgas entre os Poderes, acompanhamos hoje a melhora vista lá fora", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos

"Powell disse também que não tem nenhum indicativo de que haverá alta de juros no curto prazo - uma dissociação entre o programa de compra de ativos e uma possível alta de juros, dizendo, pelo contrário, que poderia ser muito danoso à economia caso houvesse um aumento de taxa de juros antes do momento ideal", observa Patricia Krause, economista-chefe para América Latina da seguradora francesa Coface.


Agência Estado e Correio do Povo


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