Manifestantes na Romênia, em dezembro de 1989, após confrontos com forças de Ceausescu.
A Revolução Romena de 1989 foi uma série de tumultos e protestos durante uma semana no final de dezembro de 1989 que culminaram com o derrube do regime comunista de Nicolae Ceaușescu. Os tumultos progressivamente violentos culminaram em um julgamento apressado e na execução de Ceaușescu e de sua esposa Elena. A revolução ocorreu enquanto outras nações do leste europeu faziam uma transição pacífica para a democracia; a Romênia foi o único país do Bloco do Leste a derrubar violentamente o seu regime comunista.[4][5]
Antes da revolução
Importante salientar a embaixada soviética em Bucareste era o centro de apoio dos grupos que eram adversários de Ceausescu. Os stalinistas, os militares e os perestroikistas (a partir do anúncio da Perestroika). Muitos eram agentes dos soviéticos que estavam infiltrados no governo romeno.[6]
Assim como em países vizinhos, em 1989 a maior parte da população romena estava insatisfeita com o regime comunista. As políticas econômica e de desenvolvimento de Ceaușescu (incluindo projetos de construção grandiosos e um programa de austeridade para capacitar a Romênia a pagar toda a sua dívida nacional) geralmente eram culpadas pela escassez grave e predominante do país que aumentava a pobreza; além do mais, a polícia secreta (Securitate) havia se tornado tão omnipresente a ponto de tornar a Romênia essencialmente um Estado policial.
Em novembro de 1989 foi sepultado a última aliança que Ceasescu poderia fazer com líderes das repúblicas soviéticas. Na Alemanha Oriental Erich Honecker caiu e na Bulgária Todor Jivkov também caiu. Estes três eram reconhecidos como adversários dos projetos de Mikhail Gorbatchov.
Em 4 de dezembro de 1989. Houve uma reunião entre os líderes do bloco do Leste ( presidentes e ministros de relações exteriores) com Mikhail Gorbatchov. Nicolae Ceaușescu se mostrou reticente na questão da diminuição de asperezas entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte e o Pacto de Varsóvia. E também um relatório sobre a Invasão da Tchecoslováquia em 1968 donde Gorbatchov tentou colocar como uma ação conjunta do Pacto. Ceaușescu ressaltou que a Romênia nunca fez parte disso.[6]
Timișoara
Em 16 de dezembro, um protesto eclodiu em Timișoara como resultado por uma tentativa do governo de desapropriar um sacerdote húngaro metodista dissidente, László Tőkés, que recentemente havia se pronunciado contra o governo e fora acusado de incitar ódio racial. A pedido do governo, seu bispo o havia removido de seu posto, privando-o com isso de seu direito ao seu apartamento, que era um privilégio de sua posição. Por algum tempo, seus paroquianos reuniram-se ao redor de seu apartamento para protegê-lo do assédio e da desapropriação. Muitos transeuntes, incluindo estudantes romenos religiosos, todos acenderam velas e ficaram em volta da casa impedindo a passagem das forças militares, a policia usou de armas para retirar os manifestantes, efetuando disparos em suas pernas, com isso alguns manifestantes começaram a correr por toda a cidade gritando Deus existe em plena força dos pulmões, conseguindo aumentar o contingente dos manifestantes.
Conforme se tornava claro que a multidão não se dispersaria, o prefeito Petre Moț prometeu não desapropriar Tőkés, mas a multidão ficou impaciente — pois Petre Moț se recusou a elaborar documentos oficiais para anular a desapropriação — e começou a se manifestar e gritar. As forças policiais e da Securitate apareceram. Às 19h30, o protesto havia se tornado geral, e a causa original em grande parte havia se tornado irrelevante. Alguns dos protestantes tentaram incendiar o edifício que hospedava o Comitê Distrital do Partido Comunista da Romênia (CPR). A Securitate respondeu com gás lacrimogêneo e jatos d'água, enquanto a polícia espancava os desordeiros e prendia muitos deles. Por volta das 21h00 os desordeiros se retiraram, reagruparam-se ao redor da catedral e começaram a andar pela cidade, mas mais uma vez foram confrontados pelas forças de segurança.
Os tumultos e protestos continuaram no dia seguinte, 17 de dezembro. Os manifestantes invadiram o Comitê Distrital e jogaram na rua documentos do Partido, panfletos de propaganda, obras de Ceaușescu e outras coisas. Os manifestantes mais uma vez pretendiam incendiar o prédio e começaram a fazer uma fogueira, mas foram impedidos desta vez por soldados do exército. A presença do exército significava que as ordens vinham do mais alto escalão, presumivelmente do próprio Ceaușescu. O exército falhou em estabelecer a ordem, mas foi bem-sucedido em tornar Timișoara um verdadeiro inferno: tiroteios, mortes, ferimentos, lutas e o incêndio de carros, Transport Auto Blindat (TAB) (transportes pessoais blindados), tanques e lojas. Após as 20h00, da Piața Libertății (Praça da Liberdade) à Casa de Ópera havia tiroteios ferozes, inclusive nas zonas da ponte Decebal, Calea Lipovei (Estrada Lipovei) e Calea Girocului (Estrada Girocului). Tanques, caminhões e TABs bloquearam as entradas para a cidade enquanto helicópteros continuavam a fazer voos de reconhecimento. Após a meia-noite os protestos acalmaram. Ion Coman, Ilie Matei e Ștefan Gușă inspecionaram a cidade, que parecia estar no dia seguinte a uma guerra: destruição, cinzas e sangue por toda parte.
Na manhã de 18 de dezembro, o centro de Timișoara estava protegido por soldados e Securitate à paisana. O prefeito Moț convocou uma reunião de Partido para condenar o vandalismo dos dias anteriores e declarou lei marcial, proibindo que as pessoas saíssem em grupos maiores de duas pessoas. Apesar do perigo, um grupo de 30 rapazes se dirigiu à catedral, onde pararam e agitaram uma bandeira da qual haviam removido o brasão comunista romeno. Sabendo que seriam alvejados, eles começaram a cantar "Deșteaptă-te, române!", um antigo hino nacional que havia sido banido desde 1947. Eles foram, de fato, alvejados; alguns morreram, outros ficaram seriamente feridos, outros escaparam.
Em 19 de dezembro, Radu Bălan e Ștefan Gușă visitaram os operários nas fábricas, mas não foram capazes de fazerem eles voltarem ao trabalho. Em 20 de dezembro, operários entraram na cidade em massivas colunas. 100 000 protestantes ocuparam a Piața Operei (Praça da Ópera - hoje Piața Victoriei; Praça da Vitória) e começaram a entoar protestos antigovernamentais: "Noi suntem poporul!" ("Nós somos o povo!"), "Armata e cu noi!" ("O exército está connosco!"), "Nu vă fie frică, Ceaușescu pică!" ("Não tenham medo, Ceaușescu cairá"). Enquanto isso, Emil Bobu e Constantin Dăscălescu foram enviados por Elena Ceaușescu (Nicolae Ceaușescu estando na época no Irã) para se encontrarem com uma delegação dos protestantes; porém, eles se recusaram a cumprir as exigências dos protestantes e a situação permaneceu essencialmente a mesma; no dia seguinte, trens com operários das fábricas em Oltênia chegaram em Timișoara para se unirem aos protestos. Um operário explicou: "Ontem, nosso chefe da fábrica e o oficial do Partido nos reuniram no pátio, nos deram bastões e nos disseram que em Timișoara os húngaros e os baderneiros devastaram a cidade e tínhamos que ir lá e esmagar essa revolta. Mas agora eu percebo que isso não é verdade".
Bucareste
Os eventos em Timișoara foram amplamente relatados pela rádio popular Voice of America e por estudantes que voltavam para casa para as comemorações de Natal.
Há várias visões conflitantes sobre os eventos em Bucareste que levaram à queda de Ceaușescu em 1989. Uma visão é de que uma parte do CPEx (Conselho Político-Executivo) do Partido Comunista Romeno tentou e falhou em produzir um cenário similar àquele no resto do bloco oriental dos países comunistas, onde a liderança comunista renunciaria em massa, permitindo que um novo governo surgisse pacificamente. Outra visão é de que um grupo de oficiais conspirou de forma bem-sucedida contra Ceaușescu. Vários oficiais afirmaram que conspiraram contra Ceaușescu, mas as evidências além de suas próprias afirmações, na melhor das hipóteses, são escassas. A última visão é sustentada por uma série de entrevistas dadas em 2003–2004 pelo ex-tenente-coronel da Securitate Dumitru Burlan, guarda-costas de Ceaușescu por muito tempo. As duas teorias não são necessariamente mutuamente exclusivas.
Em novembro de 1989 Ceaușescu visitou Mikhail Gorbachev, que lhe pediu para renunciar. Ceaușescu recusou. A questão de uma possível renúncia surgiu novamente em 17 de dezembro de 1989, quando Ceaușescu reuniu o CPEx (Conselho Político-Executivo) para decidir sobre as medidas necessárias para reprimir o levante de Timișoara. Embora atas tenham sido escritas e apresentadas no julgamento de vários membros do CPEx, as stenograma (atas) que restaram à época do julgamento eram incompletas de modo frustrante: páginas estavam faltando, incluindo a discussão de uma possível renúncia.
Queda de Ceaușescu
Dezembro de 1989 marcou a queda de Ceaușescu e o fim do regime comunista na Romênia, uma mudança violenta, que resultou em mais de mil mortes (1 167 mortos[6] )durante os eventos decisivos em Timișoara e Bucareste. Após uma semana de estado de intranquilidade na cidade Timișoara, Ceaușescu perdeu o controle sobre o governo do país, fugindo de Bucareste após convocar uma reunião de apoio que se voltou contra ele em 21 de dezembro de 1989, sendo preso e executado em 25 de dezembro de 1989. A série de eventos conhecida como a Revolução Romena de 1989 permanece até hoje uma questão de debate, com muitas teorias conflitantes sobre as motivações e mesmo as ações de alguns dos personagens principais. Um antigo ativista marginalizado por Ceaușescu, Ion Iliescu, conseguiu reconhecimento nacional como líder de uma coligação governamental improvisada, a Frente de Salvação Nacional (FSN), que proclamou a restauração da democracia e liberdade em 22 de dezembro de 1989. O Partido Comunista foi declarado ilegal e as medidas mais impopulares de Ceaușescu, tais como o Decreto 770 que proibia o aborto e a contracepção,[7] foram revogadas.
Ver também
- Anticomunismo
- Descomunização
- Lustração
- Muro de Berlim
- Primavera de Praga
- Protesto na Praça da Paz Celestial em 1989
- Revolução Cantada
- Revolução de Veludo
- Revoluções de 1989
Referências
- 2014 Europa World Year Book, pg. 3758, ISBN 978-1857437140
- ↑ Valentin Marin (2010). «Martirii Revoluției în date statistice» (PDF). Bucharest: Editura Institutului Revoluției Române din Decembrie 1989. Caietele Revoluției (em romena). ISSN 1841-6683
- ↑ Marius Ignătescu (21 de março de 2009). «Revoluția din 1989 și ultimele zile de comunism». Descoperă.org (em romena)
- ↑ Stephen D. Roper, Romania: The Unfinished Revolution, Routledge, 2000, ISBN 978-90-5823-028-7
- ↑ George Galloway e Bob Wylie, Downfall: The Ceaușescus and the Romanian Revolution. Futura Publications, 1991
- ↑ ab c CARTIANU, Grigore (2012). O fim dos ceausescu. São Paulo: E realizações. 49 páginas
- ↑ Mundo, Redacción BBC. «El horror de los niños huérfanos de Rumania: "Fuimos aniquilados como seres humanos"». BBC News Mundo (em espanhol). Consultado em 22 de fevereiro de 2019
Wikipédia
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