Andarilhos dizem que não conseguem se adaptar às regras das instituições oferecidas pela prefeitura
Porto Alegre tem aproximadamente 2,7 mil pessoas em situação de rua, segundo dados da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Apesar de a Prefeitura disponibilizar diariamente albergues com refeições, banho quente, cama, kits de higiene e cobertores, ainda existe uma grande resistência de muitas dessas pessoas, que preferem continuar nas ruas, mesmo com o frio intenso que faz na Capital.
As pessoas em situação de rua podem ser vistas em todos os bairros de Porto Alegre em moradias temporárias improvisadas com lonas, papelões, plásticos e pedaços de madeira e outros materiais, localizadas em praças, parques, viadutos ou em qualquer outro espaço que sirva de abrigo. Paulo Augusto Santos Silva, de 63 anos, é um dos muitos que preferem dormir ao relento do que ficar em um albergue ou abrigo. Há cinco anos nas ruas, ele dorme geralmente no terminal da estação de ônibus da Praça Parobé, no Centro Histórico, numa cama improvisada com papelões e cobertores. “A rua é a minha casa. Aqui sou independente e faço o quero. Os dias são difíceis, mas prefiro ficar por aqui do que ser controlado num abrigo ou albergue”, afirmou.
O morador de rua destacou que é construtor civil e está nas ruas por causa do desemprego. “Ninguém quer dar emprego para um velho como eu. Sem trabalho é impossível se manter. Minha única alternativa foi ter que morar nas ruas”, ressaltou Paulo Augusto, lembrando que para suportar o frio e conseguir dormir toma uma “cachacinha”.
Enrolado num cobertor e deitado no chão gelado da estação de ônibus, outro morador de rua, de 32 anos, que não quis se identificar, disse que já pernoitou em albergues algumas vezes, mas não conseguiu se adequar às regras estabelecidas. “Tentei ficar em abrigos em dias frios e chuvosos, mas não consegui me adaptar. Mesmo com o tempo ruim e algumas dificuldades que a vida nas ruas oferece, como a violência e o desamparo, ainda prefiro viver onde eu dito as regras para a minha sobrevivência”, enfatizou.
De acordo com a presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Cátia Lara Martins, a Fasc disponibiliza diariamente 256 vagas em quatro albergues em Porto Alegre, onde os moradores em situação de rua podem passar a noite. Nos locais, são oferecidas 1.100 refeições diárias e higiene pessoal, além de atendimento social com uma equipe multidisciplinar para adultos, idosos e famílias em situação de rua. “Os usuários dos albergues geralmente já são cadastrados e usufruem dos nossos serviços. Nosso trabalho é oferecer ajuda para que essas pessoas possam deixar as ruas”, afirmou a presidente Cátia Lara Martins, que destacou que a Fasc possui 12 equipes de técnicos e educadores sociais que percorrem a cidade para o acolhimento de moradores de rua. “Eles fazem a abordagem social e atendimento sistemático em todos os locais onde existem pessoas em situação de rua”, ressaltou.
Os moradores de rua que ocuparam o ginásio Gigantinho, no final da tarde da terça-feira, tiveram uma noite tranqüila, segundo funcionários da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc). Nesta quarta-feira, 28, eles fizeram a higiene pessoal, as três refeições por dia, café da manhã, almoço e jantar, e também puderam assistir televisão.
A chuva que caiu durante a tarde e causou algumas goteiras no ginásio, não atingiu as 102 pessoas que estão no local, na ação que faz parte da Operação Inverno da Prefeitura de Porto Alegre, que tem como objetivo abrigar as pessoas em situação de rua até domingo, nesses dias de previsão de frio intenso em Porto Alegre. “Foram poucas goteiras. Choveu pouco dentro do ginásio. Movemos algumas camas e colchões e realocamos as pessoas”, afirmou a presidente da Fasc, Cátia Lara Martins, lembrando que além das 100 vagas que a Prefeitura oferece no Gigantinho, quatro igrejas da Capital e o Colégio Pão dos Pobres irão disponibilizar mais 50 vagas para as pessoas em situação de rua se abrigarem nesses dias de frio.
Correio do Povo
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