por Isabela Bolzani
Em 2020, transações por celular e tablet ultrapassaram 50% do total pela 1ª vez
As transações feitas pelo Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, já representam 30% de todas as operações feitas por pessoas físicas e jurídicas no país, considerando pagamentos feitos por maquininha e transferências por DOC e TED.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (24) pela Pesquisa Febraban (Federação Brasileira de Bancos) de tecnologia bancária feita em parceria com a Deloitte. A divulgação foi feita no congresso Ciab de tecnologia bancária, promovido pela federação.
Em novembro, quando foi lançado, o Pix representava 7% de todas as transações.
Em maio deste ano, as transações com Pix somaram 613,8 milhões, aumento de 22,8% em relação a abril.
Dados do Banco Central divulgados em maio deste ano também já apontavam o Pix como a transação mais popular do país, tendo ultrapassado R$ 1 trilhão em transações até abril. Crescendo mês a mês, foram R$ 307 bilhões em transações via Pix no mês, com 478,6 milhões de operações.
Ainda de acordo com o BC, a maior parte das transações feitas no país são por Pix desde março. Segundo a autarquia, de novembro a maio, o valor médio de um Pix é de R$ 717.
Segundo o gerente-geral de TI do Banco do Brasil e diretor setorial de TI da Febraban, Rodrigo Mulinari, é difícil projetar o tamanho do crescimento do Pix ao longo dos próximos meses.
“A expectativa é que diante da forte adesão que o Pix tem mostrado, ele venha a se tornar o principal meio de pagamento para pessoas físicas e jurídicas no curto ou no médio prazo. O sistema tem uma agenda regulatória extensa que ainda está em construção e novos negócios estão sendo construídos ao redor desse ecossistema”, afirmou o executivo em entrevista feita a jornalistas.
De acordo com o cronograma do Banco Central, o Pix Saque e o Pix Troco —que possibilitaria o recebimento de troco em dinheiro ou o saque por meio do comércio varejista— e o Agendamento Pix devem ser implementados no terceiro trimestre deste ano.
"Esperamos que o varejo embarque nesse produto para oferecer novas funcionalidades a seus clientes. Ainda existe quem viaje de 30km a 40km de uma cidade a outra simplesmente para fazer um saque. Então é importante aproveitar a infraestrutura que já existe para prestar esse serviço adicional", afirmou o diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do BC, João Manoel Pinho de Mello, em outro painel do Ciab.
Em outro painel, o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles chegou a mencionar, ainda, que o Pix tem potencial para atrair mais gente para os meios eletrônicos de pagamento. "A verdade é que mais de 70 milhões de brasileiros que ainda preferem pagar em dinheiro e ainda precisamos entender as razões para isso. O Pix vai ajudar, mas ainda é uma dificuldade", disse.
"Temos um longo caminho a ser percorrido. Pode ser uma resistência por falta de conhecimento ou pela propensão a usar canais físicos. Mas já temos um dado interessante de que mais de 11 milhões [de pessoas] que não faziam TED em novembro de 2019, hoje são usuários do Pix, com ticket médio mais baixo, o que é positivo", completou Janaína Pimenta Attie, chefe de subunidade no departamento de competição e de estrutura do mercado financeiro do BC.
Na agenda do quarto trimestre, o BC conta com a implementação do Pix por aproximação, do Pix Offline —que permite fazer ou receber pagamentos e transferências sem conexão com a internet— e o mecanismo especial de devolução que, segundo Pinho de Mello, seria uma ferramenta para evitar fraudes.
"Esse mecanismo especial de devolução vai aumentar a rastreabilidade [dos recursos] e terá a capacidade de reprimir e dificultar a ação de fraudadores", disse.
O diretor do BC também afirmou que apesar de não ter uma data específica para a implementação, a autarquia já iniciou as conversas para a introdução do Pix internacional, que permitirá a conexão com sistemas de pagamentos instantâneos de outros países e regiões do mundo.
A liquidação não prioritária (uma funcionalidade associada ao pagamento agendado), o Pix garantido (que permitirá o parcelamento de compras) e o débito automático estão na agenda do BC para implementação no sistema de pagamentos instantâneos em 2022.
TRANSAÇÕES POR CELULAR E TABLET ULTRAPASSARAM 50% DO TOTAL PELA 1ª VEZ
Outro destaque trazido pela pesquisa foi o aumento das operações digitais. As transações bancárias feitas por dispositivos móveis, como o celular e tablet, totalizaram 52,9 bilhões de operações em 2020.
O número recorde é um avanço de 43% em relação ao observado em 2019 e, pela primeira vez na série histórica, representa mais da metade de todas as transações feitas durante o ano.
Ainda segundo o levantamento, 90% de todas as contratações de crédito registradas em 2020 foram feitas por canais digitais.
O movimento, que ganhou tração diante da pandemia do coronavírus e do maior uso do mobile e internet banking pelas transações referentes ao auxílio emergencial, também teve outros efeitos na indústria bancária.
Segundo a pesquisa da Febraban, operações feitas por meio do internet banking, dos caixas eletrônicos e das agências tiveram redução de 0,1%, 8,8% e 28,3%, respectivamente, em comparação a 2019.
“Todos os tipos de transações mostraram queda nos ATMs [caixas eletrônicos], muito por conta da pandemia. Mas isso já mostra uma indústria bem preocupada com o canal, pensando em renovar ou em como melhorar o grande parque de máquinas que estão instalados pelo país”, afirmou o sócio-líder para a indústria de serviços financeiro da Deloitte Brasil, Sério Biagini.
Em relação às agências, que representaram apenas 3% do total de transações (que caíram 28% na comparação anual), os executivos afirmam que os espaços físicos ainda terão relevância, principalmente para tratar contratação de produtos e serviços mais complexos, como renegociação de dívidas.
“Há uma mudança no comportamento do cliente e os canais digitais vêm ganhando a preferência. Mas ações mais complexas, que precisam de apoio maior de atendimento, como investimentos, seguros e negociação de dívidas, ainda tendem a acontecer nos espaços físicos. As agências começam a ganhar um papel mais consultivo”, disse Mulinari.
Outro ponto importante trazido pela pesquisa é o investimento em cibersegurança, área que representa 10% de todo o orçamento separado para TI. Segundo o levantamento, os bancos separaram R$ 25,7 bilhões para investir em tecnologia em 2020, alta de 8% em relação a 2019.
Recentemente, porém, houve um aumento no registro de fraudes bancárias após o furto de celulares, crimes praticados pelas chamadas quadrilhas “limpa-conta”.
Diante da situação, o Procon SP anunciou nesta quarta-feira (23) que vai exigir de bancos e empresas de telefonia a criação de centrais de emergência para o bloqueio imediato de contas após o extravio de aparelhos.
A ideia, segundo a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor, é a criação de serviço gratuito, com números de telefones de fácil memorização (111, por exemplo) e que o atendimento seja feito quase instantaneamente, para evitar que os criminosos consigam limpar a contas bancárias antes que as vítimas comuniquem o crime.
“Os canais digitais são seguros e há um investimento massivo e uma preocupação constante em relação ao assunto. Sempre vimos a inteligência artificial no uso de segurança e os bancos continuarão a aprimorar os seus modelos. Mas os canais digitais são extremamente seguros”, afirmou Mulinari.
Segundo o executivo, a maior preocupação do setor é em relação aos golpes feitos por meio de engenharia social, na qual o criminoso se faz passar por uma instituição financeira e coage a vítima a passar seus dados bancários.
“Não registramos violação nos aplicativos. O que percebemos foi que em alguns casos em que o meliante roubava o dispositivo, ele estava aberto e possibilitava que o ladrão procurasse por senhas, credenciais e outras informações guardadas em notas ou mensagens pelo dispositivo”, disse Mulinari.
“Por isso, sempre orientamos para que o consumidor nunca coloque senhas ou credenciais dentro de dispositivos. Eu reitero que os canais digitais são extremamente seguros."
Fonte: Folha Online - 24/06/2021 e SOS Consumidor
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