Walter Delgatti reconheceu ter invadido os aparelhos, mas negou integrar organização criminosa
Denunciado pelo ataque hacker e roubo de mensagens dos celulares de autoridades, incluindo procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sérgio Moro, Walter Delgatti, conhecido ‘Vermelho’, prestou novo depoimento nesta sexta-feira, 18, no âmbito do processo criminal em curso na 10ª Vara Federal de Brasília. Ele reconheceu ter invadido os aparelhos, mas negou integrar uma organização criminosa montada para praticar crimes cibernéticos bancários.
Segundo o Ministério Público Federal, Delgatti seria responsável ‘direto e imediato’ por 126 interceptações telefônicas, telemáticas ou de informática e por 176 invasões de dispositivos informáticos de terceiros.
De acordo com ele, na origem, o método para acessar as mensagens do aplicativo Telegram foi desenvolvido para hacker um promotor que o investigou anos antes por fraudes bancárias. Ele chegou a ser preso, mas afirmou ter sido absolvido.
"Eu continuei acessando outros Telegrams, inclusive o do policial da investigação, o delegado, o juiz que me manteve preso. Eu acabei acessando também de um procurador da República que era meu professor e acabei indo, acessando, e criei interesse. Eu lembro que estava em debate a reforma da previdência, eu acabei acessando de políticos e fui me empolgando nisso", disse.
Então estudante de Direito, Delgatti disse que era admirador da Lava Jato e teve a ideia de invadir o celular do então coordenador da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol, depois de ouvir uma palestra dele na faculdade e se ‘identificar muito’ com o procurador. A motivação, segundo ‘Vermelho’, foi saber quem seria preso e os ‘crimes do País’.
"Eu apoiava a Lava Jato. É só ver meus posts nas redes sociais, em Facebook, que eu sempre apoiei a Lava Jato. Eu era contra PT, contra Lula, e apoiava o Sérgio Moro, o Deltan", afirmou.
A versão do hacker é a de que, ao leras mensagens, ele começou a ‘entender o que a Lava Jato fez de mal ao País’. "Quando eu acessei as conversas, comecei a ler, a entender aquilo, e vi o que realmente estava acontecendo, os crimes que eles cometeram", afirmou.
Delgatti disse ainda que, antes de entregar o material ao portal The Intercept Brasil, que divulgou as mensagens na série de reportagens conhecida como Vaza Jato, fez contato com a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e o procurador José Robalinho, mas não teve sucesso nos pedidos de investigação.
"Eu apoiava aquilo, mas enxergando o mal que eles fizeram eu me senti obrigado a pegar essa mensagens e entregar a autoridades, não a mídia. A minha meta nunca foi a mídia", disse.
No depoimento, ele também voltou a dizer que fez contato com o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB). Também afirmou que não procurou diretamente o repórter por não conhecê-lo e não ter confiança na mídia.
"Eu queria justiça e entregar isso à Justiça. Depois disso, que eu vi que era sem sucesso, eu acabei entrando em contato com a Manuela D’Ávila, ela me passou o jornalista, que eu entreguei a ele o material e foi publicado. Antes do Glenn, eu tentei entregar isso à Justiça", explicou.
Ele alega ter sido movido por um sentimento de justiça e nega ter recebido dinheiro ou oferta de vantagens financeiras pelo ataque. "Eu recebei o que eu mais queria, que era justiça", disse. "Ela [Manuela D’Ávila] perguntou o que eu queria em troca. No livro que saiu da Vaza Jato ela explica que ela fez isso pensando que eu ia falar de dinheiro, ela ia me bloquear e não continuar a conversa. Depois o Glenn nem tocou no assunto de dinheiro, de pagamento ou de vantagem", acrescentou.
Delgatti disse ainda que as conversas são autênticas e não poderiam ter alteradas por serem mensagens antigas.
Agência Estado e Correio do Povo
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