Moeda norte-americana avançou forte pela manhã, mas reduziu ritmo e encerrou em alta de 0,28%
Depois de ensaiar uma arrancada na parte da manhã, correndo até a máxima de R$ 4,9705, em linha com o ambiente externo, o dólar perdeu força ao longo da tarde com operadores relatando fluxo positivo de recursos, mas ainda assim encerrou o pregão em alta de 0,28%, a R$ 4,9419. Analistas afirmam que a perspectiva de juros mais elevados no Brasil e a expectativa de fluxo contínuo de dólares pelos canais comercial e financeiro ao longo dos próximos meses impedem que o dólar alce voos maiores, a despeito de questões externas e domésticas que aumentam a percepção de risco.
Lá fora, pesam as preocupações globais com a variante Delta do novo coronavírus (mais contagiosa) e as expectativas em torno dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), com o mercado à espera de divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos na quarta e, sobretudo, na sexta-feira.
Por aqui, investidores seguem atentos à investigação da CPI da Covid em torno do contrato para aquisição da vacina indiana Covaxin, que pode abalar ainda mais a popularidade do presidente da República, Jair Bolsonaro, e tentam mensurar as chances de aprovação da reforma tributária, com proposta de taxação de dividendos, além de monitorem indicadores.
De manhã, a agência a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou reajuste de 52% na bandeira vermelha 2, mas com impactos limitados na inflação. Existe certo temor, porém, de que a crise hídrica se agrave, prejudicando a recuperação da economia, um dos motivos para o fortalecimento recente do real. Pela tarde, saíram dados positivos da arrecadação de impostos e contribuições federais em maio (R$ 142,106 bilhões, o melhor resultado da série histórica para o mês), o que diminui os temores fiscais.
Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o dólar tenta encontrar uma nova faixa de oscilação no curto prazo, após a forte queda das últimas semanas. Investidores aproveitam a tensão externa e os problemas domésticos para realizar lucros, enquanto aguardam que os riscos arrefeçam para voltar a apostar no enfraquecimento da moeda americana.
"Essa questão da CPI da Covid e a preocupação lá fora com a variante delta estão dando sustentação a esse dólar na casa de R$ 4,90 agora, mas a tendência é de queda nos próximos meses, com alta da Selic e os resultado positivos das contas externas", diz Galhardo, que chama a atenção para a emissão de bônus pelo Tesouro Nacional lá fora, o que mostra o apetite de estrangeiros pelo Brasil.
Fontes afirmaram que ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que o Tesouro captou US$ 2,250 bilhões em títulos de 10 e 30 anos, mas que a demanda chegou a US$ 7,5 bilhões.
O economista-chefe do BNP Paribas do Brasil, Gustavo Arruda, afirmou nesta terça que vê espaço para mais apreciação do real e que trabalha com um dólar cotado a R$ 4,75 neste ano e R$ 4,60 em 2022. Essa visão leva em conta um retardamento da normalização das taxas de juros nas economias desenvolvidas, a continuidade da alta da taxa Selic por aqui e a manutenção dos preços das commodities nos níveis atuais.
"Não quer dizer que não haverá volatilidade", disse Arruda, ressaltando que a proximidade do ano eleitoral tende a provocar oscilações mais fortes na taxa de câmbio.
Juros
Os juros fecharam a sessão em queda, refletindo um conjunto de notícias positivas para os quadros de inflação e das contas públicas. O dia começou com o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de junho abaixo da mediana das expectativas, passando pelos dados fiscais melhores do que o consenso, enquanto o valor definido para a bandeira vermelha 2 pela Aneel ficou aquém dos dois dígitos e, com isso, não confirmou os piores cenários do mercado. A terça-feira teve ainda emissão externa pelo Tesouro com demanda muito acima da oferta e leilão de NTN-B, fechando o primeiro semestre. As taxas curtas caíram mais do que as longas, o que levou a curva a perder inclinação, num contexto em que as apostas de aperto de 0,75 ponto porcentual da Selic nas próximas reuniões vêm ganhando força em detrimento da expectativa de aumento maior, de 1 ponto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 5,605%, de 5,647% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 fechou em 6,965%, de 7,018%. O DI para janeiro de 2025 teve taxa de 7,95%, de 7,984%, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 8,443% para 8,40%.
O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, explica que a curva vem sofrendo uma correção das altas da semana passada trazidas pelas mensagem "hawkish" do Comitê de Política Monetária (Copom) e as informações dos últimos dias "vêm colocando a aposta de 0,75 ponto de volta ao jogo". "O mercado vinha pondo muitas fichas no aumento de 1 ponto e mesmo assim a curva vinha inclinando porque a dinâmica estava ruim. Ontem a Focus trouxe alívio com a manutenção da mediana de IPCA 2022 em 3,78% e hoje o IGP-M abaixo das projeções também ajuda", disse, lembrando que o resultado anunciado nesta terça se deu após uma sequência de IGPs muito elevados.
O IGP-M de junho subiu 0,60%, ante 4,1% em maio e ficou abaixo do piso das estimativas (0,78%). O resultado já deu alívio para os curtos na abertura, mas o mercado ainda aguardava a definição sobre a bandeira vermelha 2. No fim da manhã, a Aneel anunciou reajuste de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 quilowatt-hora consumidos, válidos a partir de julho, mas contrariando a área técnica, que defendia algo entre R$ 11,50 e R$ 12,00. "Diante do risco de ser R$ 12, o desfecho só não foi melhor porque o número será colocado em consulta pública, o que acaba gerando uma incógnita", diz Serrano.
No fim da tarde, a agência informou ter convocado uma reunião para discutir um valor extraordinário de agosto a dezembro.
Os números fiscais do dia e a captação de bonds do Tesouro deram uma sinalização positiva aos aplicadores da ponta longa da curva. A arrecadação de R$ 142,106 bilhões em maio, o maior valor para o mês da série histórica da Receita Federal, que teve início em 1995, superou o teto das previsões, de R$ 136,1 bilhões. O déficit do Governo Central, de R$ 20,947 bilhões, em maio foi menor do que apontava a mediana, de saldo negativo de R$ 24,2 bilhões.
Bolsa
Em meio a preocupações sobre a crise hídrica e ainda tentando assimilar a perspectiva de aumento de tributação, o Ibovespa voltou a terreno negativo nesta terça-feira em que parecia a caminho de fechar no menor nível desde 31 de maio. Ao final, limitou as perdas e fechou quase no zero a zero, em leve baixa de 0,08%, aos 127.327,44 pontos, acima do encerramento de sexta-feira, com giro enfraquecido nesta terça a R$ 27,5 bilhões.
No mês, o índice acumula ganho de 0,88%, com avanço de 0,06% na semana - no ano, sobe 6,98%. Nesta terça, descolado de sessão em geral positiva no exterior - sustentada mais uma vez pelo trilionário pacote de infraestrutura nos Estados Unidos e por dados europeus favoráveis -, o Ibovespa oscilou entre mínima de 126.184,05 e máxima de 127.507,18, saindo de abertura aos 127.429,17 pontos.
Prevaleceram sobre o humor doméstico os desdobramentos em torno da crise hídrica - especialmente a elevação da tarifa de energia e pressão extra sobre a inflação.
"Neste penúltimo dia do mês, ainda pesou no humor a proposta de reforma tributária, com tributação de dividendos, assim como o reajuste na bandeira tarifária de energia elétrica. A arrecadação poderia ter injetado algum ânimo. Por outro lado, muitos analistas consideram que a Vale pode fazer antecipação de dividendos, com essas mudanças da reforma", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, destacando também a cautela dos investidores com relação aos últimos desdobramentos da CPI da Covid, que contribuem para acentuar o risco político.
"A novidade do dia ficou por conta da elevação em 52% da bandeira vermelha, o que deve forçar ainda mais o IPCA este ano e sacramentar o fechamento, em 2021, acima do teto da meta. Em vista da medida, cresce a expectativa de o Copom acelerar o processo de alta da Selic - e de até mesmo atingir o patamar de 7% ainda neste ano", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Para Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, o comportamento do câmbio ao longo do mês reflete a perspectiva para a Selic e a percepção de que os Estados Unidos ainda manterão juros baixos por algum tempo, o que acabou enfraquecendo o dólar - um fator positivo para o Ibovespa. Nesta terça, mesmo com aversão a risco no plano doméstico, a moeda americana à vista permaneceu abaixo do limiar de R$ 5, em alta de 0,28%, a R$ 4,9419 no fechamento. "Temos empecilhos no Brasil que podem fazer com que a taxa de câmbio volte a depreciar: não só a pandemia como também a crise política e agora a hídrica."
Nesta terça-feira, destaque para as ações de commodities, especialmente Vale ON (+1,73%), apesar do desempenho desfavorável dos preços do minério de ferro na China, em baixa de 2,88% (Qingdao). Petrobras PN e ON fecharam, respectivamente, em alta de 0,45% (na máxima do dia, a R$ 29,18) e 1,37%, o que, ao lado de Vale, contribuiu para mitigar as perdas observadas no segmento de maior peso no índice, o de bancos, em queda nesta terça-feira entre 0,60% (Santander) e 0,99% (Itaú PN), ainda se ajustando às novidades tributárias propostas na última Sexta-feira.
Na ponta do Ibovespa, destaque para Braskem (+5,36%), à frente de Banco Inter (+4,13%) e de CSN (+4,10%). No lado oposto, Iguatemi cedeu 3,74%, Petrobras Distribuidora, 3,52%, e Ultrapar, 3,44%.
Agência Estado e Correio do Povo
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