O centro da meta é 3,75%, sendo que o limite de tolerância é 5,25%
O Banco Central informou nesta quinta-feira, ao divulgar o seu Relatório Trimestral de Inflação, que subiu de 5% para 5,8% sua estimativa de inflação para 2021 e que passou de 41% para 74% a probabilidade de a alta nos preços superar o teto da meta - de 5,25% - previsto para este ano. O BC vê uma aceleração da inflação no curto prazo, chegando a 8,5% no acumulado em 12 meses em agosto. Depois, prevê um arrefecimento até o fim do ano.
Alta nos preços de alimentos, câmbio (com reflexo para os preços industriais) e, mais recentemente, a perspectiva de aumento nas tarifas de energia elétrica, diante da seca histórica que ameaça o abastecimento, são fatores que têm impulsionado a inflação. O Boletim Focus, coletado pelo Banco Central junto a analistas de mercado, mostra que as projeções apontam alta ainda maior no fechamento do ano, de 5,90% no IPCA, índice oficial de inflação, em 2021.
Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) reagiu à alta de preços e começou a subir a taxa básica de juros, a Selic, que até então estava no piso histórico de 2% ao ano. Já foram três altas seguidas, e a Selic agora está em 4,25% ao ano.
O centro da meta de inflação, em 2021, é de 3,75%. Pelo sistema vigente no País, será considerada cumprida se ficar entre 2,25% e 5,25%. Ou seja, a projeção do BC já está acima do teto do sistema de metas. Se a meta não é cumprida, o BC tem de escrever uma carta pública explicando as razões que fizeram com que a inflação fugisse do controle da instituição.
Na análise divulgada ontem pelo BC, a maior crise hídrica dos últimos 91 anos atua em duas frentes: pressiona a inflação neste ano e limita o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Ontem, o BC subiu de 3,6% para 4,6% sua estimativa oficial para o crescimento da economia neste ano, embora considere o risco de escassez de energia um dos fatores que geram incerteza e que limitam a alta da atividade em 2021.
"Entre os fatores que podem diminuir a taxa de expansão, estão: risco de surgimento ou disseminação de novas variantes de preocupação do SARS-CoV-2; dificuldade para obtenção de insumos e custos elevados em algumas cadeias produtivas; e eventuais implicações da crise hídrica", informou.
A instituição avaliou, ainda, que a crise hídrica na bacia hidrográfica do Paraná pode ter implicações negativas para a geração de energia elétrica, com aumento de preços decorrente do maior acionamento de usinas termoelétricas - pressionando a inflação. "Destaca-se, ainda, como risco altista, possível elevação do custo da energia elétrica maior do que a considerada em função da situação hídrica", disse o relatório.
"O mercado coloca no cenário de inflação diversos riscos, e um deles é a questão energética", explica o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. Desde junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mantém acionada a bandeira vermelha patamar 2 no sistema elétrico. Na prática, os brasileiros estão pagando R$ 6,24 a mais por cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Para piorar, estão em discussão na agência reguladora novos valores para as bandeiras tarifárias. Pela proposta apresentada em março, no patamar 2, o mais caro do sistema, o reajuste pode chegar a 21%, passando para R$ 7,57 a cada 100 kWh. "O risco é de termos mais inflação, e não menos", alertou Serrano.
Outro fator que ganhará importância nos próximos meses é o custo dos serviços. O Banco Central já vem alertando que, em países onde a vacinação está mais avançada, surgiu uma "euforia de consumo" entre a população. Nos Estados Unidos, por exemplo, as pessoas passaram a alugar mais automóveis, a reservar mais hotéis e a comprar mais passagens aéreas. "Acreditamos que esta euforia da reabertura vai acontecer no Brasil também", disse no início do mês o presidente do BC, Roberto Campos Neto, durante evento virtual do JP Morgan.
"A inflação de curto prazo manteve-se pressionada, com destaque para a continuidade da alta dos preços das commodities, para a persistência do cenário de restrições de oferta de alguns materiais e insumos e para a deterioração do cenário hídrico, que tem rápida repercussão sobre o preço da energia elétrica mediante o acionamento de bandeiras tarifárias", disse o BC. Para a instituição, esses fatores mais do que compensaram os efeitos desinflacionários do agravamento da pandemia sobre os preços de serviços e da queda do dólar.
Para 2022 e 2023, no cenário de mercado (Selic e câmbio projetados pelas instituições financeiras), o Banco Central projetou uma inflação de, respectivamente, 3,5% e de 3,3%.
Impacto no juro
O relatório do Banco Central freou o movimento de elevação das projeções para o ritmo da taxa Selic, iniciado com a divulgação da ata do Copom. Pesquisa do Projeções Broadcast mostra acomodação do número de instituições que preveem aumento de 1 ponto porcentual dos juros no próximo Copom. A maioria indica alta de 0,75 ponto dos juros em agosto, a 5%.
Agência Estado e Correio do Povo
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