Dúvidas sobre as causas do colapso se multiplicaram nos últimos dias
As autoridades americanas continuam "esperançosas" em encontrar sobreviventes após três dias de buscas nos escombros do prédio que desabou na madrugada de quinta-feira na Flórida. Ao menos quatro pessoas morreram no desabamento do edifício de 12 andares, diante do mar em Surfside, perto de Miami Beach.
Dos 159 desaparecidos, quase um terço são estrangeiros. Nove argentinos, três uruguaios, seis paraguaios - incluindo a irmã da primeira-dama do país - e ao menos quatro canadenses, segundo as autoridades. Entre as vigas e metal, pilhas de escombros, o odor de borracha e plástico carbonizados, bombeiros, cães farejadores e guindastes procuram sobreviventes nas ruínas das Torres Champlain.
"Continuamos esperançosos. Continuamos a busca por sobreviventes nos escombros. É nossa prioridade e nossas equipes não pararam os trabalhos", disse a prefeita do condado de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, em coletiva de imprensa no sábado. Apesar dos esforços, ela indicou que "nenhuma nova vítima foi encontrada", portanto, não há mudanças no balanço anunciado na sexta-feira de quatro mortos e 159 desaparecidos.
As famílias, cada vez mais frustradas, estão impacientes, criticam as operações de resgate e começam a perder as esperanças. "Nenhum socorrista tentou retirar os escombros, pouco a pouco, mesmo com as mãos, sem uma máquina, para retirar as pessoas", declarou na sexta-feira Maurice Wachsmann à AFP. Seu melhor amigo está entre os desaparecidos.
As operações de resgate são particularmente difíceis devido a um incêndio que começou no local e que os bombeiros estão tentando controlar, informou a prefeita. "Nossa experiência é de que, durante as primeiras 72 horas, há muitas possibilidades de que as pessoas sobrevivam", afirmou o bombeiro Danny Cardeso, do condado de Miami-Dade, ao canal CBS.
As equipes de resgate, que escutam ruídos procedentes dos escombros mas não têm certeza de que são humanos, abriram um túnel sob o estacionamento inundado do prédio para tentar chegar a possíveis sobreviventes. Perto do local da tragédia foi criado um monumento com velas, flores e 40 fotos de desaparecidos.
Danos estruturais
As dúvidas sobre as causas do colapso se multiplicaram nos últimos dias e a investigação provavelmente vai durar meses. Um relatório de 2018 sobre as condições do prédio de 12 andares revelou "danos estruturais significativos" e "rachaduras" no porão, de acordo com documentos divulgados na noite de sexta-feira pelo governo da Surfside.
"A impermeabilização sob a borda da piscina e da via de acesso para veículos (...) ultrapassou sua vida útil e por isso deve ser totalmente removida e substituída", destacou o especialista Frank Morabito, diretor da Morabito Consultores, em um relatório. "Impermeabilização defeituosa causa danos estruturais significativos à laje de concreto estrutural abaixo dessas áreas", acrescentou.
"Rachaduras e escamas de vários graus foram observadas nas colunas, vigas e paredes de concreto", indicou Morabito. "Embora alguns danos sejam pequenos, a maioria deve ser reparada em tempo hábil", indicou o relatório.
Até agora, a investigação se concentrava especialmente em um relatório de 2020, que revelou que o edifício havia sofrido um afundamento a um nível de quase dois milímetros por ano entre 1993 e 1999. No entanto, Shimon Wdowinski, um dos autores do estudo e professor da Universidade Internacional da Flórida (FIU), disse à CNN que não sabia "se o colapso era previsível".
Este ano, a propriedade entrou em um processo de certificação que deve acontecer a cada 40 anos nesta região que sofre com furacões. Neste contexto, obras de melhora na cobertura estavam em curso, mas as autoridades parecem descartar que estas possam ter causado a tragédia.
AFP e Correio do Povo
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