sexta-feira, 11 de junho de 2021

Autoridades eleitorais e observadores não encontram sinais de fraude no Peru

 Keiko Fujimori denunciou irregularidades na contagem de votos que elegeu rival Pedro Castillo


A candidata à eleição presidencial no Peru Keiko Fujimori denunciou irregularidades na contagem dos votos e acusou o partido de seu adversário, Pedro Castillo, de "boicotar a vontade popular". Mas nem as autoridades eleitorais, nem as missões de observação externa, têm registros de fraude.

"Percebemos que houve uma estratégia por parte do Peru Livre para distorcer ou atrasar os resultados da vontade popular, e me refiro ao processo de impugnação das urnas, onde a maior parte dessas impugnações, sobretudo, buscam impedir que as urnas que têm mais votos para o Força Popular não sejam contadas", denunciou Keiko em entrevista coletiva um dia após a votação. Em seguida, citou "sinais de fraude na mesa".

Peru Livre é o partido de Castillo e Força Popular, o de Keiko. Ela anunciou que solicitaria a anulação de 802 urnas ao Júri Nacional Eleitoral (JNE). O anúncio foi feito na noite de ontem, quando o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) já tinha 99,1% dos votos contabilizados.

Até 7 de junho, o JNE havia registrado 148 ocorrências durante a votação, como propaganda ilegal, marcações a favor de candidatos nas cabines, eleitores que se recusaram a participar das assembleias de voto, entre outros. "Há incidentes que são relatados, mas que não significam fraude, de forma alguma", disse uma assessora de comunicação da JNE ao AFP Fact Check em 9 de junho, acrescentando: "Fraude é quando atos sistemáticos e premeditados têm efeito direto na votação, o que não existe".

Casos relatados

Eleitores recorreram às redes sociais para denunciar supostas irregularidades, como a de um representante do Peru Livre que teria marcado 87 cédulas a favor de Castillo.

A pessoa envolvida foi detida em uma seção eleitoral no distrito de Carabayllo, em Lima, e o Onpe substituiu as cédulas que encontrou em seu poder por novas.

Em 7 de junho, o Onpe afirmou que esses votos não foram assinalados no campo Peru Livre. O Ministério Público garantiu que a pessoa assinalou "87 cédulas de voto com inscrições fora dos símbolos e fotografias dos candidatos" e que será investigada em liberdade.

A mídia peruana noticiou que em Tumbes (norte) um representante do Força Popular marcou três notas de voto a favor de Fujimori. Como no caso anterior, o Onpe garantiu que essas cédulas foram substituídas, que a mulher foi presa e que o caso seria investigado.

Nas redes sociais, foi reportado que cédulas foram marcadas a favor do Peru Livre na cidade de Chiclayo, onde a mesma medida foi tomada.

Autoridades e observadores 

Susana Vital, gerente de comunicação do Onpe, confirmou à AFP que os casos denunciados na imprensa estão em poder do Ministério Público.

Com 99,9% dos votos processados, os Júris Especiais Eleitorais (JEE) continuaram a analisar nesta quinta-feira 684 votos observados enviados pelo Onpe. Essas entidades, sessenta no total, decidem em primeira instância a validade desta ata. Até o momento, decidiram anular 134.

Quanto ao pedido de anulação das 802 urnas, feito por Fujimori, cada registro será analisado por um JEE. A palavra final pertence ao JNE, que analisa as decisões do JEE e proclama o vencedor.

Essas eleições foram observadas por equipes da Organização dos Estados Americanos (OEA), da União Interamericana de Organizações Eleitorais (Uniore) e da organização civil Transparência Peru. Em seus respectivos relatórios, nenhum deles evoca indícios de fraude.

A OEA mencionou que tem conhecimento de incidentes isolados de votos marcados, mas destacou a atuação das autoridades a esse respeito. A Uniore fez sugestões de treinamento para mesa e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Já a Transparência Peru detalhou que de um total de 175 eventos, 10 correspondem a casos de cédulas marcadas a favor de um candidato, três são relativos a marcações nas cabines favoráveis a um partido, entre outras.

A Divisão de Combate à Corrupção do Ministério Público do Peru pediu nesta quinta-feira a prisão preventiva de Fujimori, no âmbito de uma investigação por lavagem de dinheiro ligada ao caso Odebrecht.

A candidata do Força Popular, que neste caso deverá ir a julgamento se não ganhar a presidência, passou um total de 16 meses em prisão preventiva, entre outubro de 2018 e maio de 2020.


AFP e Correio do Povo

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