No fechamento, o dólar encerrou o dia em leve alta de 0,07%
O dólar teve um dia de acomodação ante o real nesta segunda-feira, após cair de R$ 5,45 para a casa dos R$ 5,20 na semana passada. A moeda norte-americana operou volátil nesta segunda-feira, mas entre intervalos estreitos, mesmo com a divisa chegando a cair no exterior, no aguardo da agenda da semana, que inclui a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta terça-feira, e ainda com as mesas mantendo no radar o cenário político em Brasília após o Estadão/Broadcast revelar o caso do orçamento secreto de R$ 3 bilhões do Planalto e com a CPI da Covid em andamento.
No fechamento, o dólar encerrou o dia em leve alta de 0,07%, cotado em R$ 5,2320. No mercado futuro, o dólar para junho cedia 0,21% às 17h35, em R$ 5,2375.
Para o economista e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (BC), na ausência de algum evento inesperado, externo ou interno, a tendência do câmbio é ficar na faixa de R$ 5,10 a R$ 5,20.
Sobre estes eventos ele se refere a algum ruído político em Brasília, ou ainda os rumos da pandemia, que podem comprometer o cenário fiscal. No caso de um agravamento da situação fiscal, ou da pandemia, a moeda americana pode voltar a testar níveis acima de R$ 5,50.
O cenário interno conturbado estava provocando um descolamento do real dos preços das commodities, disse Loyola na tarde desta segunda-feira em live da Genial Investimentos. Normalmente a moeda brasileira se valoriza em períodos de alta dos preços de produtos como soja e minério de ferro, mas até há pouco tempo isto não estava acontecendo. "As razões são todas ligadas ao cenário doméstico, seja o político e de incerteza trazidas pela condução do enfrentamento da pandemia e também pelo imbróglio fiscal", afirmou.
Nas últimas semanas, pós-resolução da novela do Orçamento, Loyola destaca que houve "certa assentada da poeira" na questão das contas públicas.
Nos indicadores desta segunda-feira, o Ministério da Economia divulgou que as exportações começaram maio com fôlego, com superávit comercial somando US$ 2,2 bilhões na primeira semana. Mas os números tiveram efeito limitado no câmbio, em tarde marcada por alta dos juros longos americanos, que pressionou ativos de risco.
Juros
Os juros futuros fecharam o dia em alta, passando a subir à tarde nos vértices intermediários e longos, após terem oscilado em torno dos ajustes anteriores pela manhã. Na primeira etapa, todas as taxas se movimentavam lateralmente na falta de um condutor forte para os negócios vindo do noticiário ou agenda e pela expectativa pelos eventos desta terça-feira - ata do Copom e Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril. À tarde, o aumento da pressão dos Treasuries retirou as taxas a partir de janeiro de 2024 da linha d'água, mas a ponta curta seguiu perto dos ajustes anteriores.
O câmbio continuou bem comportado, mas com efeito limitado sobre a curva. Ao mesmo tempo, os ruídos políticos que cresceram no fim de semana com a revelação feita pelo Estadão/Broadcast do "orçamento secreto" do governo não chegaram a abalar o mercado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,84%, de 4,854% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 8,075% para 8,16%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,71%, de 8,644%.
Quando questionado sobre o que havia piorado o humor dos ativos a partir da última hora da sessão regular, o gerente da Mesa de Reais da CM Capital, Jefferson Lima, respondeu que o mercado local passou a acompanhar os Treasuries na falta de destaques no noticiário. "Não tem mudança de fundamentos", disse.
No exterior, o debate sobre a política monetária norte-americana esquentou após o payroll (dado de emprego norte-americano) bastante fraco na sexta-feira, com análises de que o quadro deve se reverter no curto prazo, o que tem apoiado a movimentação dos títulos americanos.
O yield da T-Note de dez anos voltou a 1,60%. Pesquisa divulgada pelo Centro de Dados Microeconômicos do Federal Reserve de Nova York mostrou que a mediana das expectativas de inflação para daqui um ano nos Estados Unidos aumentou de 3,2% em março para 3,4% em abril, no nível mais alto desde setembro de 2013.
Internamente, o compasso de espera pela ata do Copom na terça ajudou a travar o mercado em boa parte do dia, dada a ausência de consenso na leitura do comunicado da decisão.
"(A ata) pode levar a revisões de quem achou o comunicado mais para o hawk ou mais para o dove", assinalou o Banco Fator, em relatório. Junto com a ata, o IPCA de abril deve orientar o rumo das taxas já na abertura. A mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast é de 0,29%, ante 0,93% em março.
Bolsa
Após abrir em alta, buscando a marca dos 123 mil pontos, o Ibovespa perdeu força na etapa vespertina dos negócios, muito embora com as ações de primeira linha mostrando boa performance em uma semana forte de apresentação de resultados corporativos. Passado o impulso que veio pela alta das cotações do minério de ferro na etapa matutina, a fraqueza dos índices pares em Nova York acabou por determinar o desempenho em torno da estabilidade do principal índice do mercado acionário local.
Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos diz que a Bolsa brasileira está à mercê dos movimentos externos. Mas de uma maneira piorada: "Quando lá fora NY sobe, aqui o Ibovespa sobe um pouco menos. E, quando lá fora cai, aqui no Brasil cai um pouco mais."
Sem um gatilho positivo no contexto doméstico, o Ibovespa não consegue se sustentar por dias consecutivos na marca dos 122 mil pontos.
Na sexta-feira retomou o nível que não era visto desde janeiro, mas na sessão de hoje oscilou novamente para um degrau abaixo. No fim das negociações, chegou a 121.909,03 pontos, em baixa de 0,11%. O giro financeiro foi de R$ 35,8 bilhões.
Segundo Morelli, são muitos os elementos que trazem cautela aos investidores, a começar por questões já conhecidas como economia fraca, os problemas fiscais do País - um quadro que chamou de completamente aberto -, e a CPI da Covid.
"Isso tudo em um ambiente de antecipação das eleições presidenciais, que aumenta em muito o volume de ruídos", afirmou o estrategista, ressaltando os riscos de as reformas estruturais serem prejudicadas nesse cenário.
Analistas da Levante Investimentos acreditam que, muito embora a reforma administrativa possa estar mais desidratada, ela está andando. Nesta semana entra na reta final de tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, com o fim do calendário de audiências públicas e a promessa do relator, deputado Darci de Matos (PSD-PR), de que o parecer da reforma será apresentado.
De acordo com o cronograma estimado pelos líderes, a reforma administrativa deve ser aprovada na CCJ e seguir para uma comissão especial já no mês de maio.
A equipe econômica conta com a apresentação do relatório já nesta semana, o que deve ocorrer e pode renovar os ânimos do mercado em relação ao tema.
Agência Estado e Correio do Povo
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