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sábado, 1 de maio de 2021

Dólar encerra cotado a R$ 5,43, mas abril tem maior baixa mensal desde novembro de 2020

 Nas últimas cinco semanas, a divisa norte-americana acumulou desvalorização em todas elas



O dólar teve queda de 3,5% em abril, a maior perda mensal desde novembro do ano passado. Nas últimas cinco semanas, a divisa norte-americana acumulou desvalorização em todas elas, ajudada pela aprovação do Orçamento de 2021 mantendo o teto de gastos, fluxo externo positivo e perspectiva de alta de juros pelo Banco Central, além da sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que vai seguir com os estímulos monetários. Nesse ambiente, o real teve o melhor desempenho que seus pares. O dólar caiu 2,9% em abril na África do Sul, recuou 0,90% no México e 0,64% na Rússia.

Nesta sexta-feira, o dia foi de perdas para o real, refletindo a força da moeda americana no exterior, a pressão dos comprados (que ganham com a alta da moeda) para a definição do referencial Ptax de abril e um movimento de realização de ganhos após as quedas recentes. Na semana, o dólar ainda acumulou queda de 1,2%.

Nesta sexta, terminou em R$ 5,4320, em alta de 1,79%. O dólar futuro para junho, que nesta sexta passou a ser o contrato mais líquido, subia 1,95% às 17h40, a R$ 5,4510.

O chefe de câmbio da Acqua Investimentos, Alexandre Netto, destaca que o desempenho do real melhor que os pares foi ajudado inicialmente pela sanção do Orçamento pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, com alguns vetos. Isso trouxe algum conforto no lado fiscal, disse ele. No cenário externo, a visão de que a liquidez vai continuar alta por mais algum tempo também foi positivo para as moedas de emergentes.

Pela frente, Netto vê dificuldade de o dólar cair muito mais ante o real. No lado doméstico, há fatores que podem provocar ruídos, como a CPI da Covid, que na semana que vem vai ouvir ex-ministros da Saúde. "A CPI tem potencial para gerar ruído e acaba distraindo um pouco da agenda de reformas", disse o executivo da Acqua. Por isso, o R$ 5,32, que o dólar chegou na mínima de quinta, pode acabar sendo um piso por enquanto. "Os principais fatores estão indicando o real um pouco mais depreciado."

No cenário externo, o evento mais aguardado da semana que vem é a divulgação do relatório mensal de emprego (payroll) dos Estados Unidos, com dados de abril, na sexta-feira, 7. Os economistas do banco Wells Fargo esperam forte criação de vagas, de 1,2 milhão de postos, ajudada pela retirada de parte das medidas de restrição com o avanço rápido da vacinação nos EUA. A taxa de desemprego deve cair para 5,8%. Se confirmados, estes números podem contribuir para valorizar o dólar, na medida em que devem pressionar ainda mais as taxas dos juros longos americanos, que esta semana voltaram a subir, batendo em 1,65% na máxima.

O Bradesco manteve nesta sexta a previsão de dólar a R$ 5,60 ao final de 2021 e 2022. O banco destaca que o fim do impasse do orçamento, a expectativa de normalização de juros e a elevação dos termos de troca abriram uma janela para apreciação do câmbio em abril. "Essa combinação de fatores tem permitido o real fechar uma parte da distância que se formou em relação aos pares e aos próprios fundamentos das contas externas." Para o curto prazo, a alta das commodities e a perspectiva de aumento dos juros "torna o real mais atrativo" que seus pares, destaca o banco.

Juros

Os juros fecharam em alta nesta sexta-feira, pressionados pelo comportamento negativo das moedas emergentes após dados mais fraco da economia da China e firmes da economia norte-americana que fortaleceram o dólar, mesmo num dia de acomodação nos rendimentos dos Treasuries. Internamente, noticiário e agenda não foram capazes de influenciar as taxas e o mercado já começa a se preparar para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima quarta-feira, com o Itaú Unibanco esperando alteração "hawkish" na comunicação dos diretores e manutenção do ritmo de aperto na Selic em 0,75 ponto porcentual.

Com o movimento desta sexta, a curva fecha a semana praticamente no mesmo nível de inclinação visto na última sexta-feira, mas no balanço de abril cedeu em quase 40 pontos-base, muito em função da aprovação do Orçamento de 2021, mesmo com todos os percalços do processo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 4,655%, de 4,622% no ajuste de quinta, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 7,686% para 7,76%. A taxa do DI para janeiro de 2027 terminou em 8,41%, de 8,344% no ajuste de quinta. A inclinação medida pelo diferencial entre as taxas de janeiro de 2022 e janeiro de 2027 fechou nesta sexta em 375 pontos-base, ante 372 pontos na última sexta e 410 pontos no fechamento de março.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, explica que o mercado externo operou nesta sexta com uma certa aversão ao risco, que impulsionou o dólar ante moedas emergentes e principalmente as ligadas a commodities, o que acabou influenciando os Dis.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria da China recuou de 51,9 em março para 51,1 em abril, pior do que a expectativa de 51,6. Por outro lado, o PMI dos EUA, medido pelo ISM, subiu a 72,1 em abril, maior nível desde dezembro de 1983. "Com isso, vemos commodities em baixa e dólar em alta. Os Treasuries estão comportados mas subiram na semana, recompondo parte da queda recente", afirmou.

No BofA Securities, há cautela com os emergentes apesar do Fed ter na quinta se mostrado dovish, "na medida em que a guerra entre o Fed e o mercado continua". Em relatório, a instituição diz estar "adicionando risco seletivamente". "Na América Latina, estamos doadores na ponta curta das curvas do Mexico, Colômbia e Brasil", afirmam os economistas.

Na curva a termo, a precificação para a Selic no Copom de maio é de aumento de 80 pontos-base, ou seja, 80% de chance de elevação de 0,75 ponto e 20% de probabilidade de 1 ponto porcentual, de acordo com o Mizuho.

O Bradesco elevou a projeção para o IPCA de 2021 de 5,00% para 5,20% - perto do teto da meta de 5,25%. Já o Itaú Unibanco disse acreditar que o Copom vai retirar de seu comunicado na semana que vem a menção ao atual processo de ajuste monetário como parcial. "Isto reforçaria ainda mais seu compromisso de perseguir o centro da meta de inflação no horizonte relevante de política monetária e, assim, a ancoragem das expectativas inflacionárias", diz o banco em relatório.

Bolsa

O Ibovespa chegou ao fim da sessão, da semana e do mês abaixo dos 119 mil pontos, um nível acima do qual havia se sustentado nos fechamentos desde 13 de abril. Nesta sexta-feira, acentuou perdas perto do encerramento da sessão, com o dia negativo em Nova York favorecendo realização de lucros em fim de período, o que limitou os ganhos do mês a 1,94%.

Em boa parte do dia, o índice da B3 havia se mantido em faixa estreita, de cerca de mil pontos entre a mínima e a máxima. Ao final, mostrava perda de 0,98%, aos 118.893,84 pontos, na mínima do dia, saindo de máxima na sessão a 120.124,61 pontos, com giro financeiro mais forte, a R$ 41,8 bilhões nesta sexta-feira.

Assim, o Ibovespa emendou a segunda perda diária, agora no menor nível desde 12 de abril, então aos 118.811,74 pontos. Na semana, a perda de 1,36% sucede ajuste negativo de 0,48% na anterior, que havia interrompido série de três ganhos semanais. Na virada para a segunda quinzena de abril, o índice fez uma pausa no avanço que o havia tirado dos 115,2 mil pontos no primeiro fechamento do mês, no dia 1º, para a marca de 121,1 mil pontos no de 16 de abril, recuperando nível não visto desde janeiro. Desde então, nesta segunda quinzena, o índice permaneceu amarrado entre 119 mil e 120 mil pontos, testando os 121 mil nos melhores momentos - na quarta, a marca se sustentou no fechamento pela segunda vez no mês.

Após ganho de 6% em março, o Ibovespa com cautela estendeu a série positiva para abril, praticamente neutralizando as perdas de 4,37% em fevereiro e de 3,32% em janeiro. Apesar da firmeza vista acima dos 119 mil pontos - nível que vinha sendo preservado desde 14 de abril no intradia, data em que retomou o patamar de 120 mil no fechamento -, o índice não tem mostrado fôlego para seguir em direção à máxima histórica dos 125 mil, do fechamento de 8 de janeiro, tampouco parece inclinado a uma realização de lucros aguda, ainda atrasado no ano - nesta sexta retornou a terreno negativo em 2021, em baixa de 0,10%.

Com dólar à vista em queda de 3,49% ao longo de abril, o real foi destaque positivo em relação aos emergentes, observa Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest. "A gente entende que a melhora se deve à expectativa de avanço das reformas e de crescimento econômico para nossos principais parceiros, Estados Unidos e China. Considerando o cenário incerto da economia brasileira, não sei se teremos desempenho tão positivo nas próximas semanas. No ano, ainda estamos na lanterna, patinho feio entre os emergentes (no câmbio)."

Em abril, em dólar, o Ibovespa foi a 21.887,67 pontos, comparado a 20.721,62 no encerramento de março, quando o dólar havia acumulado alta de 0,41% e o Ibovespa, de 6% no mês. No fechamento de 2020, o índice da B3 em dólar estava em 22.937,77, vindo de 20.368,35 pontos no encerramento de novembro.

"Seguindo o movimento de correção das bolsas americanas e também dos contratos futuros de minério de ferro (-4%), o Ibovespa encerrou o mês abaixo dos 121 mil pontos, que será a principal resistência de curtíssimo prazo para maio", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, chamando atenção para as empresas ligadas às commodities metálicas (Vale ON -2,62% na sessão), "com os investidores receosos por investida do governo chinês em controlar preços e restringir a produção de aço".

"Vale destacar também o desempenho aquém do esperado para o PMI industrial chinês", acrescenta o analista. "Ainda é muito cedo para falar em desaceleração do forte ritmo visto no primeiro trimestre, mas, com os preços das commodities na máxima, qualquer dado abaixo do esperado motiva uma correção."

Nesta sexta-feira, o setor de siderurgia, assim como Vale, esteve entre os destaques negativos do dia, com perdas de até 3,40% (Gerdau PN) na sessão. Na ponta positiva do índice, Pão de Açúcar subiu 4,30%, à frente de Raia Drogasil (+3,99%) e de Natura (+2,89%) no fechamento desta sexta-feira. Na face oposta, Braskem cedeu 6,90%, Azul, 4,21%, e CVC, 4,12%.

Agência Estado e Correio do Povo

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