segunda-feira, 12 de abril de 2021

IPCA sobe em março e fica em 6,10% em 12 meses

 por Eduardo Cucolo e Fernanda Brigatti

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Alta foi puxada por gasolina, que está em elevação há 10 meses; índice supera teto da meta de inflação

SÃO PAULO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,93% em março e alcançou 6,10% em 12 meses, valor superior ao teto da meta para 2021. A meta de inflação deste ano é de 3,75%, com limite de 5,25%.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em fevereiro, a inflação ficou em 0,86%. Em março do ano passado, em 0,07%.

Os economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus projetavam um IPCA de 1% neste mês, considerando a mediana das projeções nos últimos cinco dias úteis até a semana passada. A expectativa é de queda nos próximos resultados mensais, para 0,42% em abril e 0,29% em maio. 

Em 12 meses, no entanto, o índice de preços continuará a subir até o meio do ano e deve superar os 7%, para depois cair e fechar 2021 em 4,81%, segundo a projeção na Focus. O BC prevê um IPCA de 5%, diz que há risco de estouro da meta e já voltou a subir a taxa básica de juros por causa da inflação.

A inflação ao consumidor de março é a maior para o terceiro mês do ano desde 2015, quando ficou em 1,32%. Em 12 meses, o resultado é o maior desde dezembro de 2016 (6,29%).

Entre os produtos que mais subiram no período estão os combustíveis e os alimentos, principalmente derivados de soja, carnes, leite, arroz e feijão, além de alguns bens industriais.

Em março, a alta de preços de gasolina, diesel, etanol, botijão de gás e energia elétrica residencial responderam por quase 100% da variação mensal. Juntos, os grupos de despesas com transporte e habitação, aos quais esses produtos e serviços pertencem, avançaram 0,89% –o índice geral foi de 0,93%.

A gasolina está em alta há dez meses, segundo o IBGE. Nesse período, o combustível acumula elevação de 42,39%. Somente no mês de março, a alta foi de 11,26%. No mês, o óleo diesel subiu 12,59%, e o etanol, 9,05%.

Além de estarem em elevação, o que esses itens têm em comum é que todos são preços monitorados –por empresas estatais, como é o caso de gasolina e gás de botijão. A energia elétrica está sujeita ao sistema de bandeiras tarifárias, que aumenta a cobrança por quilowatt-hora (kWh) quando a geração fica mais cara.

Em março, o botijão subiu 4,98% e acumula alta de 20% em um ano. A energia elétrica subiu 4,57% em 12 meses.

Os alimentos, principais responsáveis pela escalada da inflação no ano passado, começaram a registrar desaceleração. Em março, esse grupo de despesas registrou variação de 0,13%.

Para o gerente do IPCA, Pedro Kislanov, a velocidade menor da alta de preços pode ter relação com o fim do auxílio emergencial, que reduz o poder de compra das famílias, mas também com o recrudescimento das medidas de restrição à circulação de pessoas devido à piora da pandemia, e com a demanda menor por esses produtos.

“As pessoas compram menos alimentos perecíveis em momentos assim. Compram mais aquilo que é possível estocar. Além de questões sazonais, você tem uma demanda menor por alimentos, especialmente os mais perecíveis”, diz.

Produtos com peso nesse grupo de despesas registram queda de preços em março. Foi o caso de tomate (-14,12%), cenoura (-9,40%) e batata inglesa (-8,81%), todos relacionados a questões sazonais, como a maior disponibilidade no mercado.

Arroz e óleo de soja, dois vilões da inflação até dezembro, começaram a registrar recuo de preços. No mês, o cereal recuou 2,13%, e o óleo, 2,30%. Em 12 meses, porém, o arroz ainda acumula alta de 63,56%, e óleo de soja, 81,73%.

Indicadores de inflação que medem preços no atacado, com os IGPs (Índices Gerais de Preços da FGV), já acumulam alta de 8% no ano e 30% em 12 meses até março. No caso do IPCA, que mede os preços ao consumidor, a baixa inflação de serviços ajuda a segurar o índice.

O governo chegou a anunciar medidas para tentar conter a escalada dos alimentos e combustíveis, mas os impactos foram pequenos. Nas últimas semanas, alta do custo de vida é tema de campanhas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas redes sociais.

No mês passado, a Petrobras anunciou duas reduções no preço da gasolina e um do diesel em suas refinarias. Como os preços dos combustíveis no Brasil são livres, os repasses aos postos dependem também de outros fatores, como tributos, custos para aquisição de etanol anidro e biodiesel e margens de lucro de distribuidores e revendedores.

A alta da inflação corrente tem elevado as expectativas dos economistas para o IPCA e já levou o Banco Central a aumentar a taxa básica de juros, que passou de 2% para 2,75% ao ano em março. A instituição já sinalizou nova alta na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de maio.

Para o Comitê, com o avanço da vacinação, o segundo semestre do ano pode mostrar uma retomada robusta da atividade. Os efeitos mais fortes de uma alta de juros na economia aparecem em um período de seis meses a um ano.

Além disso, o BC avalia que a demora na normalização das cadeias produtivas pressionaram custos de produção e geraram um choque de demanda [maior consumo].

O BC também avalia que o efeito do fim do auxílio emergencial na economia, que só foi retomado nesta semana, mas com valores inferiores aos de 2020, foi menor que o esperado.

Na quarta-feira (7), o Bank Of America revisou a projeção de inflação deste ano de 4,6% para 5,2%. Para a instituição, pressões de alta para o IPCA advindas da inflação global, a desvalorização do real e riscos fiscais aumentam as expectativas de inflação para o Brasil. Por outro lado, o ciclo de alta de juros em curso, um mercado de trabalho fraco e um PIB bem abaixo do seu potencial devem limitar a inflação em 2022.

Relatório do Goldman Sachs divulgado nesta sexta considera que a inflação no Brasil está sob controle, mas que "as dinâmicas recentes", como o aumento dos preços de combustíveis, exigem "monitoramento próximo". O banco norte-americano diz que, em sua avaliação, o principal risco atual para a inflação é financeiro e de custos, e não de demanda.

Fonte: Folha Online - 09/04/2021 e SOS Consumidor


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