O acesso pleno aos alimentos deixou de ser realidade para mais da metade das famílias, durante a pandemia.
Nos supermercados da periferia de Campo Grande, quem ainda não cortou o arroz e feijão do prato já opta pelo mais barato ou tenta substituir por outro alimento. Mesmo com as mudanças, o preço final da compra não cai, ao contrário da qualidade da refeição, já que renda das famílias reduziu.
Desempregada, Renata Zório, 30 anos, mantém a casa com a renda só do marido. Responsável pelas compras da família, ele viu as compras reduzirem pela metade. “Tudo está muito caro. Não vemos mudança no preço. A gente tenta trocar uma coisa pela outra, por exemplo, arroz por macarrão, e continua caro, porque o macarrão também está alto”, relata.
A qualidade do feijão comprado mudou desde o início da pandemia e, segundo a dona de cada, “o mais barato não é o melhor”.
Diante da redução no poder de compra, o que é resta é peregrinar atrás do menor preço, o que muitas vezes não representa economia. “A gente precisa sair pesquisando e comprando cada vez num lugar diferente. Às vezes você encontra promoção no lugar e no outro dia já não tem mais. Então, acaba gastando com gasolina também. O salário não aumenta”, queixa-se.
Na casa de Benedita dos Santos, 72 anos, o feijão ainda dá para cozinhar, mas a quantidade já não é a mesma e quando tenta economizar, a diferença quase nunca passa de R$ 2. “Muito caro. A gente tenta diminuir um pouquinho, mas isso também é difícil. É a base. Cortamos uma coisa ou outra para ver se conseguimos comprar esse”, explica.
Doméstica, Dilma Costa Da Silva, 52 anos, lembra com saudade de quando a família comia mais de 30 quilos de arroz no mês. O pacote de cinco quilos chegou a custar R$ 40 durante a pandemia.
“Agora estamos diminuindo para poucos pacotes. Não tem como manter. É tudo muito caro, mesmo sendo o que a gente mais come. O feijão também está nessa linha. E a gente não vê melhoras”, lamenta.
O corte também chegou na dispensa da aposentada, Maria Divina, 71 anos. “Por enquanto estou tentando manter o mesmo consumo, mas tem sido difícil. A gente realmente precisa cortar tudo que pode porque nosso salário continua muito baixo. Você olha os preços no mercado, de tudo, e segue alto. O jeito é ficar buscando promoção”.
Dilma lembra com saudade de quando a família comia mais de 30 quilos de arroz.
Aumentou – Pesquisa Nacional de Cesta Básica, referente a março, e divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) apontou aumento no valor médio do quilo do feijão em 13 das 17 capitais pesquisadas.
As altas se devem ao controle de parte da oferta pelos produtores, para que não houvesse queda nos preços, no entanto, a demanda seguiu baixa, em virtude da redução na renda das famílias. O feijão preto aumentou devido à valorização do dólar em relação ao real.
No período, na Capital, foi registrada queda no preço do feijão (-3,89%), um dos itens mais importantes da cesta básica.
Sem acesso - Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), apontou que mais da metade da população brasileira não tem acesso pleno e permanente a alimentos.
O levantamento, feito em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, em áreas urbanas e rurais, entre 5 e 24 de dezembro de 2020, aponta que em 55,2% das casas os habitantes conviviam com a “insegurança alimentar”, ou seja, sem acesso permanente aos alimentos, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%).
Em números absolutos: no período abrangido pela pesquisa, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos.
Fonte: Campo Grande News - 08/04/2021 e SOS Consumidor
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